Rio dispara com maçonaria e derrotas eleitorais, Montenegro e Pinto Luz com falta de estratégia
A moderadora do debate, a jornalista Luísa Bastos, lançou a fatídica pergunta a Rui Rio sobre as duas derrotas eleitorais, nas europeias e nas legislativas, mas o líder do PSD e recandidato escudou-se na "conjuntura", lembrando a "guerrilha interna" e a conjuntura internacional favorável ao governo, a justificar os maus resultados. Acabaria mesmo o debate a garantir que foi a sua chegada à liderança do PSD que tirou o "cimento" à "geringonça.
Mas os adversários nem pararam para ouvir os argumentos. Atacaram-no pela "estratégia errada" de estar "contra tudo e contra todos", como disse Pinto Luz; que tal como Luís Montenegro insistiu na ideia de que Rio "subalternizou" o partido em relação ao PS. Aliás, essa foi muito a linha de ataque do antigo líder parlamentar. "o PSD nos últimos [dois] anos teve uma estratégia que o PSD não se afirmou como alternativa" e foi "uma espécie de Partido Socialista número dois", afirmou Montenegro.
Rui Rio já estava à espera das farpas sobre os maus resultados eleitorais e disparou como currículo eleitoral dos opositores, na medida em que ambos enfrentaram derrotas políticas. Luís Montenegro, diz o líder social-democrata, "foi duas vezes candidato a Espinho e não consegui ganhar", uma vez à "distrital e não conseguiu ganhar." E concluiu: "É esta a performance do dr.Luís Montenegro". Sobre Pinto Luz, Rui Rio destacou que quando Pinto Luz era presidente da distrital quando o partido teve 22% em Lisboa 22%, em Sintra teve 14%, em Loures teve 16% e foi 3%, em Vila Franca teve 13%. "É esta a performance do engenheiro Pinto Luz".
Montenegro reagiu com maior virulência e exigiu respeito pelos "militantes". Lembrou que Marcelo também perdeu a eleição para a câmara de Lisboa, contra Jorge Sampaio, e hoje é Presidente da República. Quis ainda lembrar a Rio que as divergência internas não vieram só dos críticos, mas também de figuras que estiveram com a direção do PSD, como Castro Almeida, que se demitiu da vice-presidência do partido, e Cavaco Silva.
Nesta troca de acusações - a que o atual líder disse ter ignorado os ataques que lhe foram feitos ao longo destes quase dois anos de liderança -, o momento mais tenso foi quando Rio admitiu voltou a colar Montenegro e Pinto Luz aos "interesses obscuros da maçonaria".
Luís Montenegro reagiu: na política que não vale a pena, de insinuação". O candidato negou pertencer a esse tipo de associações: "Não sou da maçonaria, não pertenço à maçonaria". E acusa Rio de ser incoerente a fazer "julgamentos com base de notícias de jornal".
Para Montenegro Rio não é mais que "o náufrago que se agarra a uma bóia, mas a bóia está furada". Miguel Pinto Luz assumiu: "Fui membro da maçonaria e isso nunca me condicionou. Saí há 10 anos com a mesma liberdade com que entrei."
Se os ataques pessoais dominam a primeira parte do debate, a segunda foi mais cordata entre os três candidatos, já que algumas vezes convergiram. Luís Montenegro foi, aliás, o que procurou marcar a maior diferença em relação àquela que tem sido a estratégia de Rio relativamente ao governo.
O antigo líder parlamentar de Passos Coelho garantiu que com ele não haverá acordos com o PS ou a aprovação de qualquer Orçamento do Estado, sendo que o de 2020 está mesmo aí a rebentar. "Comigo não há negociações com o PS nem vou viabilizar nenhum orçamento do PS", afirmou.
Pinto Luz, vice-presidente da Câmara de Cascais e antigo líder da distrital de Lisboa do PSD, foi mais moderado neste ponto, mostrando que está mais próximo de Rio do que Montenegro. Frisou que aprovaria orçamento do Estado que fossem "bons" para o país". Apenas com um senão: "Eu não acredito que António Costa vá apresentar um bom orçamento do Estado". E ao contrário do atual líder, que vê nos acordos com o PS a melhor forma de reformar o país, defendeu:"O ímpeto reformista tem de ser nosso".
O presidente social-democrata não se desviou um milimetro do que sempre defendeu. Que muitas das reformas que o país precisa, carecem de acordos com o PS. Quanto ao Orçamento do Estado não se quis comprometer."Tenho de ver o documento". Rio admitiu, no entanto, que será difícil o voto favorável do PSD, quando o governo também vai tentar agradar à esquerda, ao PCP e BE.
Todos convergiram na ideia de que o governo estará para lavar e durar os quatro anos, tal como na necessidade de o país inverter o modelo de crescimento económico, sobretudo na necessidade de baixara pesada carga fiscal.
As eleições autárquicas, a necessidade de o partido vencer as de 2021, foi também cimento entre os três candidatos. Montenegro admitiu até que nem tudo é culpa de Rio, e no caso das autárquicas o definhamento vem de trás. "Temos de mobilizar os melhores para serem nossos candidatos", disse, reiterando que tem "na sua cabeça" várias pessoas que possam assumir essas funções, nomeadamente na câmara de Lisboa. Mas sem dizer quais.
Rui Rio concordou que as "autárquicas são mais importantes que as legislativas", mas lembrou que para ganhar as autárquicas e preciso ter mais uma câmara que o PS. " O PSD não pode perder nenhuma e tem de ganhar 32 ao PS". Miguel Pinto Luz recordou que o PSD não perdeu só câmaras para o PS, perdeu também para "nós próprios", candidatos que se desvinculam e ficam como independentes. "Temos de parar com essa sangria", frisou.
A pouco mais de um mês das eleições diretas no partido, a 11 de janeiro, este confronto entre Rio, Montenegro e Pinto Luz mostra que a reta final da campanha dos candidatos ainda poderá intensificar os ataques pessoais, a que todos diziam querer fugir.