PSD quer generais frente a frente sobre existência de pressões políticas
O PSD anunciou esta quarta-feira que vai requerer a acareação entre os generais Rovisco Duarte e Faria Menezes sobre a alegada existência de pressões políticas para demitir os comandantes das cinco unidades responsáveis pela segurança dos paióis de Tancos.
A decisão foi comunicada pelo deputado Carlos Peixoto a meio da audição parlamentar de Rovisco Duarte, chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) quando ocorreu o furto aos paióis de Tancos, sobre as consequências e responsabilidades políticas do caso ocorrido em junho de 2018.
Rovisco Duarte negou terminantemente ter sofrido pressões políticas do então ministro Azeredo Lopes, semanas após o então comandante das Forças Terrestres, tenente-general Faria Menezes, ter afirmado no mesmo local que ouviu o CEME falar-lhe na existência de pressões para justificar a adoção de medidas como as demissão dos comandantes das unidades responsáveis pela segurança dos paióis.
"Acho muito bem que haja acareação", contrapôs mais tarde Rovisco Duarte, dizendo ter recebido telefonemas de apoio por parte de quem depois afirmou publicamente o contrário.
Na sua audição, o ex-CEME falou também em pressões existentes mas dando-lhes um sentido diferente e começando nele próprio, para fazer algo depois do furto, da morte de recrutas dos comandos e, a nível da sociedade, depois das tragédias dos fogos de 2017.
Rovisco Duarte afirmou ter tomado a decisão de demitir os comandantes sem falar previamente com ninguém e depois de ter confirmado que havia falhas significativas dos comandantes no estado a que os paióis chegaram, em termos de segurança e das instalações.
Faria Menezes foi um dos dois generais do Exército, juntamente com Antunes Calçada (comandante do Pessoal), que se demitiram em protesto contra as exonerações dos comandantes.
Contudo, Rovisco Duarte argumentou que na base das saídas daqueles dois generais estiveram maioritariamente razões de natureza pessoal em relação a si - e deixou mesmo um retrato muito negativo da atuação de Faria Menezes no exercício do cargo de comandante operacional.
"Tenho razões objetivas para dizer que a postura dos dois generais não foi isenta nem foi institucional", declarou Rovisco Duarte, apresentando casos em que decisões por si tomadas ou transmitidas não eram cumpridas apesar de lhe dizerem que tinham sido.
"Não compactuo com ilegalidades, com manobras de dilação" que, entre outros aspetos, adiavam a resolução de problemas, frisou Rovisco Duarte, dando exemplos de que agia e decidia com base apenas em critérios militares.
Um dos exemplos que o levaram a "não ter confiança" em Faria Menezes foi o da posição que o então comandante operacional tomou no caso da mortes dos recrutas, colocando num relatório informações contrárias ao que se tinha passado ou propondo apenas um processo de averiguações.
Rovisco Duarte disse mesmo, após várias semanas sem receber um relatório sobe o sucedido nesse curso, ter-lhe dado um prazo de dias para o fazer ou avocava o caso.
Outro foi o da nomeação de militares comandos para a República Centro-Africana que tinham sido instrutores no curso onde tinham morrido dois recrutas e sobre os quais havia processos a correr: depois de ter ordenado que nenhum deles integrasse a força de capacetes azuis face ás regras da ONU e de a sua cadeia hierárquica lhe ter garantido que não havia ninguém nessa situação, Rovisco Duarte disse aos deputados ter ido verificar ao local - comprovando que afinal havia vários nomeados.
O general indicou depois situações de problemas nos paióis de Tancos que podiam ser resolvidos - e não foram - pelos responsáveis das unidades envolvidas na sua segurança ou pelos comandos das Forças Terrestres e da Logística: mudar lâmpadas fundidas, tapar buracos das vedações, instalar fio para ter linhas telefónicas ou desmatar o terreno em volta das instalações.
Na Logística e no Comando das Forças Terrestres "tinham dinheiro e meios" para resolver muitas daquelas "coisas simples", assegurou o ex-CEME, questionando depois um sistema de escalas de segurança que colocava oito militares a tomar conta dos paióis durante um fim de semana apesar de o regulamento interno estabelecer três dias de folga após 24 horas de serviço.
"Tancos não era uma prioridade" para os responsáveis das unidades locais e em especial dos comandantes da Logística - então o tenente-general Fernando Serafino - e das Forças Terrestres, face ao teor dos relatórios feitos durante anos.
Por isso é que "objetivamente são razões pessoais" que levaram Faria Menezes e Antunes Calçada a demitir-se, especificamente o primeiro e também por "razões de carreira" - que antes e várias vezes o pressionara a revelar quem iria ser o futuro vice-CEME (algo que ele recusou fazer).
"Sou um homem de ação, o caminho do conforto não é para mim", limitando-me a abrir processos e ficar à espera. "Quem me conhece sabia que não ia estar com paninhos quentes" e iria controlar a execução dos processos internos, visitando os locais - como a República Centro-Africana, onde resolveu problemas que lhe tinham sido minimizados por Faria Menezes - e rejeitando pressões.
Para Rovisco Duarte, o problema de Tancos tinha "natureza estrutural" - apesar do eventual "desleixo" do passado - e exigia "um choque" para fazer mexer as coisas.
"Tinha de fazer algo, abanar a instituição em vez de ficar tranquilo" e garantir que os comandantes das unidades "nunca mais ficam tranquilos sentados" apesar dos problemas existentes e documentados.
Tendo iniciado a sua audição a elencar o seu longo percurso militar e experiência como comandante em várias unidades e postos, Rovisco Duarte desabafou perante o deputrado Telmo Correia (CDS): "Havia comandantes" das unidades responsáveis pela segurança de Tancos "que não conheciam os paióis."
"Tinha de provocar o choque" no Exército, dada a "estupefação geral" dos portugueses, pelo que "havia que dar resposta" a isso - daí as pressões que disse existirem quando decidiu exonerar os cinco comandantes.
"Eu não iria temporizar" com as situações de que foi tomando conhecimento na sexta-feira e no sábado seguintes à descoberta do furto, insistiu Rovisco Duarte, desafiando mesmo a que fossem pedidas as gravações dos muitos telefonemas que recebeu e fez durante essa altura para efeitos da acareação requerida pelo PSD.