Exclusivo Carlos Maria Bobone: "Um sistema político não é só uma teoria sobre quem governa"
Alfarrabista na Livraria Bizantina, em Lisboa, Carlos Maria Bobone lança agora Monarquias: História, Doutrinas e Heranças. O DN esteve à conversa com o autor, que explicou a intenção por trás desta publicação e olhou para a sociedade atual, que, entende, tem mais traços monárquicos do que aquilo que se possa pensar à primeira vista.
No seu livro, refere que existem cerca de 40 monarquias a nível mundial. Então, porquê escrever sobre monarquias numa altura em que este regime está em clara desvantagem perante a República?
Embora a monarquia decresça nominalmente, ou seja, há muito poucos regimes a que se chamam monarquias, o que me interessava era uma coisa ligeiramente diferente, que é a monarquia como o governo de um só. Este governo é muito mais elástico do que aquilo que parece. Quer dizer, quando no século XVIII ou XIX se pensava em democracias, pensava-se em decisões colegiais. Hoje em dia, uma democracia serve, maioritariamente, para eleger um governante que é, ele próprio, um só. O que acaba por acontecer é que temos, sob outro nome, uma série de monarquias no sentido clássico do termo. Não são hereditárias, é verdade, mas são monarquias.
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Ou seja: há aqui ligações entre as repúblicas atuais e as monarquias, é isso?
Sim. É até um bocadinho mais do que isso. Quer dizer, a ideia de governo de um só é uma coisa que está presente, que é quase incontestável hoje em dia. Não há países que decidam maioritariamente, por colégios. Não há governos executivos que sejam exatamente democráticos. Por isso, a monarquia, no sentido clássico do termo, não decresceu e não está invalidada. Recuperou, até. E isso era uma coisa que me parecia interessante. Por outro lado, já assistimos, noutros tempos da História, à destruição nominal da ideia de monarquia. Os vários reis de Roma, por exemplo. Depois, quando é estabelecida a República, a monarquia, como ideia e nome, desaparece e é desaprovada o tempo todo. Mas acaba por regressar no Consulado [da Revolução Francesa], e isso também é interessante: uma ideia política nunca está exatamente morta. Era isso que me interessava. Ver como é que esta ideia persiste, como é que se infiltra sob outros nomes, sob outros processos, naquilo que é uma vida contemporânea que parece ter rejeitado completamente esta ideia de monarquia.