António Costa diz que a crise já fez perder 15 mil milhões

O primeiro-ministro estimou que o Produto Interno Bruto (PIB) terá caído 15 mil milhões de euros em 2020 e adiantou que o objetivo agora é pôr a "bazuca europeia a disparar" o dinheiro até junho.
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António Costa transmitiu esta posição em entrevista à TVI, depois de questionado sobre as consequências económicas para o país resultantes de um novo confinamento geral, que poderá durar um mês.

"Estamos a viver uma crise económica à escala global, ao contrário do que aconteceu na crise anterior. Felizmente, as empresas portuguesas têm mostrado muito maior resiliência do que aquilo que se temia no início desta crise", sustentou.

De acordo com o primeiro-ministro, o Governo tem a estimativa de que o PIB caiu 15 mil milhões de euros e que o conjunto das medidas de apoio às empresas e famílias somam nas suas diversas modalidades, entre aumento de despesa e quebra de receita, 22,9 mil milhões de euros.

"Vamos duplicar os apoios de forma a auxiliar as empresas que agora temos de encerrar, e a ministra da Cultura [Graça Fonseca] já apresentou um programa superior a 42 milhões de euros para apoiar diversas situações no seu setor - um dos mais duramente atingidos. Estamos perante uma crise muito dura, em relação à qual tem havido felizmente maior resiliência" do que o esperado, reforçou.

António Costa referiu depois que se sabe que a raiz da atual crise "não está na economia, mas, antes, na saúde", frisando, neste contexto, que "ninguém pode ter a ilusão de que se vai passar por esta pandemia só com danos na saúde e nas vidas".

"Vai ter um impacto muito grande na economia e no emprego. Antes de 2022 não regressaremos ao ponto em que estávamos em 2019, o que significa três anos perdidos", lamentou.

Neste ponto, o primeiro-ministro salientou que "um dos grandes objetivos da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia é conseguir pôr neste semestre a famosa bazuca a disparar, ou seja, o dinheiro a chegar efetivamente aos diferentes Estados-membros".

"Há muito trabalho ainda pela frente", advertiu logo a seguir.

Interrogado sobre a dimensão da dívida pública portuguesa, António Costa começou por alegou que Portugal entrou na atual crise "em melhores condições do que na anterior" de 2010, depois de um excedente orçamental em 2019.

"Podemos encarar com confiança a situação que temos pela frente. Desta vez, a União Europeia reagiu prontamente e, apesar do aumento da dívida e do défice em Portugal em 2020, na quarta-feira conseguiu-se uma emissão de dívida histórica", disse.

António Costa salientou que a emissão de dívida a dez anos feita por Portugal na quarta-feira teve taxa negativa, "o que significa que, fruto da solidariedade europeia e da boa gestão orçamental, os mercados olham para o país de uma forma muto diferente do que na crise anterior".

"Enquanto na crise anterior os juros dispararam, Portugal, na quarta-feira, conseguiu uma coisa histórica: Uma emissão em plena crise com juros negativos", acrescentou.

O primeiro-ministro considerou que se fez tudo o que estava ao alcance para evitar agora um novo confinamento geral e admitiu que as medidas menos restritivas no período de Natal motivaram também comportamentos menos restritivos.

"Acho que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, coletivamente o país, para evitarmos esta situação", declarou o líder do executivo, numa alusão ao crescimento de casos diários de novas infeções com o novo coronavírus e de óbitos por covid-19 em Portugal, sobretudo na presente semana.

António Costa defendeu que o país foi resistindo "à segunda onda" da covid-19 através de confinamentos sobretudo ao fim de semana e admitiu que as medidas menos restritivas aplicadas no período de Natal estão entre os fatores que causaram a expansão da epidemia.

"O facto de não termos medidas mais restritivas no Natal, seguramente, levou também as pessoas a terem comportamentos menos restritivos", disse.

Neste ponto, o primeiro-ministro alegou que o "princípio fundamental, que gerou grande consenso na sociedade portuguesa nessa altura [do Natal], era combinar a responsabilidade individual com a responsabilidade coletiva".

"Não vale a pena revisitarmo-nos no passado e apontarmos uns aos outros os culpados. Se é mais prático dizer que foi o Governo, que fui eu, ficamos com o caso arrumado, mas não resolve o problema. O essencial não é isso. Há outros fatores que os cientistas têm apontado", argumentou o líder do executivo, dando como exemplo a atual "onda de frio".

E, seguida, observou que o ritmo de aumento dos casos de infeção com o novo coronavírus está também a verificar-se em países da Europa que adotaram medidas mais duras no Natal.

"Não há um julgamento coletivo a fazer. Sabemos todos que vivemos sempre num equilíbrio no fio da navalha: Quando aligeiramos as medidas, aumenta a pandemia; quando aumentamos as medidas, atinge-se duramente a economia. Mas privilegiamos sempre a situação sanitária e agora não podemos hesitar", declarou.

O primeiro-ministro referiu-se depois a situações de "memória curta" no plano político, dizendo que ainda há uma semana o PSD dizia que "era preciso alargar o período de funcionamento dos restaurantes das 13:00 para 15:30 aos sábados e domingos".

"Para quem não está ao volante, é muito fácil dar palpites. Há 15 dias a discussão não era sobre qual a razão para não fechar já, mas era sobre a razão de não abrir mais. Convido a ver as declarações que o líder da oposição [Rui Rio] fez", acrescentou.

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