Bruno Gonçalves. O jovem “que queria mudar alguma coisa” e vai reunir-se com Guterres
O objetivo é claro: debater formas de erradicar a pobreza e perceber como pode a juventude contribuir para isso através de soluções inovadoras, focando-se também nos objetivos da Agenda 2030. E entre terça e quinta-feira é esse o objetivo da discussão do Fórum da Juventude 2024, que acontecerá durante o Conselho Económico e Social das Nações Unidas (ECOSOC) na sede da organização, em Nova Iorque.
Presente estará Bruno Gonçalves, o jovem português que, desde 2021, é secretário-geral da União Internacional de Juventudes Socialistas (IUSY, na sigla original), instituição que alberga “mais de 10 milhões de membros diretos e indiretos”.
A vontade de se envolver civicamente e de tentar fazer a diferença não é nova. Vem “desde que era muito novo”. “Queria mudar alguma coisa na escola e depois queria mudar alguma coisa na minha cidade”, explica. E para isso achou que o lugar certo era nas fileiras da Juventude Socialista (JS). “Lembro-me de que, desde muito jovem, havia um tema muito sensível: o conflito israelo-palestiniano e, depois, o conflito israelo-árabe”, recorda.
Ao olhar para a História, encontrou o seu lugar depois de “entender o papel que o sociais-democratas tiveram ao longo de toda a História do século XX para resolver problemas de conflito e, sobretudo, para promover a paz” na região.
Filiado “há mais ou menos 10 anos” na JS, Bruno Gonçalves é também “ativista e eleito numa Assembleia Municipal”. Agora, na antecâmara do Fórum em que estará presente, diz ao DN que, de entre todos os temas em discussão no encontro, erradicar a pobreza é o mais importante. “A pobreza que hoje existe é tanto de quem não trabalha como de quem trabalha. Continua a existir uma enorme disparidade no mundo, tanto entre os que se tem acentuado com diferentes crises a nível mundial”, diz.
É, por isso, necessário “voltar a deixar bem claro que o acesso de diferentes pessoas, de diferentes comunidades, de diferentes grupos a uma vida digna está muito longe da realidade”. E, depois, Bruno Gonçalves olha para a “redução das desigualdades” como a segunda prioridade. Essas desigualdades “têm-se agravado porque, muitas vezes, tem-se sido incapaz”.
E, na opinião de Bruno Gonçalves, estas desigualdades acabam por “definir, sobretudo, a liberdade de cada indivíduo de se poder realizar”. “Os jovens hoje são menos capazes de se realizarem, também, porque têm menos liberdade económica, menos acesso a recursos”.
E é devido a isto que “a extrema-direita, em Portugal e no mundo, diz que a Agenda 2030 é o pior que o mundo já viu”. Para esse lado do espetro político, analisa Bruno Gonçalves, “temas como o combate às alterações climáticas devem ser uma urgência completamente contrária àquilo que se tem definido”. “Acho que até a extrema-direita que diz, abstratamente, que a Agenda é um grande problema, provavelmente concordaria que quase todos os desígnios de objetivos e subobjetivos que ela define são prioritários até para os seus eleitores”, aponta.
Sociedades menos individualistas
Para combater esses radicalismos, Bruno Gonçalves aponta que “a sociedade deve ser mais coletiva”. “A política tem sido, ao longo de alguns séculos a esta parte um instrumento que temos para fazer acreditar às pessoas, para fazer acreditar à sociedade civil, que o mundo pode ser melhor. E mais do que vendermos ideologia, a primeira forma de nós protegermos as pessoas e as trazermos de volta a um espírito coletivo de sociedade é fazer com que elas se sintam representadas e fazer com que elas sintam que os serviços públicos atuam para as proteger, mesmo quando elas desconhecem os seus próprios direitos”, reflete o secretário-geral da IUSY.
Além do combate à pobreza, a organização vai levar outra “quatro grandes prioridades” ao Fórum da Juventude: “A questão do apoio humanitário a Gaza e a necessidade de reconhecimento do Estado da Palestina, o apoio à Agenda 2030, e uma última sobre o trabalho na era da inteligência artificial.” A expectativa é que, daqui, confessa Bruno Gonçalves, saiam entendimentos entre as partes, possibilitando “novas leis e novos direitos para os cidadãos”.