A confusão instalou-se no domingo, quando a Lusa difundiu um texto com o título "Presidenciais: Gouveia e Melo revela que foi tentativa de Marcelo para o travar que o levou a candidatar-se". Na peça, a agência de notícias escreveu, após ler as declarações de Gouveia e Melo no livro As Razões, da autoria da diretora-adjunta do DN, Valentina Marcelino, que o almirante só decidiu avançar para Belém quando leu uma notícia no Expresso de que Marcelo Rebelo de Sousa queria travar a sua candidatura presidencial através da sua recondução como chefe da Armada.No entanto, na manhã desta segunda-feira, 10 de novembro, o candidato presidencial fez um desmentido, dizendo que a notícia "é falsa", tendo "uma falta de rigor inaceitável" sobre as declarações que proferiu. "O almirante não se refere, em momento algum, como tendo sido o presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, ou qualquer declaração sua, a motivação para se candidatar à Presidência da República", diz a nota da candidatura de Gouveia e Melo, acrescentando que isso podia ser "facilmente comprovado" ao ler as páginas 123 a 125 da obra [que podem ser consultadas no final deste texto].Apesar do desmentido de Gouveia e Melo, a Lusa defendeu esta segunda-feira que "mantém" a interpretação sobre as declarações do almirante, repudiando "as acusações de que a notícia em causa seja falsa e, muito menos, que a agência contribua para a desinformação".Entretanto, o próprio Presidente da República reagiu à polémica, dizendo "não ter relações minadas com ninguém". "Não sei se é uma qualidade, se é um defeito, mas é assim. A maneira de ser deste Presidente é que cultiva relações com toda a gente, independentemente das personalidades, das áreas políticas, religiosas, sociais, económicas", garantiu.O que diz o livro?Na página 123 da obra, o almirante começou por recordar: "Quando veio o novo Governo, o ministro da Defesa (Nuno Melo) disse-me logo, nos primeiros encontros, que queria contar comigo para o futuro. E eu aceitei. Não lhe disse logo que sim, mas mostrei, pela minha atitude, que estava alinhado."Ainda assim, frisou que "sempre achou" que o desempenho "dessas funções" só devia acontecer quando "pudessem fazer diferença". "Não sendo relevante o meu contributo, deveria ceder o meu lugar (...) Não iria impedir a progressão de um outro camarada só para ficar mais dois anos como um príncipe no palácio, a cortar fitas."Com isto, "algures em setembro de 2024" afirmou ao Conselho do Almirantado que não estava "disponível para continuar" se a sua presença "não fosse realmente decisiva para uma mudança no rearmamento e na forma como o poder político olhava para a Marinha (...). Nessa altura disse-lhes que o mais provável era ir embora".É então que a 3 de outubro sai o artigo do Expresso ("Almirante quer mais dois submarinos para ficar na Armada e desistir de Belém") onde se lia: "O Presidente da República gostava de reconduzir o almirante Gouveia e Melo por mais dois anos no cargo de chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) – para lhe travar uma candidatura presidencial –, mas o militar (...) só aceitará ficar à frente da Marinha se tiver garantias de que o Governo vai aumentar o investimento de forma significativa na força naval portuguesa". No dia seguinte, o mesmo jornal publica outro artigo, intitulado "Gouveia e Melo já tem 'na cabeça' decisão sobre Belém e diz que não faz 'chantagem sobre o poder político'".Segundo revelou o almirante agora, isto levou-o a "definir o rumo". "Quando li [o artigo], fiquei mesmo danado. Não sei quem é que inspirou o título com a palavra «chantagear», mas não gostei. Conheço bem o Vítor Matos e falei muitas vezes off the record com ele sobre os meus planos para a defesa, mas nunca referi qualquer chantagem."No entanto, na obra, Gouveia e Melo dá ainda outro ponto de vista: "O Governo e o senhor Presidente da República não pareciam interessados em nada da defesa, para além de fazerem umas correções nos ordenados dos militares. Assim, deduzi que o que pretendiam era que eu ficasse amarrado à Marinha com o eventual 'prémio' de, no fim, poder ser Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas e atingir o topo da carreira militar. Pensaram, especulo eu, que ficaria muito contente por me darem a oportunidade."Contudo, essas pessoas não o "conheciam verdadeiramente". "Queriam dar-me importância sem me darem poder para fazer nada. Foi aí que decidi: vou entrar no campo das verdadeiras decisões, a política."Pode ler estas declarações, na íntegra, descarregando o pdf abaixo:.Ou clicando aqui nas imagens:.Gouveia e Melo sobre o SNS: “Demasiados príncipes e principados” e “presa fácil para interesses instalados”