Santana: "É muito difícil haver o que quer que seja grátis. Tudo tem um custo"
Já eleito presidente da Aliança, no encerramento do congresso fundador do partido, no Arena d'Évora, Pedro Santana Lopes prometeu um combate sem tréguas e em todos os recantos do país para tirar a "frente de esquerda" do poder. Porque, disse, a legislatura mostrou um "mau governo", que desbarata os recursos do país. Manifestou-se convicto de que o Presidente da República estará "atento e vigilante" neste ano eleitoral e lançou um desafio a Marcelo. Para que promova com os parceiros sociais um pacto para o crescimento do pais. E que seja também o motor da transformação da Justiça em Portugal.
Ao chefe do Estado pediu ainda "especial atenção" ao que diz ser o "atual cerco que o governo faz à Madeira para favorecer o PS, prejudicando a população". Fazia assim alusão às eleições regionais na região autónoma, a 22 de setembro.
Num discurso marcadamente ideológico, e sem rebuços, Santana Lopes assumiu todas as bandeiras personalistas e liberais do seu novo partido. Sempre em contraposição à "frente de esquerda", que acusou de ser "injusta" e de tentar impor ao país as suas convicções e gostos."A esquerda não tem mais prerrogativas, mais direitos que a direita e o centro."
"A frente de esquerda alimentou expectativas diz que está tudo constipado, agora está com gripe e até pode vir pneumonia", afirmou Santana Lopes perante os cerca de 600 delegados. "O défice progride, mas a dívida não. E em setores essenciais o que se passou é um caso de mau governo e de má governação".
Da cartilha do que defende para o país, num discurso com 38 minutos, bem mais curto do que o do primeiro dia de congresso, Santana Lopes assumiu que a Aliança é liberal na economia, porque defende a liberdade económica, a iniciativa privada, as empresas. "A nossa maior preocupação é o crescimento económico. Se não crescermos acima dos 3% não temos dinheiro para o modelo económico-social que defendemos".
Santana atacou o modelo de governação de António Costa, embora nunca tivesse citado nenhum dos protagonistas da política nacional. Manifestou-se contra o dinheiro canalizado para as empresas públicas, "por preconceitos da esquerda". "O Estado não pode sustentar empresas sorvedoras. O Estado é mau gestor", afirmou e defendeu que mais serviços devem ser concessionados aos privados e às IPSS.
O líder da Aliança manifestou-se contra a ideia de dar tudo a todos. "É muito difícil haver o que quer que seja grátis. Tudo tem um custo. O Estado só pode pagar segundo o rendimento de cada um e segundo as suas necessidades". A opção, sublinhou, é fazer opções. Na sua opinião, "quanto mais o Estado gasta mais impostos temos de pagar".
Para que o modelo social prevaleça, defendeu uma mudança da estrutura de financiamento do Serviço Nacional de Saúde e a generalização dos seguros de saúde, mesmo que para isso o Estado tenha de apoiar quem não os pode pagar. Tudo para que prevaleça a liberdade de escolha entre os serviços públicos e privados.
A complexidade da situação europeia, com relevo para o Brexit, não foi, nem poderia ser esquecida pelo líder da Aliança. Santana defendeu que o cabeça de lista escolhido pelo partido para disputar as eleições europeias de maio, Paulo Sande, é a mais certa porque "é conhecedor dos dossiers, sério, responsável, competente e capaz de se mexer nos areópagos europeus".
Garantiu que é precisa uma nova atitude em Bruxelas, sobretudo para levar a Europa a apoiar a nossa convergência com o desenvolvimento dos estados mais ricos. "Isto não prejudica sermos profundamente europeístas, não queremos sair nem destruir a UE, nem sair do euro", assegurou.
"Cá estamos", disse Santana no final do discurso e garantiu que o partido está pronto para os três atos eleitorais. "Que outro partido seria capaz de uma coisa destas em tão pouco tempo?" O combate pelo voto vai fazer-se em todos os lados em que haja "causas justas", nas "fábricas" e "nos campos".
Os órgãos nacionais da Aliança foram todos eleitos, mas não por unanimidade. A Comissão Política Nacional, presidida por Pedro Santana Lopes, teve 356 votos válidos, dos quais 10 brancos e 6 nulos. Dos 343 delegados que votaram para o Senado Nacional, 22 fizeram-no em branco e 7 nulos.