“A esquerda também tem problemas em falar de imigração”, diz investigadora
A imigração não é um problema em Portugal - mas a forma como os políticos o abordam, sim. A avaliação é de Marina Costa Lobo, professora da Universidade de Lisboa que acredita que este problema vai da direita até a esquerda.
“A esquerda tem problemas em falar de imigração por razões diferentes. O PCP, por exemplo, tem como foco principal os trabalhadores e não lida bem com grupos que não sejam os trabalhadores e, portanto, os imigrantes, como são um grupo mais fluido, etc, eles têm muita dificuldade em lidar com isso”, analisa.
Já no caso do BE, considera ser por ideologia dado que “têm um posicionamento que é totalmente aberto, eles não concebem quaisquer tipo de limitações à imigração, como poderia ser, vamos ver quais são as capacidades do Estado”.
Para a investigadora, especialista em comportamento eleitoral, “o tipo de discurso mais moderado tem que ser feito, mas tem que ser feito com trabalho, não ser só dito, mas concretizado”.
No caso do Chega, Marina Costa Lobo considera que o partido tem “tentado fazer duas coisas: ligar os imigrantes à falta de segurança, e, em segundo lugar, ligar os imigrantes à questão da falta de meios do Estado Social, ou seja, os imigrantes estão a ocupar consultas, etc, que deveriam ser para os portugueses e não para os imigrantes. Essas duas agendas, essas duas formas de, no fundo, estigmatizar a imigração em Portugal”.
“É uma agenda que atua sobre o medo das pessoas”, acrescenta. Na avaliação de Marina Costa Lobo foi só quando o Chega entrou no Parlamento que a visão em torno do tema começou a fragmentar-se.
“Durante muitos anos a imigração não era um tema importante e havia um consenso entre os grandes partidos.Tudo isso mudou com a entrada do Chega no Parlamento em 2019, que tem vindo a politizar muito a questão da imigração”, destaca.Para a investigadora é o voto do Chega que a coligação da AD procura ao falar de imigração.
“O PSD, claramente, mudou no último ano, tentando criar situações mediáticas para assumir uma posição quase securitária, em relação à imigração. Por exemplo, o que se passa no Martim Moniz, fazendo operações policiais com os medias atrás, tudo organizado para passar uma imagem de que eles são extremamente rigorosos com a segurança e com o controlo com os imigrantes, eles estão claramente tentando”, argumenta.
Marina Costa Lobo entende que se está perante “um caminho difícil, mas é um caminho que deve ser feito pelos partidos para que não fique apenas o Chega supostamente a defender as fronteiras mais fortalecidas ou que não pode entrar qualquer pessoas, não pode ser assim que fica o debate político”.
Estando a “imigração em cima da mesa” e sendo “um tema que importa às pessoas” é evidente, sustenta, que “poderá servir como mais um elemento para votar com o Chega ou contra o Chega”. Logo, acrescenta, o Chega “está num espectro completamente diferente de todos os outros partidos no tema da imigração, ou seja, ou se vota no Chega ou se vota em qualquer outro partido”, entende.
No entanto, e apesar de a imigração ser um tema da atualidade, as principais razões na escolha de um partido continuam as mesmas.
“O voto é decidido em função de um conjunto de fatores alargado. Nós já temos a nossa identificação partidária antes da eleição, se calhar temos uma identificação ideológica e não sabemos exatamente o partido, mas sabemos se somos de esquerda ou de direita, isso não muda com a eleição, mas vamos ver quem são os líderes, o que é que tem sido o desempenho económico, se acho que nesta eleição quem é que pode formar governo, quem é que pode dar estabilidade, isso são tudo questões que são importantes”, explica.
Mas não só. É que “depois há os temas políticos, e dentro dos temas políticos, que mobilizam as pessoas, há temas que são muito importantes em Portugal e que continuam importantes, como o Estado Social, a questão da privatização da saúde, do funcionamento da educação, são temas que mobilizam”, pontua. De acordo com o Barómetro DN/Aximage de abril, para a maioria dos portugueses (55%), o centro das suas preocupações passa pela economia familiar ou nacional.
amanda.lima@dn.pt