Quatro C-130 regressam aos céus europeus até ao fim de 2020
OGMA inicia em março a modernização do primeiro dos Hércules C-130 da Força Aérea, num contrato da ordem dos 16 milhões de euros.
A há muito ansiada modernização dos aviónicos dos Hércules C-130 da Força Aérea para poderem voar na Europa sem restrições avança em março, anunciou esta terça-feira a OGMA.
A empresa aeronáutica de Alverca vai modificar apenas quatro das cinco aeronaves previstas em junho de 2016, depois de no mês seguinte ter ocorrido um acidente na base aérea do Montijo que destruiu um dos seis aparelhos dessa frota - cuja modernização parou no final dos anos 2000 por falta de verbas.
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"A primeira aeronave será intervencionada a partir de meados de março [e] o programa de modificação" dos quatro C-130 "ficará completo até ao final de 2020", disse ao DN fonte oficial da OGMA - Indústria Aeronáutica de Portugal.
Em causa está um investimento da ordem dos 16 milhões de euros - incluindo fundos comunitários destinados a financiar a adaptação dos C-130 às exigências do Céu Único Europeu - para a "quase integral" substituição dos sistemas de comunicação, navegação, controlo de voo e instrumentos dos aparelhos, indicou a empresa.
"A OGMA será responsável também pela atualização das publicações técnicas de operação e manutenção" dos C-130 modificados, "fornecendo treino operacional às tripulações de voo e treino de manutenção a técnicos" da Força Aérea, segundo o comunicado divulgado esta manhã pela empresa.
O Estado tem cerca de 35% do capital da OGMA, detida maioritariamente pela construtora aeronáutica brasileira Embraer e com quem Portugal está a negociar a aquisição dos KC-390 para substituir os C-130.
Além de fazer a integração dos diferentes sistemas dos C-130, a OGMA fabricará também os componentes e cablagens necessários para instalar os novos equipamentos. "Realizar a modificação das aeronaves, efetuar a certificação do projeto face aos requisitos da Autoridade Aeronáutica Nacional Militar e a qualificação do mesmo face aos requisitos operacionais e logísticos" da Força Aérea são os outros pressupostos do contrato, acrescentou a empresa.
Voar até 2030
O alerta para o impacto operacional de não modernizar os C-130, face às regras do Céu Único Europeu foi lançado ainda em 2009 pelo então chefe da Força Aérea e atual representante do Estado na OGMA, general Luís Araújo, ao dizer que esse programa "ficou parado" por falta de verbas inscritas na Lei de Programação Militar (LPM) aprovada em 2006.
"A modernização do C-130 é essencial para Portugal", sublinhou o general Luís Araújo, "tão necessário à nação como o [caça de defesa aérea] F-16".
Em causa já estava a aquisição de equipamentos que permitissem aos C-130 voar no centro de Europa, à luz das regras do espaço único europeu. Sem esses meios técnicos, os aparelhos teriam de fazer desvios de rota - com custos adicionais, desgaste de pessoal e material - entre dois pontos que implicassem sobrevoar a generalidade dos países da Europa central.
A decisão de modernizar os C-130 acabou por avançar em 2016 e envolvia o recurso aos EUA. Mas, em 2018 e depois de aprovada a negociação para a compra de cinco aeronaves KC-390 (com opção por mais uma), o ministro da Defesa limitou o programa ao cumprimento dos requisitos do Céu Único Europeu e mantendo o objetivo de prolongar a sua vida útil até 2030.
"As missões desenvolvidas fora do território português através das aeronaves C-130H têm vindo a ser cumpridas com custos acrescidos, decorrentes da utilização de rotas e perfis de voo mais dispendiosos e nem sempre adequados à missão, mas que são, em regra, aqueles autorizados pelas autoridades de controlo do espaço aéreo", escreveu o então ministro Azeredo Lopes ao delegar a responsabilidade pelo programa no chefe da Força Aérea.
Os C-130 são aeronaves militares de transporte com "características de projeção estratégica" que garantem a Portugal autonomia em missões de evacuação dos seus cidadãos em áreas de crise, bem como de projeção e extração dos soldados e material das forças destacadas no exterior.
A OGMA recebe C-130 há mais de quatro décadas e faz atualmente a manutenção dessas aeronaves ao serviço da Força Aérea de vários países na Europa, África e Ásia, adiantou a empresa.