Se alguém tivesse saído de Lisboa em 2021 e regressasse agora, qual seria a grande diferença em que iria reparar?Diria que uma pessoa que voltasse três anos depois veria muitas diferenças na nossa cidade, umas mais nítidas e outras mais profundas. Veria que os mais jovens e os mais idosos não pagam nos transportes públicos. Somos das poucas capitais, além da Cidade do Luxemburgo, que é muito mais pequena do que Lisboa, e Tallinn, na Estónia, com transportes públicos gratuitos. É uma mudança brutal e daquelas que muitas pessoas na rua, sobretudo as mais idosas, me agradecem. Como também me agradecem porque em 2021, quando iam ao Museu da Cidade ou a um equipamento municipal, tinham de pagar e agora não pagam. Esse tipo de medidas tem impacto muito profundo porque são medidas que, como costumo dizer, entram no bolso das pessoas. Alguém que viesse agora também veria que os grandes cruzeiros que chegam a Lisboa começaram a pagar taxa turística. E que a taxa turística duplicou em Lisboa, e esse dinheiro vai para a limpeza da cidade, para os espaços verdes e para os lisboetas. Acredito que o turismo é muito importante para a economia, mas o turismo tem de contribuir para a vida da cidade. Sobretudo, veriam que a criação de emprego nestes três anos foi profunda graças à inovação. Ganhámos a Capital Europeia da Inovação, mas mais importantes foram as empresas que atraímos. Muitos ridicularizaram a ideia da Fábrica de Unicórnios, mas atraímos, além de 12 ou 13 unicórnios - acho que já são 14 -, muitas empresas.Há quem diga que a Fábrica de Unicórnios tem ainda muito caminho para fazer.Com certeza.Houve uma entrevista do presidente do Taguspark que dizia que lá era o centro da inovação.Fizemos um projeto reconhecido não só pela União Europeia, mas mundialmente, e em que unicórnios de todo o mundo se quiseram instalar em Lisboa. Mas fico muito contente que em Lisboa, e à volta de Lisboa, em todos os parques tecnológicos e também em parques de escritórios, haja inovação. São boas notícias para a cidade e para a área metropolitana. Agora, essas empresas produziram mais de 15 mil empregos. São empregos do futuro, na área tecnológica, muitas vezes no cruzamento com a cultura, de empresas que vieram trazer uma nova vaga de desenvolvimento àquilo que tínhamos vivido durante anos, que era sempre a ideia das startups. O que a Fábrica de Unicórnios traz, como esses parques tecnológicos que refere, é passar das startups para as empresas de grande crescimento, chamadas em inglês de scale up, com esse ganhar de escala. Éramos um país em que nos focávamos só nas pequenas empresas, que são importantes, mas têm de crescer. E é esse o caminho a fazer.É uma espécie de fixação pelos pequeninos.Acho que tinha de se começar por algum lado e, portanto, começou-se pelas chamadas startups, mas não se pode ficar 20 anos a falar de startups. Aquilo que tentei fazer foi mudar a conversa, de certa forma mudar o esquema de pensar apenas em dar financiamento aos pequenos, passando a dar financiamento a pequenos que estão a crescer. E foi o que aconteceu, com a criação destes quase 15 mil empregos em Lisboa, através destas empresas. Dou exemplos como a Critical Techworks, que é uma empresa da Critical Software com a BMW, que criou 1500 empregos no Parque das Nações, onde toda a parte tecnológica dos automóveis da BMW é produzida. Assim como outros parques de que estava a falar, a Fábrica de Unicórnios trouxe muitos outros que vieram a jogo. Empresas como a Deloitte, que está a fazer um parque no Largo do Rato para duas mil pessoas. E tantas outras, como a Microsoft, que veio fazer unicórnios de Inteligência Artificial em Alvalade.Onde é que a Web Summit se encaixa nisto? Se for reeleito para um segundo mandato vai tentar mantê-la em Portugal para além do prazo que está contratado?A Web Summit foi, e é, muito importante para a cidade, mas é um evento. Queria mostrar que a cidade não vive só de eventos. Era preciso criar condições para as empresas cá ficarem. Gosto muito da Web Summit e continuo a apostar na Web Summit. O contrato vai até 2028. Não vou negociá-la aqui na entrevista. Tenho de negociar com eles. Penso que é um evento muito importante para a cidade, sem dúvida, mas há que criar emprego em Lisboa e contribuir para o estado social local. Daí ter tido a ideia da Fábrica de Unicórnios, em que ao lado temos um centro de acolhimento para pessoas em situação de sem-abrigo. Como é que podem também ser parte do projeto de Lisboa? Como cuidamos delas? Como é que grandes empreendedores que vêm para Lisboa podem contribuir para a cidade? Tudo isso tem sido o meu trabalho.Há quem diga que a vinda de investidores e profissionais estrangeiros, a que muitos chamam nómadas digitais, também vai contribuir para a gentrificação da cidade e tornar mais difícil a vida de quem já vive cá.Obviamente que é uma preocupação, mas uma cidade tem de ter economia e quando queremos fazer crescer a economia temos de trazer talento. Esse talento obviamente tem impacto no mercado imobiliário, mas o melhor impacto é a criação de emprego, porque precisamos de emprego e qualificado. O turismo é muito importante e cria emprego, mas este talento, esta inovação e esta tecnologia criam emprego de alto nível em termos de qualificações universitárias. Na minha altura, eu era engenheiro e tive de emigrar. Gostava que os que estão cá hoje possam escolher. Se querem ir para fora, vão, mas terem cá emprego é muito importante para a cidade.Admite que a maior falha deste mandato foi não ter conseguido fazer com que a linha ferroviária para Cascais deixe de ser uma barreira entre a cidade e o Tejo?Não é uma falha, porque lutei durante estes três anos para conseguir convencer o Governo e acho que o consegui, finalmente, em dois pontos essenciais. O enterramento da linha era muito caro. Aquilo que eu convenci - e penso que o ministro Pinto Luz pode confirmar que já mandou fazer estudos - é a ligação da linha de Cascais à linha de Cintura. Penso que muitas das pessoas que vêm de Cascais e Estoril não vão para a Baixa; vão, por exemplo, para Entrecampos. O primeiro passo já demos, que era convencer o Governo da ligação à linha de Cintura, e depois disto já podemos discutir o segundo passo, que é ver se podemos transformar a linha que vem de Algés até ao Cais de Sodré num elétrico ligeiro, que seja menos intrusivo e que não tenha aquela barreira da cidade com o rio. A segunda parte foi convencer o Governo de que a linha vermelha do Metropolitano deveria ir até Algés, e não só a Alcântara. Temos estado em grande colaboração com o Governo. Estes passos estão a ser dados agora. Não era em quatro anos que era possível fazer isto, mas para um presidente da Câmara é importante ter estas visões, porque vão construindo o futuro. Estamos a falar de cenários a dez anos, obviamente. O ministro Pinto Luz disse que iriam realmente começar a estudar e garantir que esta linha se possa ligar à Linha de Cintura, permitindo depois - isso já não é o ministro a dizer - que possamos depois repensar toda esta linha, que é uma barreira. Aquilo não é uma linha, é uma barreira. Todos os estrangeiros veem isso, e às vezes nós, lisboetas, já não nos damos conta do que é a barreira que temos ali com o rio.A realização de um referendo ao alojamento local já foi aprovada pela Assembleia Municipal. Tendo em conta o problema de falta de habitação, o alojamento local é realmente uma ameaça ou um bode expiatório?A realidade é simples. Em 2010, quando havia à volta de 500 alojamentos locais, os executivos anteriores não fizeram nenhum tipo de regulação, e em 2019 havia 19 mil. O único Executivo que diminuiu o alojamento local fomos nós. Tivemos uma regra de suspensão, que era mais ou menos só poder haver 2,5 alojamentos locais por cada 100 alojamentos normais. E agora levámos à reunião de Câmara um regulamento que não permite haver alojamento local acima dos 5% no máximo. Estamos a limitar o alojamento local em quase toda a cidade, porque em zonas como Santa Maria Maior, só para ter uma ideia, chegámos ao cúmulo de, quando cheguei à Câmara, haver 65% de alojamento local, ou seja, por cada 100 alojamentos normais, 65 eram de alojamento local. Tivemos de pôr o travão, e penso que este é um regulamento justo, sobretudo para travar o alojamento local nas áreas em que temos em demasia. Não gosto de proibições absolutas, mas acho que estes limites que estamos a fazer são muito corretos, estão dentro daquilo que penso ser importante para a cidade. Mas não podemos também diabolizar, que é uma coisa que a esquerda tem feito. Muitos donos são pessoas que ficaram desempregadas durante a troika, que têm um ou dois alojamentos locais, e é isso que lhes permite ter um salário ao fim do mês. Não se deve diabolizar, mas a atividade deve ser regulada, e é isso que fizemos. O alojamento local é uma forma de democratizar o acesso ao potencial económico do turismo. Isso foi provado durante a crise financeira, foi uma maneira de as pessoas conseguirem ultrapassar os problemas que tinham, que era estarem desempregados. Face ao sonho ridículo de alguns partidos de extrema-esquerda, que é proibir todo o alojamento local, a minha pergunta é simples: hoje 30% dos turistas que vêm a Lisboa ficam em alojamento local, portanto se um dia eu proibisse todo o alojamento local, onde é que iam ficar? Não há sequer capacidade hoteleira para isso... Vivemos num mundo de radicalização total. O mundo político foi dividido, durante centenas de anos, entre esquerda e direita, e agora é dividido entre moderados e radicais, e esses radicais encontram-se na extrema-esquerda e na extrema-direita. É um dos temas que se tentou radicalizar e politizar, e com o qual o PS também se deixou ir. É pena ver o PS a deixar-se ir para o radicalismo da extrema-esquerda, quando era um partido moderado.Isso aconteceu também na questão da segurança?Aconteceu em tantas coisas. Na segurança, diria que é vergonhoso o que vemos. O PS e todos os presidentes da Câmara e primeiros-ministros tiveram ações de segurança como a que vimos no Martim Moniz. E agora vêm diabolizar uma ação de segurança feita pela PSP, com todos os protocolos. Não sou eu que vou comentar uma ação de segurança da PSP, que tem protocolos que devem ser cumpridos - se não são, isso deve ser visto, mas não politicamente. Ninguém fez nada diferente do que tinha sido feito, mas o PS está sempre a diabolizar e a radicalizar. Na segurança e em tantos temas da cidade.O primeiro-ministro admitiu, numa entrevista ao DN, que não gostou de ver a fotografia das pessoas a ser revistadas, encostadas às paredes da Rua do Benformoso. A si, fez-lhe confusão?Não quero entrar nesse debate, porque vejo uma desconexão total entre a realidade que a esquerda sempre teve em Lisboa, com ações exatamente iguais, e uma cidade em que, nitidamente, precisamos de mais segurança. Tínhamos em 2010 oito mil PSP em Lisboa, e hoje temos 6700, numa cidade muito maior e com mais desafios. As pessoas querem segurança. Foi muito interessante ver, nas entrevistas, como as pessoas que andavam por ali estavam contentes por ver a polícia. Está lá para nos defender e infelizmente há pouca polícia em Lisboa. Tenho 400 polícias municipais. Queria ter 600, pedi 200 ao anterior Governo, pedi 200 a este Governo, e deram-me 25. As pessoas na política em geral não têm noção do que está a acontecer na cidade. Há uma preocupação genuína, porque hoje há crimes mais violentos na cidade e as pessoas estão preocupadas. Obviamente que estou a dizer isto, e já sei que há quem vá pegar, mas vivo na realidade das pessoas, que estão genuinamente preocupadas. Não estou a falar do Martim Moniz, estou a falar na cidade em geral, daquilo que me é reportado, e para isso é preciso mais polícia. Em vez de estarmos a comentar ações policiais, que não vou sequer comentar por uma razão - deve ser a própria polícia a avaliar aquilo que fez -, temos sobretudo que dar mais meios à polícia, de pagar melhor aos nossos polícias, que têm salários em que nem sequer conseguem pagar rendas em Lisboa. Não devemos estar a criticar a PSP. Acho isso perigosíssimo para a democracia.E a Polícia Municipal, deve ter outro tipo de competências?Desagradou-me desde o início que a Polícia Municipal fosse vista como polícia administrativa. Não posso admiti-lo, porque a Polícia Municipal tem PSP que são recrutados, portanto estamos a falar de verdadeiros polícias, mas quando apanham um ladrão têm de ficar à espera da PSP. Acho isso inacreditável, e muitos lisboetas dizem-me: “Isso não é verdade. Eles não querem levar para a esquadra.” Não, eles não podem levar para a esquadra porque a lei não o permite. Isto é vergonhoso. Ainda estou à espera da senhora ministra [da Administração Interna], que disse que ia pedir um parecer. Digo isto tomando riscos, mas quero que a Polícia Municipal detenha ladrões quando os apanhar na rua, e obviamente que está preparada para isso. É só uma questão de mudar a lei e, sem dúvida, é uma coisa fácil de mudar. É importante para a cidade, é importante para o país e é importante para valorizar a Polícia Municipal.Tal como o primeiro-ministro diz que Portugal é um dos países mais seguros do mundo, apesar de ser preciso mantê-lo assim, consegue dizer que Lisboa é uma das capitais mais seguras do mundo?Consigo dizer que Lisboa é uma das capitais mais seguras do mundo, mas nos últimos anos tem havido mais violência e mais crimes. Digo isto quando estou no terreno e quando as pessoas me vêm reportar que há dois anos não era assim, há três anos não era assim, e que a falta de polícia é óbvia dentro da cidade. Sim, é uma cidade segura, mas temos de ter muito cuidado para não deixar de o ser. E os sinais que tenho tido nos últimos anos são sinais de insegurança.Dirigentes políticos como André Ventura associam esse aumento de insegurança ao aumento da imigração. Calculo que não seja o seu caso, mas pergunto-lhe: se não considera que os imigrantes fazem parte do problema, como se pode fazer que constituam parte da solução?Em primeiro lugar, obviamente que não faço esse tipo de associações, e nunca o farei. Esse é o perigo do populismo quando temos uma extrema-esquerda que está contra a polícia, e que no fundo acha que a polícia deveria existir, mas em menor grau, e que não deveria atuar. O que é que isso cria? Cria André Ventura. Vamos ser claros: precisamos de mais imigrantes em Portugal, e precisamos mais de imigrantes em Lisboa, porque precisamos de mão de obra. Essa mão de obra, como sempre disse, deve ser acolhida com dignidade, mas para isso é preciso que haja leis e regulamentos em relação à imigração que sejam claros. Para mim, alguém que vem para o país tem que ter uma promessa de trabalho ou contrato de trabalho, porque eu quero, como país, definir se quero mais engenheiros, se quero mais pessoas no turismo ou mais na restauração. Isso para mim é importantíssimo. Não fazemos como fizeram os governos anteriores, que foi não haver política de imigração. O ministro Leitão Amaro teve muita coragem ao acabar com as manifestações de interesse. Não faz sentido aqui, nem em nenhum país. Não acontece em França, não acontece na Suécia, não acontece no Canadá. Nesses países há contingentes escolhidos pelo Governo a cada ano para o que é necessário para o país. Agora, falar de imigração é uma coisa, falar de segurança é outra, e não há ligação entre os dois temas. Há criminosos que são portugueses, outros são estrangeiros, outros são de uma religião, outros são de outra. Como em tudo, não há nenhuma população perfeita.O que é que a Câmara está disposta a fazer, não só para criar condições para que quem vive em Lisboa, sejam portugueses ou imigrantes, tenham melhores condições de acesso à habitação, mas também para que a cidade possa recuperar alguma da população que perdeu para o resto da Área Metropolitana nas últimas décadas?Se há política que realmente tem resultados concretos nestes três anos, tem sido a de habitação. É bom não esquecer que durante 14 anos - são estatísticas do INE, por muito que queiram refutar - os executivos anteriores perderam uma década em que construíram 17 casas por ano. Estava ontem a tomar um café com a minha mulher, e uma senhora disse-me: “Agradeço-lhe, porque já tenho ajuda a pagar a renda.” É um programa em que já temos mil pessoas, e o que fazemos é muito fácil: se a renda que a pessoa paga é superior a um terço do seu rendimento, pagamos a diferença. Por outro lado, das 2300 casas que entregámos, mais de mil estavam fechadas e abandonadas quando chegámos. Houve um papel incrível da vereadora Filipa Roseta, mulher verdadeiramente apaixonada por estes temas. Com as 2300 casas que entregámos, mais as mil famílias que estamos a ajudar, falamos de 3300 pessoas.Acha que a habitação vai ser um dos grandes temas das eleições autárquicas deste ano?Sem dúvida, o tema da habitação é um tema crucial para qualquer eleição municipal ou local. Aquilo que fizemos foi de uma coragem enorme, porque as pessoas falam dos unicórnios, da cultura, da inovação, que são temas que me apaixonam, mas aquilo que investi na habitação não tem paralelo com outro tipo de investimento na Câmara.Acredita que vai ser reeleito?É uma pergunta que não pode fazer agora porque não sou candidato. Sou presidente da Câmara, mas como presidente da Câmara que sou, e que devo continuar a ser, é interessante ver que foram três anos muito difíceis de luta política. Tivemos um PS que começou, de certa forma, por estar em negação quanto à minha eleição. Depois, veio um PS de bloqueio das medidas. Lembro-me do quarteirão da Fontes Pereira do Melo, que está abandonado e em que bloquearam o projeto. Agora o PS decidiu, quase com graça - acho absolutamente alucinante - tentar ser o partido que me bloqueia na secretaria. Tivemos um vereador [Diogo Moura] que voltou hoje, após seis meses fora, em que telefonámos a várias outras pessoas que não o aceitaram substituir e depois nomeámos uma vereadora. Isso já foi dito pelo nosso departamento jurídico, foi tudo bem feito, e o PS diz que fizemos um erro, que convocámos uma vereadora, que não devíamos ter convocado. Se houver algum erro, resolve-se.Falando do PS, fica tranquilo por Duarte Cordeiro e Marta Temido parecerem estar fora da disputa autárquica deste ano?Ainda estamos a uma distância muito grande das eleições Autárquicas, mas compreendo que haja uma grande ansiedade do lado do PS, revelada por estes casos de tentar combater-me na secretaria e tentar derrubar o presidente da Câmara. Penso que o PS não sabe muito bem quem vão ser os candidatos. Fala-se de candidatos, mas isso para mim, neste momento, está muito longe.Alguns nomes já estão a ser testados em sondagens internas.Conhece os resultados? Pode dar-me alguma informação, mas sinceramente nem estou interessado. Um dos problemas da política em Portugal, e é por isso que as pessoas estão cansadas, é que os políticos estão sempre a pensar no próximo posto e nas próximas eleições. Eu próprio fico chocado, porque estamos em janeiro e há eleições em setembro. O PS está numa ansiedade muito grande, porque no fundo nunca conseguiu digerir que ganhei as eleições. Quando olho para o PS de Mário Soares e olho para este PS é triste, porque vejo uma radicalização. Deixou de ser um partido moderado, que foi durante tantos anos um pilar tão importante para a nossa sociedade.Desde 2021 houve várias mudanças a nível nacional, nomeadamente a ascensão do Chega e da Iniciativa Liberal. Nas próximas Autárquicas admite a possibilidade de ter pelo menos um destes partidos na sua coligação, nomeadamente os liberais?Repito que não sou candidato, mas vou-lhe dizer uma coisa interessante sobre Lisboa. Como todos sabem, nunca tive qualquer aproximação ao Chega. Ou seja, não disputamos o mesmo eleitorado.Mas também são lisboetas.São lisboetas e tenho muito respeito por esses eleitores, porque penso que a maior parte das pessoas que votam no Chega fazem-no por desespero em relação ao sistema político. Mas é interessante ver os resultados das últimas Legislativas. Aquilo que se vê é que o Chega e o PS disputam o mesmo eleitorado em Lisboa. O Chega teve 11% dos votos na cidade, menos do que a nível nacional - e ainda bem. Onde é que teve 20%? Em freguesias socialistas, como Marvila e Santa Clara. Nas freguesias onde ganhei, teve abaixo de 10%, e aquilo que concluo é que o Chega e o PS disputam o mesmo eleitorado em Lisboa. Deixava isto como um aviso à navegação. Vejo que a política se radicalizou e são os moderados que têm de agarrar o sistema. Quando dizemos que o Chega e o PS disputam o mesmo eleitorado, é porque o PS radicalizou, porque o Chega sempre foi radical, não é? No caso da IL é diferente. Tive grande respeito pela IL desde o início. A IL é que fez um erro: nas eleições em que me candidatei decidiu não me apoiar. Acho que isso foi um erro na altura, portanto é a única coisa que tenho a comentar.O CDS e a IL são compatíveis numa coligação com o PSD em Lisboa?O CDS é um partido muito importante a nível local e ainda com implantação muito boa a nível das freguesias. Aquilo que represento na moderação é representado por todos os partidos que me acompanham, em especial o CDS, mas tenho enorme respeito pela Iniciativa Liberal. Obviamente que tenho um lado muito social, aliás, sou muito mais da área social do que outros presidentes da Câmara, porque apostei muito nessa área. O plano de saúde mais de 65 anos, e todas as medidas da habitação, são medidas sociais, mas acho que a Iniciativa Liberal tem também políticas muito interessantes em termos económicos. Mas repito que não sou candidato.Que avaliação faz do desempenho do primeiro-ministro e da sua equipa neste primeiro ano de Governo?Penso que excedeu as expectativas em vários aspetos. Um deles é a sua própria postura, a utilização da palavra, a institucionalidade que traz ao cargo, a sua maneira resiliente e serena. São qualidades muito importantes como primeiro-ministro, conhecendo a dificuldade que foi para mim em governar em minoria numa câmara municipal, e a dificuldade que é para ele a situação parlamentar. Transformou-se muito com os 50 deputados do Chega, e há uma grande dificuldade em governar. Dentro das condições que tem, acho que excedeu as expectativas de todos.Olhando para depois das Autárquicas, temos as Presidenciais. Num momento em que parece evidente que Passos Coelho não quer ser candidato, e em que existe a possível disponibilidade de Marques Mendes, admite que existem condições para o PSD apoiar uma candidatura presidencial de Gouveia e Melo, na segunda ou na primeira volta?Não me vou pronunciar sobre as eleições Presidenciais. Acho que só me devo pronunciar quando os candidatos assumirem sê-lo. São eleições unipessoais, e o PSD e a área que represento tem bons candidatos, o que é bom sinal para a democracia. Mas não quero condicionar ninguém. Toda a gente conhece a minha amizade com Luís Marques Mendes, mas não é o momento de estar a fazer qualquer afirmação sobre isso.