Senhor almirante, ao longo desta campanha, ao longo do último ano, tem-se apresentado como um candidato independente dos partidos políticos. Mas vemos que, entre os seus apoiantes, há pessoas com percurso político e ligadas a vários partidos. Que garantias é que pode dar aos portugueses que vai ser um candidato independente e que não é refém dos interesses partidários dos seus apoiantes?Uma das condições que eu ponho para me apoiarem é apoiarem o meu projeto, não o projeto da pessoa que me quer apoiar. E isso foi sempre a condição que eu coloquei. Mas, quando eu falo de independência, e às vezes as pessoas não percebem, é a independência de uma lógica política ou partidária fraturante, porque tem de ser. Os partidos são importantíssimos em democracia. Nunca vou discutir isso, aceito e concordo em absoluto.Ou seja, fazer parte de um partido não é cadastro. Não é cadastro. Concordo em absoluto. Só que os partidos têm um terreno de atuação, que é a eleição para a Assembleia da República. Depois daí decorre o poder executivo. E, naturalmente, os partidos congregam diferentes correntes de opiniões da sociedade, e isso é verdadeiramente o papel deles. Mas como congregam essas correntes de opinião, que estão em oposição umas às outras? A lógica partidária é uma lógica de combate dessas ideias e desses grupos, pois também se transformam em grupos de interesse, uns e os outros. Eu sou independente. O que pretendo é unir os portugueses. Porquê? Porque a única figura política no sistema português que pode unir os portugueses, num conceito mais geral e num conceito que é o máximo denominador comum de todos os partidos, é o Presidente. Quando eu digo que é importante a independência, é não levar para a Presidência uma lógica fraturante de guerrilha política. E nós, se viermos de um partido, podemos cair na tentação de levar para a Presidência essa guerrilha política. E não pode cair nessa tentação mesmo sendo apartidário? Como é que garante aos portugueses que a sua candidatura não é uma candidatura de ego, ou mais emocional?Eu garanto aos portugueses que não é, porque sou muito pouco emocional. Eu vejo sempre o meu papel como um serviço ao Estado. Fiz 45 anos de serviço, não quero realçar isso porque faz parte da minha história, os outros têm as suas histórias. E o que é que esses 45 anos de serviço me deram? Uma lógica global do Estado e não uma lógica partidária do Estado. É essa lógica que me vai suportar no meu processo de decisão. A Presidência é um moderador do sistema, onde vai assentar o espectro político e por isso é que esse moderador deve estar no centro político. Imagine o que é tentar equilibrar uma balança.. Mas, se for eleito Presidente, ao longo do seu mandato, vai ter de estar mais de um lado da balança do que do outro.Não. Permita-me corrigir. O que a Presidência faz é deixar governar, exigindo uma boa governação. Porque quem escolhe a governação não é o Presidente, quem escolhe a governação é verdadeiramente o povo nas eleições legislativas e o Presidente tem de saber respeitar isso. Mas deve, por outro lado, porque é um ator político, eleito por maioria e representa o povo, deve exigir também uma boa governação. Não está lá também para complicar a governação, por isso não será nem uma marioneta do governo, nem será uma força da oposição.E como avalia o papel que o atual Presidente tem desempenhado, à luz deste racional?Eu julgo que o atual Presidente tem feito bem esse papel também de moderação e de equilíbrio. A única crítica que lhe poderei fazer é uma excessiva vontade de intervenção no sistema político. E essa excessiva vontade de intervenção pode ter conduzido muitas vezes a alguma instabilidade no próprio sistema.Marcelo Rebelo de Sousa dissolveu demasiadas vezes a Assembleia da República?Sim, eu acho que ele dissolveu para além do que seria o normal funcionamento das instituições democráticas.Como é que devia ter agido então?Eu posso dar-lhe um exemplo? Quando houve aquele caso Influencer. É um caso que ainda hoje não é claro, não é transparente. O que é que aconteceu? O Dr. António Costa nunca foi arguido. Nunca lhe disseram se era ou não suspeito. Pelos vistos, fizeram-lhe escutas que depois vieram a público. E algumas não foram comunicadas ao Supremo. O que é que está aqui em causa? É um poder externo, não eleito, poder interferir no poder legitimamente eleito. Mas tem noção de que isso pode acontecer com o próximo Presidente? Sim, mas deixe-me só referir ainda o caso anterior. O Presidente da República, perante a recusa do Doutor António Costa de continuar a governar, o que teria de fazer, na minha muito modesta opinião, era perguntar-se a si próprio: há na Assembleia da República uma maioria estável para formar o novo governo? E se a resposta fosse sim, ele tinha de formar esse governo com a maioria. Porque o que a Constituição diz, é que nós, nas eleições legislativas, não elegemos um primeiro-ministro. Nós elegemos uma Assembleia da República. E é daí que emana depois o governo, e não o contrário.. Mas tinha de haver garantias por parte do PS, que na altura tinha a maioria no Parlamento, de que iria apoiar um governo de Mário Centeno.Claro. E o próprio Presidente da República teria também de aceitar esse nome. Sim, mas o Presidente da República deve aceitar todos os nomes que permitam estabilidade e governação. Ou seja, havia uma representação e uma legitimidade democrática na Assembleia da República para se formar um governo, que respeitava a democracia e que garantia a estabilidade. Na minha opinião, o foi um erro, foi uma precipitação. Na tomada de posse do Dr. António Costa, se se lembram, o Sr. Presidente da República veio dizer o seguinte: “o senhor está preso em Portugal, porque se tentar fugir para Bruxelas, desculpem-me a expressão, eu vou convocar novas eleições”. Mas isso não está na Constituição. E, portanto, essa interpretação foi uma interpretação muito pessoal do atual Presidente da República. Será julgada historicamente. Hoje é muito difícil, face à proximidade dos factos, fazemos o julgamento mais adequado. Mas não é uma crítica, só estou a dizer que seria diferente. Há pouco mencionou que o Presidente tem de ser uma figura que está acima das diferentes ideologias.Não é das ideologias, é das intrigas político-partidárias e da luta político-partidária. Porque ele que tem de unir Portugal. Tem de estar acima disso.O senhor está mais posicionado ao centro, entre o centro-esquerda e o centro-direita. Isso tendo em conta as suas declarações nos últimos tempos a respeito desse tema... Às vezes há quem diga que eu ando a mudar. Eu digo nos últimos tempos, digo durante a campanha. Sempre teve esse posicionamento. Acha que o facto de ter esse posicionamento ao centro permitiria desempenhar melhor esse papel de equilibrar a balança? Eu creio verdadeiramente que sim. O grande problema é o desequilíbrio no sistema político. E todos os equilíbrios são conjunturais. Acontecem, depois voltam para um lado, é pendular. Vai para um lado e vai para o outro. O Presidente não pode amplificar o movimento pendular.Porque se amplifica o movimento pendular, está a intervir para além do que a Constituição lhe disse que era o seu papel. Há uma ideia de que a política é decidir se é de esquerda ou se é de direita. Não. A política é decidir bem como solucionar os problemas da sociedade. Às vezes, há medidas da direita que resolvem determinados problemas. E às vezes, há medidas da esquerda que resolvem outros problemas. E é uma conjugação dessas medidas que faz avançar Portugal. Portanto, se uma pessoa estiver muito polarizada, tem um filtro, só consegue ver medidas de um lado. E não consegue perceber que o equilíbrio do sistema exige também medidas do outro. Posso dar um exemplo concreto. Em termos económicos, acho que o nosso motor económico não está a atingir o seu máximo potencial. Fruto de alguma estatização da economia, de algumas burocracias, de uma justiça lenta, de um conjunto de circunstâncias. Por outro lado, não concordo que libertar o motor económico é prejudicar os trabalhadores. Porquê? Porque senão, o que é que vamos criar? Uma economia sem coesão social que vai afetar a sociedade, vai empobrecer a sociedade, vai afetar depois o mercado e vai afetar a economia. Eu sou, digamos, o adesivo que liga boas coisas à direita com boas coisas à esquerda.Como é que olha para a greve geral que ocorreu no dia 11, em protesto contra a nova lei laboral? Olhe, eu olho para a greve geral como um falhanço na perspetiva de uma negociação que foi endurecendo a tal ponto que foi necessário fazer uma greve geral. Falhanço de todos? De todos. Não há só o falhanço de um único lado. Normalmente o falhanço é o falhanço de todos. Se não houver coesão, a economia não tem a motivação intrínseca, seja dos empresários, seja dos trabalhadores, para avançar verdadeiramente. Reduzir os impostos e reduzir a coesão social são dois sinais de sentido contrário, porque prejudicam a economia.Mas se tivesse de escolher entre um modelo em que a economia a crescesse mais, mas com menos coesão social, ou um modelo em que crescesse um bocadinho menos, mas com mais coesão, qual escolheria? O que me está a dizer é se eu tenho de escolher entre uma economia que cresce mais com menos coesão ou uma economia que cresce menos, mas com coesão. Onde é que isso está provado? Todos os indicadores dos últimos três anos da nossa economia mostram que não foi pelo código laboral feito em 2023, tenha prejudicado a competitividade. Pelo contrário, nós melhoramos a nossa competitividade até relativamente à média europeia.Portanto, acha que é uma reforma laboral que não faz sentido? Há coisas muito mais importantes que nós devemos atacar. Devemos atacar verdadeiramente a burocracia do Estado.Tudo indica que pode haver, de facto, alterações à lei laboral. Se o Parlamento fizer passar a lei, até onde é que vão as suas linhas vermelhas? O senhor defende flexibilidade, não prejudicando direitos.Eu posso lhe dar um exemplo concreto. Porque é que na lei existe a figura de contrato a termo certo e a termo incerto? Se for ler a lei, o que ela diz é para responder a pequenas flutuações do mercado. Ora, quando nós estamos a aumentar esses prazos, significa que as flutuações do mercado são assim tão grandes que demoram dois anos, três anos, quatro anos.O que nós estamos a fazer é transformar um instrumento que foi feito para flexibilizar realmente aos empresários um tipo de contratação num instrumento permanente de contratação. Isso precariza o trabalho.O que eu vou dizer é que podem contar comigo para defender a flexibilização, necessária sem pôr em causa direitos essenciais.A magistratura de influência do Presidente pode ser feita juntando os parceiros sociais, chamando a atenção para determinados problemas, fazendo recomendações à Assembleia da República, falando com o governo? O Presidente governa sem governar?É um chairman. O CEO é o governo. O presidente é o chairman da empresa. O presidente está para ajudar a orientar o país para o destino que toda a gente quer. Agora, o que é que fazia? Chamava a CGTP, chamava a UGT, falava com todos os atores sociais. Falava com o Governo. Tentava ajudar o que pudesse no processo para se encontrar um consenso. Porque quando nós encontrarmos um consenso, está aberta uma saída para uma economia mais devolvida.. Uma das críticas que os seus opositores lhe fazem é a sua falta de experiência nos bastidores da política. Quando estamos ao comando de um navio, temos de lidar com diversos interesses. Não é chegar ali, dar ordens e toda a gente obedece. As coisas não são assim.Temos de perceber o interesse dos diferentes grupos. Há uma experiência que importa. É a experiência de entregar resultados e de resolver coisas. Há outra experiência que não interessa, que é da pequena intriga política, que são as guerrinhas do poder e da governação de muito curto prazo para ganhar as próximas eleições. Nós temos de governar para Portugal, não para eleições. Eu agora vou falar de um candidato, mas podia falar de qualquer candidato. As pessoas dizem-me que eu mudo de sentido, porque ou estou à esquerda ou à direita. Ainda não perceberam que o centro tem esquerda e direita. Se calhar, alguns dos seus apoiantes é que mudaram. Não, não mudaram nada porque eu sempre os tive. Há apoiantes que só se quiseram revelar mais tarde.Basicamente eu tenho é portugueses a apoiarem-me. Mas voltando à questão. O Governo entrou neste processo negocial achando que tinha o Chega a ajudar numa posição de força relativamente à negociação desta lei laboral. Descobriu agora que o Chega mudou 180 graus. Em menos de um mês, o Chega inverteu a posição. E agora o governo está sozinho.As lógicas que estão por trás destas decisões, são as tais lógicas de partidarite. Nos últimos tempos tem havido várias situações em que as suas palavras foram, se calhar, mal-entendidas. Em que disse uma coisa e depois acabou por falar diferente. Acha que é um aspeto que se deve à sua falta de experiência política no sentido partidário do termo? Ou foi mesmo mal-entendido ou mal citado? Tem a ver com uma resistência que o sistema tem à minha presença. Eu sou a pessoa mais escrutinada neste momento em Portugal. Todas as minhas palavras. Todas as minhas frases. Os meus sorrisos. Os não sorrisos. Eu sinto isso. A minha forma de comunicar era a mesma que na pandemia. Na pandemia nunca tive problema nenhum. Porque o sistema aceitou-me. Agora, o sistema rejeita-me. E, desculpem dizer-vos isto, mas sinto que estou a jogar num plano inclinado. Falemos agora da questão da Ucrânia. Foi uma das primeiras personalidades a alertar para a situação das nossas Forças Armadas. Disse também, numa entrevista há cerca de dois anos que, se fosse preciso, os militares portugueses iriam morrer para a Ucrânia. Não disse ir morrer para a Ucrânia. Falei da defesa da Europa. O que eu disse é que se nós tivermos de defender a Europa, que está dentro da NATO. Há uma coisa chamada artigo 5 no Tratado de Washington.Que nos obriga a todos a defender todos os países. Porque se Portugal fosse atacado, também vinham morrer para aqui os alemães, os franceses, quem tivesse de ser... Eu só o quis assinalar naquela altura - qual era o dever de Portugal e qual era o risco. É que nós podemos ser chamados a participar no conflito se a NATO, no leste europeu, for atacada. Prefere um político que diz a verdade aos cidadãos ou prefere um político que não o faz?Está a assumir-se como político.Agora já estou a assumir-me como político. Mas vamos imaginar que o pior cenário acontece e que de facto há uma guerra entre a Europa e a Rússia. Num cenário desses, Portugal deve equacionar muito bem a entrada ou eventualmente, ficar de fora [a aplicação do artigo 5º não é automática]?Portugal fará o que achar bem. Mas com uma reserva. Tudo o que fizer vai implicar no futuro português. Se não alinhar, terá consequências futuras. Se alinhar, também terá essas consequências presentes e futuras.A guerra é evitável. E antes de falar de guerra, devemos falar de dissuasão.Mas nós somos muito pequeninos em relação ao resto da Europa.Há países muito pequeninos. Mas só com o conjunto de países muito pequeninos faz-se uma economia que é dez vezes superior à economia russa. E a guerra, no fim, é a economia. Porque sem economia não há armas. Não há dinheiro. Nós somos pequenos, mas estamos numa posição estratégica importante. E não podemos esquecer isso.É possível ser neutral, ou num cenário desses acabaríamos sempre por ser arrastados para o conflito [mesmo sendo neutros]? O que eu quero dizer é que, mesmo sendo neutral, nós seríamos atacados até porque há ligações submarinas. Num conflito destes é possível ser neutral? Hoje, todos os Estados neutrais, tirando a Suíça, deixaram de ser neutrais e aderiram ao NATO. Portugal, fora de um contexto atlântico, era vulnerabilíssimo. Porque nós temos poucos recursos para defender uma coisa que é cobiçada por toda a gente, que é o nosso espaço marítimo, os Açores e a Madeira. Ou seja, mesmo que quiséssemos ficar de fora, éramos arrastados para aqui.Éramos envolvidos de uma maneira muito mais violenta e sem sabermos o resultado. E tem o papel dos Estados Unidos em todo este processo, que é conjuntural, neste momento.A posição é determinante. Os Estados Unidos no futuro não podem prescindir da Europa porque, se prescindirem da Europa, prescindem de ser uma superpotência mundial. E Donald Trump? Considera-o mais perigoso ou não? Eu acredito verdadeiramente que as instituições têm peso. E as pessoas não conseguem ir contra tudo e contra todos. Por mais populares que sejam. Eu acho que as pessoas deviam ler um pouco sobre este novo conceito estratégico dos Estados Unidos. O que ele diz não é abandonar a Europa. Não está lá nada disso. Aliás, ele fala no hemisfério ocidental. O hemisfério ocidental para eles é a Europa ocidental, o Atlântico e o continente americano.Estamos agora a assistir a um novo paradigma em que os Estados Unidos têm de se voltar para o Pacífico e têm outras preocupações. Com este investimento na Defesa, a própria Europa não poderá tornar-se um rival geopolítico dos Estados Unidos, a prazo? Não. Não há esse perigo. Agora, o que vai crescer é a influência da Europa no mundo e nas decisões da NATO. Porque antes, quem mandava na NATO de forma clara e evidente eram os Estados Unidos. E acha que agora não manda?Não. Vamos lá explicar isto. Os senhores têm um exército de três milhões de pessoas prontos para combater nos Estados Unidos. Armamento sofisticadíssimo. 15 porta-aviões. Armamento nuclear. Os porta-aviões dos Estados Unidos são superiores em capacidade a todos os porta-aviões que a Europa tem juntos. E os Estados Unidos o que é que dizem? Nós agora temos de virar parte da nossa capacidade para o Pacífico. Portanto, é bom que os europeus façam a sua parte. É isto que eles nos estão a dizer. . E atualmente, ao haver esta política por parte da administração Trump, não há também o risco de dentro da Europa começarem a surgir rivalidades entre países como a França e a Alemanha, por exemplo?É precisamente esse o grande risco. O grande risco é voltarmos ao mundo de 1900. Portugal devia estar mais focado na defesa deste flanco sudoeste da Aliança.Para isso são precisos meios. O reforço de 5,8 mil milhões de euros para a Defesa vai ao encontro desse objetivo? É um início... Mas é preciso mais ainda? Quando se decide sobre grandes investimentos nas Forças Armadas, não se deve dar a primazia só aos militares. Porque tem de estar integrado num conceito estratégico nacional mais alargado e num conceito estratégico de defesa nacional. O nosso conceito estratégico de defesa nacional é de 2013. A última atualização que eu saiba foi em 2018 e foi uma pequena atualização. O que eu estou a ver é nós vamos agarrar nos nossos recursos financeiros e vamos injetá-los em centros industriais do norte da Europa ou dos Estados Unidos sem sequer pensarmos como é que nos podemos aproveitar desses recursos. Esses investimentos vão ser feitos por ajuste direto. Isso também o preocupa? Claro que me preocupa. O que nós temos de ter é mecanismos que permitam fazer compras com a urgência necessária. E o ajuste direto é um mecanismo que facilita isso. O ajuste direto não significa que não seja escrutinado. É um processo simplificado de aquisição. Mas tem de ser transparente. O que temos de criar é um mecanismo lateral de verificação de todos esses contratos que estão a ser feitos. Transparência é a única coisa que eu quero. Se for transparente, vai ser honesto. . Esta entrevista está a ser gravada no fim de semana, mas é publicada na terça. Na segunda-feira temos o debate com o candidato André Ventura. Acha que os debates estão a correr da forma que esperava, de acordo com as suas expectativas, e são, de facto, importantes para dar a conhecer as ideias? Eu vou-lhes dizer muito rapidamente: não vou debater, tipo gladiador, aos gritos. E quem grita é aquele que vence o debate. Juro que a população é muito mais inteligente do que isso e consegue perceber a diferença. Nós estamos a debater ideias, conceitos e preocupações, ou estamos a debater quem é que tem rompantes e quem é que parece mais enérgico. Eu sou calmo, tenho uma postura mais de Estado, naturalmente. Mas é mesmo assim ou foi treinado para ser assim?Não, não, sou assim, sempre fui assim. Mas também sei ser taberneiro se for preciso. Só que acho que não é a maneira de fazer política. E por isso evito esse tipo de reações. Depois, a outra coisa que me parece também estranha é que nos debates, cada um tem cerca de 12 a 13 minutos para explicar um conjunto de coisas. Mas depois, os comentários pós-debate têm horas. Portanto, os verdadeiros atores não são os políticos que estão a concorrer, os verdadeiros atores são o batalhão de comentadores, verdadeiramente enviesados, porque têm agendas.Imaginemos que é eleito Presidente da República. Passado uns tempos há eleições legislativas e o Chega ganha. O senhor, enquanto Presidente da República, convida André Ventura para formar governo? Estamos a falar num cenário em que o Chega tem os votos para poder governar. Convidaria André Ventura para primeiro-ministro, sim. Desde que ele tivesse condições para governar. Imagine que ele ganha com a maioria relativa. E todos os outros partidos fazem uma coligação. Já há uma moção de censura e este governo que não pode passar. O Presidente tem de fazer com que o regime democrático funcione. Se o povo votar no doutor André Ventura, ele tem direito a governar. .O que seria para si um falhanço como Presidente da República? Eu quero verdadeiramente ajudar Portugal a transformar-se. Eu vejo Portugal como um corredor que está a subir uma colina. Que é a colina do desenvolvimento. Nós nos últimos anos, nos últimos 20 anos, recebemos 180 mil milhões de euros de fundos europeus. Outros países que receberam menos e começaram depois, estão a subir a uma velocidade muito superior. Portanto, o que é que nós queremos? É descer a colina ou subir a colina? Ou entregar a nossa energia a outros para subirem mais rápido que nós? Eu quero subir a colina.Se não conseguir subir essa colina é um falhanço para si?Para mim é um falhanço. Não é da minha presidência, se for eu presidente. É um falhanço de Portugal. Eu, se for eleito presidente, tudo o que Portugal falhar, eu falho também. Não sou daqueles que diz que, quando é responsável, que as coisas não têm a ver comigo. Se Portugal falhar nos próximos 5 anos, enquanto eu for presidente, a conclusão que eu tenho de tirar é que não devo concorrer aos próximos 5 anos.O seu eleitorado está entre o centro-esquerda e o centro-direita. Engana-se, olhe que eu já tive gente, conto-lhe isto por piada. Comunistas ferranhos a dizer. Vou votar em si. E também, do Chega a dizer. Vou votar em si. . Tem potenciais eleitores de todos os quadrantes?Claro que tenho mais do centro. E o eleitorado vai ter de decidir para onde quer ir. Não me parece é que haja uma ponte da esquerda para a direita e da direita para a esquerda. Eu não gosto destes ziguezagues. Eu acho que há candidatos que andam a tentar pescar em águas que são incompatíveis umas com as outras.Mas o senhor também tem águas incompatíveis. Tem apoiantes do PCP e do Chega.Não há ali um rio que diga agora é esquerda ou direita. Há um centro que adota medidas de esquerda e adota medidas de direita. É uma espécie de uma faixa. Eu quero levar equilíbrio, moderação, sentido de Estado e vontade para ajudar este país verdadeiramente a fazer as transformações que há muito tempo precisa. .António Filipe: “Investimento de 5,8 mil milhões na Defesa é insanidade. Precisamos de escolas e hospitais”.Catarina Martins. "Podia ter-se outra solução quando Costa se demitiu: Marcelo descredibilizou instituições”.João Cotrim de Figueiredo: "Se fosse Presidente, faria ver à PGR que é essencial ser mais transparente. Não pode haver suspeições"