Bugalho acusa Pedro Nuno Santos de não estar “apto a liderar um partido na Europa”
A intervenção do eurodeputado eleito pela AD Sebastião Bugalho na Universidade de Verão do PSD teve a Europa como mote principal, mas conseguiu agregar críticas ao líder do PS, Pedro Nuno Santos, e cumpriu o desígnio de reduzir a família política do Chega no Parlamento Europeu - o grupo Patriotas da Europa - a uma mera existência: “Não contam, não influenciam”.
Tudo aconteceu esta terça-feira, no segundo dia da segunda rentrée social-democrata, que, como é habitual, decorre em Castelo de Vide, no Alentejo.
“Nós, portugueses, podemos ter alguma vantagem no meio da instabilidade dos outros”, vincou o eurodeputado durante uma aula cheia de jovens, referindo-se à posição estratégica do país no contexto europeu.
De acordo com Sebastião Bugalho, se “existe instabilidade alheia”, mais vale “tirar partido dela”.
Para fundamentar a sua tese, o social-democrata enalteceu “a estabilidade” do “sistema político”, que é visível, defendeu, de acordo com “as últimas eleições europeias”.
“Os dois partidos fundadores da democracia [PS e PSD] tiveram mais de 30%, as forças europeístas elegeram, salvo erro, 17 dos 21 eurodeputados”, sublinhou, acrescentando que foram mantidos “os princípios fundacionais da nossa democracia: O europeísmo, o liberalismo, os nossos princípios constitucionais.”
Para além desta vantagem, que Sebastião Bugalho disse ser própria de Portugal, há outra: “Neste momento, há uma sensibilidade que é portuguesa e pró-portuguesa na União Europeia.”
O social-democrata, para sustentar esta ideia, lembrou que “a presidente da Comissão Europeia [Ursula von der Leyen] é uma amiga de Portugal”, considerando que, “quando tomou posse na sua reeleição” fez “uma referência discreta ao 25 de Abril, falando de cravos em espingardas. A presidente da Comissão Europeia gosta de Portugal, veio ao encerramento da campanha da Aliança Democrática em Portugal”, destacou.
Por oposição à estabilidade da democracia portuguesa, Sebastião Bugalho evidenciou a instabilidade de outros países. “Quando olham para a Alemanha, quando olham para a Holanda, não existe esta estabilidade do ponto de vista democrático”, sustentou, advertindo que “os sistemas partidários ou políticos estão espartilhados, estão fragmentados. Há uma ascensão de partidos extremistas, contestatários desse regime constitucional de cada país. Vemos isso em França. Vemos isso na Alemanha, que precisa de uma coligação a três para conseguir governar”, explicou.
“Em Portugal isto não acontece”, afirmou, apontando como sintoma desta ideia o facto do Chega, “a força mais à direita do hemiciclo” português, ter reduzido “para metade a sua votação” nas eleições europeias, em março, face às legislativas.
Por oposição, “o maior grupo político [no Parlamento Europeu, o maior partido na Europa neste momento, foi, aliás, a única família na Europa que cresceu, das famílias europeístas. A única que ganhou eurodeputados foi o PPE [Partido Popular Europeu]”, a família política do PSD e do CDS.
Sebastião Bugalho elencou o número dos deputados eleitos para o PPE e sublinhou que é neste grupo que “se decidem as coisas” na Europa.
Em relação ao grupo que o Chega passou a integrar este ano, Sebastião Bugalho teve uma palavra de desvalorização. “Nesses grupos políticos e nesses partidos não se decide nada na Europa. No grupo da senhora Le Pen e do senhor Orbán não se decide nada na Europa. Não têm presidentes de comissão, não têm presidentes de delegação. Têm 84 eurodeputados, é verdade, mas não se decide nada, não contam, não influenciam. Existem. Eles nem sequer ligam muito àquilo”, rematou.
Quanto ao PS, as críticas mudaram de tom para o eurodeputado, começando logo por afirmar que, apesar de não concordar “com os nove anos da sua governação”, o ex-primeiro-ministro, António Costa, é “obviamente amigo de Portugal”, agora na qualidade de presidente eleito do Conselho Europeu.
Para construir a crítica, Sebastião Bugalho lembrou as palavras de Pedro Nuno Santos, “o líder do segundo maior partido português”, quando afirmou que “António Costa é o primeiro presidente do Conselho Europeu com peso político”, “esquecendo-se que António Costa estará sentado no Conselho ao lado do senhor Donald Tusk que foi Presidente do Conselho Europeu e acabou de tirar a extrema direita no poder na Polónia coligado com socialistas e progressistas polacos”.
“Não leu os jornais? Esqueceu-se? Não se apercebeu?”, questionou o eurodeputado de forma retórica, apontando que “nenhuma das três [hipóteses] seria um bom sinal para alguém que tem que liderar o segundo maior partido português. Nenhuma das três seria um sinal de alguém apto a liderar um partido na Europa dos dias de hoje.”