Política
22 janeiro 2022 às 00h01

PS. A campanha não descola e a pista está a acabar. Rio mais próximo de Costa

Nuvens cinzentas sobre a campanha socialista. António Costa forçado a desautorizar insultos a Rui Rio proferidos por uma sua apoiante. Além disso, duas sondagens publicadas nos últimos dois dias coincidiram num ponto: O PS está em perda e o PSD em crescendo.

João Pedro Henriques

Rosa Mota, a maratonista portuense com que os portugueses vibraram, em 1988, ao conquistar, nos Jogos Olímpicos de Seul, a medalha de ouro na maratona, há décadas que participa como independente em iniciativas do PS.

Ontem fê-lo novamente, nos Montes Claros, em Lisboa, num encontro de campanha do líder do PS com personalidades desportivas e culturais. Mas desta vez mão se limitou a ser uma presença simpática e sorridente. Ao falar de Rui Rio, recordando o seu consulado de doze anos como presidente da Câmara do Porto, a antiga atleta não esteve com meias palavras: "Aquela parte, ele é que manda, que é o "nazizinho", e o resto põe de lado. (...) Todas as pessoas que fossem figuras públicas da cidade (...) - somos pessoas queridas, modéstia à parte - para ele, era um terror."

Rio, como não podia deixar de ser, apressou-se a explorar o caso, dramatizando-o: Costa "eleva mais o tom contra o PSD e procura deturpar mais as propostas do PSD" e ontem "chegou ao máximo: chegou a uma sala, meteu lá uns, penso eu, uns intelectuais, e dali saiu logo uma mensagem é que eu sou um pequeno nazi. Pronto, é assim que provavelmente querem ganhar as eleições, é colocar essa pseudo intelectualidade a dizer que o adversário é um pequeno nazi, um nazizito, ou assim uma coisa".

Alvitrando que até "podia mover um processo por difamação", Rio concluiu: "Com este nível de elevação eu penso que não vamos muito longe, vamos muito mais longe com estas intervenções e esta conversa e, por isso, vão continuar a chamar o que entenderem, como eu tenho dito, fica a falar sozinho. Não vejo outra alternativa que não seja deixá-lo a falar sozinho".

Face ao volume que o caso adquiriu, Costa viu-se forçado a esclarecer: "Estou muito grato pelo apoio que ela me deu, estou muito grato pelos apoios de todos os cidadãos e cidadãs independentes, [que] quiseram expressar o seu apoio. Naturalmente cada um fala por si, eu falo por mim e nunca utilizei essa expressão."

O "caso" desencadeado pelas palavras de Rosa Mota contribuiu para que se consolidasse em torno dos socialistas uma aura negativa: a campanha não descola e a pista está a acabar. Para isso contribuíram também duas sondagens: uma da Católica para o Público/Antena 1/RTP e outra da Pitagórica, em modo diário (a chamada tracking poll), para a CNN.

Na primeira, feita entre os dias 12 e 18 e com base em 1456 inquéritos válidos, revelou, de 13 de janeiro para cá, uma quebra do PS (de 39 por cento para 37) e um crescimento do PSD (de 30 por cento para 33). Dito de outra forma: Costa a perder força, Rio a ganhar força - e na verdade a diferença entre ambos já quase dentro da margem de erro (2,6%). Já a tracking poll da CNN Portugal, baseada numa amostra de 608 indivíduos e com perguntas feitas entre domingo e quarta-feira, mostrou o PS pelo terceiro dia consecutivo a descer (agora com 36,5 por cento) e o PSD a subir (para 32,9 por cento). Sendo a margem de erro de 4,06 por cento, este resultado indicia já de facto um empate técnico.

Embalado por arruada bem sucedida na baixa de Coimbra, Rui Rio afirmou que agora "a probabilidade de o PSD ganhar é mais elevada que o PS".

Faltam sete dias para a campanha acabar e nove para o dia das eleições.

joao.p.henriques@dn.pt