A nomeação de Álvaro Santos Pereira como novo governador do Banco de Portugal esta quinta-feira, encerrando o mandato de cinco anos de Mário Centeno, é uma decisão com base em critérios "políticos", de acordo com José Luís Carneiro. "Com certeza que é uma decisão política, estritamente política. Ficaria na função se fosse uma decisão técnica, porque é dos mais competentes entre todos os seus pares europeus", disse à saída da Assembleia da República o secretário-geral socialista, em defesa ao antigo ministro das Finanças."É a primeira vez em muito tempo que se quebra o compromisso histórico de reconduzir o governador de Portugal, garantindo a sua independência, isenção. Foi uma decisão negativa, não se pode duvidar do mérito, prestígio e estatuto internacional. Internacionalmente, [Centeno] é uma das pessoas com mais prestígio na banca internacionalmente", comentou Carneiro, crítico com a decisão de Luís Montenegro. O deputado Miguel Cabrita, socialista, concordou sem atacar Santos Pereira: "Não estão em causa condições e competências, mas é exclusivamente uma decisão política."À esquerda do PS, as vozes foram muito críticas também. "É uma nomeação que nos parece política, para um cargo que se exige independência do poder político. Foi ministro da Economia nos tempos da Troika, preocupa-nos um regresso de um ex-ministro de Passos Coelho por um governo que está a dar passos atrás", declarou Patrícia Gonçalves, do Livre. Paula Santos, do PCP, corroborou: "Recordo que foi um ministro do tempo da Troika, com tudo o que isso significou para o nosso país, um período de empobrecimento. Tendo em conta o caminho político e a arquitetura do Banco de Portugal e do Banco Central Europeu, percebe-se que este não será diferente do que tem sido e que é contrário aos interesses nacionais."O Bloco de Esquerda, pela deputada única Mariana Mortágua, foi contundente e fala em "contradição" do governo, já que tinha criticado, anteriormente, nomeações por "proximidade ideológica". "Não concordamos com a nomeação de Álvaro Santos Pereira porque não concordamos com a sua direção económica e política. Mas somos capazes de compreender a contradição num governo e numa direita que durante anos criticou nomeaçoes políticas para o Banco de Portugal, que durante anos criticou nomeações por proximidade ideológica e agora faz exatamente isso", asseverou a coordenadora do partido.O PAN foi mais moderado na análise. Inês Sousa Real, porta-voz, lamenta que Luís Montenegro não consiga "sair deste ciclo vicioso de ir reciclar ministros de tempos da Troika" e de "não ter rasgo e visão para trazer novas políticas e de ir buscar políticas que os portugueses estão cansados", porém ressalvou: "É de salutar a visão de Santos Pereira contra a corrupção, mesmo na OCDE, e teve boas práticas e a devida equidistância."Entre PSD e CDS-PP, há apoio para a nomeação. "Não tem qualquer filiação partidária, atuou no governo como independente e está há dez anos fora do país com um cargo de enorme responsabilidade e reputação. Isso garante ao CDS que o exercício do cargo será feito de forma independente do poder político", considerou Paulo Núncio. No PSD, Hugo Carneiro salientou a "independência e percurso académico acima da média" de um "economista chefe de uma das maiores organizações económicas internacionais, a OCDE", onde chegou por "mérito próprio." Na Iniciativa Liberal há desconfiança. "A ligação política passada deixa inevitavelmente dúvidas quanto à percepção de independência em relação ao poder político", considerou a nova líder, Mariana Leitão. À TSF, o deputado Mário Amorim Lopes vinca que "Álvaro Santos Pereira é alguém que tem qualificações profissionais e académicas", que "cumpre os requisitos para ser governador do Banco de Portugal", mas que, "idealmente, não teria sido nomeado porque dessa nomeação política se espera alguma coisa em troca".Já o líder do Chega, André Ventura, saudou a decisão do Governo de não reconduzir Mário Centeno como governador do Banco de Portugal, considernado positiva a escolha de um novo nome para o cargo.Em relação à nomeação de Álvaro Santos Pereira, Ventura elogiou as suas competências técnicas e académicas, mas lamentou que PSD e CDS-PP continuem a fazer escolhas dentro do leque dos antigos ministros ou secretários de Estado dos dois partidos. "Mas acaba por ser o mal menor entre manter alguém que, manifestamente, não tinha nenhuma condição de independência, que era uma má herança do PS, e esta nomeação", sublinhou..Álvaro Santos Pereira é o novo governador do Banco de Portugal.Álvaro Santos Pereira. O antigo ministro dos pastéis de nata sucede a Centeno