Paulo Raimundo e Rui Rocha protagonizaram um debate onde só concordaram quando concluíram que a água não seria privatizada. De resto, tudo os afastou, da Economia à Ucrânia.
Paulo Raimundo e Rui Rocha protagonizaram um debate onde só concordaram quando concluíram que a água não seria privatizada. De resto, tudo os afastou, da Economia à Ucrânia.Foto: DR

No confronto entre "o fantasma do Estado" e a "lei da selva" das privatizações, tudo separou Rocha de Raimundo

O debate desta sexta-feira opôs o secretário-geral do PCP ao líder da IL. Na habitação, foi a luta entre investir 1% do PIB para construir mais ou cortar nos impostos cobrados às empresas.
Publicado a
Atualizado a

"Fica-lhe mal acabar o debate assim", repetiu várias vezes o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, sobrepondo-se ao líder da IL, que, nos momentos finais do frente-a-frente entre os dois desta sexta-feira, elencou as várias vezes que a bancada comunista votou contra iniciativas sobre a Ucrânia.

"Paulo Raimundo entende que Putin fez bem", acusara Rui Rocha, quando já não restava mais tempo para que o líder comunista pudesse responder, quando a conversa tinha ido parar ao tema da Defesa. O líder comunista tentou interromper várias vezes, repetindo o mantra de que "ficava mal" a Rui Rocha terminar o debate daquela forma.

Momentos antes, o líder da IL tinha afirmado que "é um imperativo ter um investimento em Defesa", justificando a ideia com uma alusão à "agressão de Vladimir Putin" à Ucrânia.

O encontro, que ficou marcado pelo afastamento ideológico entre os dois líderes partidários, decorreu, porém, em torno da habitação, da saúde e da economia, o que só cavou mais fundo a trincheira entre os dois.

Sobre o acesso a habitação, Paulo Raimundo disse que era preciso "acabar com este modelo, que é o de referência do Rui Rocha e IL". Explicando, com ironia, que é o "mercado a funcionar", aludindo ao que Rui Rocha tinha dito antes, quando defendeu que era preciso cortar na tributação do setor da construção, para haver "mais casas construídas" e por essa via baixar o IVA da construção, o líder comunista referiu a "especulação".

"Foram os mercados que nos trouxeram até aqui", insistiu Paulo Raimundo sobre a crise habitacional, esclarecendo que "aqui não houve fantasma do Estado", até porque, lembrou, o estado só tem "2% do parque habitacional".

Face a este cenário, o líder do PCP disse que a ideia do partido é canalizar "1% do PIB para reconstrução e reconversão do parque público habitacional".

"Se ficar nas mãos de Rui Rocha isto só vai piorar", lançou, antes de defender que "é preciso fazer opções".

Nesta fase do debate, Paulo Raimundo lembrou uma opção – que era uma "abébia" que o PS tinha dado à IL – que passava pelos "1700 milhões de euros de benefícios para não residentes".

"É isto, o mercado a funcionar", repetiu.

Na troca de argumentos, Rui Rocha acusou o PCP de ter contribuído para a a crise na habitação quando integrou a "geringonça", no primeiro Governo de António Costa.

O líder da IL lembrou ainda que, devido à intervenção da geringonça, a habitação em Portugal paga "30, 40, 50% em impostos".

"Veja lá se o Estado não está a condicionar", perguntou Rocha Rocha de forma retórica.

Rui Rocha, pegando na ideia que Paulo Raimundo defendera sobre o acesso à habitação se concretizar com mais salário, argumentou que "os portugueses terão mais salário" quando as empresas forem mais atrativas e pagarem menos impostos, gerando "mais atividade ecoinómica".

"Dois mil euros de salário médio", perguntou Rui Rocha, dando imediatamente a resposta: "Devia ser o objetivo de qualquer político."

"Se não conseguirmos resolver o problema dos salários, do acesso à habitação, da saúde, da educação, estamos a falhar", defendeu, acrescentando que "os salários não sobem por decreto".

Sobre as políticas de nacionalização que Rui Rocha afirmou que a CDU está a propor, o líder da IL acusou os comunistas de trazerem "um peso incomportável para o Estado". em causa estaria, de acordo com Rui Rocha, a nacionalização da GALP, da REN e da Fertagus.

"Se o Paulo Raimundo tiver saudades da Troika meta o programa do PCP no correio e envie para o destinatário", lançou, antes de classificar a proposta comunista como "um plano de terraplanar a economia portuguesa".

Entre a troca de acusações, o líder comunista rfeferiu os "16 mil milhões de euros" que "foram parar ao buraco da banca privada".

"E o Rui Rocha está a tentar convencer-me que, se a IL não tivesse o poder governativo, não ia dar a mão à banca", disse Paulo Raimundo, enquanto Rui Rocha assentia que a IL daria a mão aos bancos.

"Eu tenho ideia de que no programa de privatizações a água está fora", disse Paulo Raimundo – depois de classificar as políticas da IL como a "lei da selva" – com o objetivo de obter a confirmação por parte de Rui Rocha, que acabou por concordar que a água não seria privatizada.

Também na Saúde o fosso entre os dois líderes partidários foi alargado, com Paulo Raimundo a criticar a ida dos lucros "para aqueles que fazem da doença o negócio", referindo-se às parceria público-privadas e lembrando que "o Estado tem a obrigação de garantir a saúde a todos".

Por isso, explicou que é necessário mais investimento, principalmente em profissionais.

Paulo Raimundo lembrou que Rui Rocha é de Braga, onde havia uma PPP que era "tão boa" que a gestão pública acabou por fazer o dobro dos atendimentos da privada.

Para descrever os processos na gestão privada o líder do PCP disse que parece aquela história onde é dito "mais uma moedinha, mais uma voltinha. As crianças não pagam, mas também não andam".

"Os casos mais complexos, que custam mais dinheiro, são desviados para o Serviço Nacional de Saúde", afirmou Paulo Raimundo, lembrando que "é uma realidade que não é só das PPP, é dos hospitais privados. Empurram para o SNS."

Rui Rocha, momentos antes, tinha defendido para a Saúde um modelo em que os utentes podem escolher se são atendidos "no público, no privado ou no social", acusando as listas de espera para as consultas e as cirurgias serem um "rasto da geringonça".

"É um modelo idêntico ao que os funcionários têm na ADSE", defendeu, sem ter explicado o modelo de financiamento.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt