Paulo Portas "irrevogável". Foi há cinco anos
O então ministro dos Negócios Estrangeiros não gostou de saber que Maria Luís Albuquerque ia para o lugar de Vítor Gaspar. E bateu com a porta, sem ninguém saber. Durou quatro dias
Dia 2 de julho, terça-feira, pelas 16.20, a bomba caiu cheia de estilhaços: Paulo Portas, então ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, tinha apresentado a sua demissão na manhã desse dia de 2013, e era "irrevogável". Afinal, durou quatro dias o pedido que o primeiro-ministro à época, Pedro Passos Coelho, nunca aceitou. Passam hoje cinco anos.
Em causa estava a escolha de Maria Luís Albuquerque, secretária de Estado do Tesouro, para substituir Vítor Gaspar, o ministro das Finanças que se tinha demitido na véspera por ser "inadiável" a sua saída. Para Portas, Maria Luís era, depreciativamente, um "Gaspar de saias". E resolveu bater com a porta, sem ninguém saber.
O presidente do CDS, parceiro governamental do PSD, notava então, na mesmíssima carta de demissão "irrevogável", que tinha "conhecidas diferenças políticas" com Gaspar. Para Portas, a saída do ministro que tinha promovido o "enorme aumento de impostos" deveria "permitir abrir um ciclo político e económico diferente". Assim, a sucessão nas Finanças teria de representar uma "escolha feita pelo primeiro-ministro" que "teria de ser especialmente cuidadosa e consensual".
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Portas recordou que tinha "atempadamente" apresentado "este ponto de vista ao primeiro-ministro que, ainda assim, confirmou a sua escolha". Maria Luís Albuquerque tomava posse nessa terça-feira, às 17.00 em Belém, e aquilo que se assistiu foi uma cerimónia quase fúnebre, na qual o Presidente da República, o primeiro-ministro e restantes governantes, a começar pela empossada, mantinham uma cara fechada.
Só Gaspar sorria, numa tomada de posse de que os centristas se ausentaram: Assunção Cristas e Pedro Mota Soares, que eram ministros (e continuariam) faltaram à cerimónia, entre os membros do CDS reinava a confusão, Portas não atendia chamadas, nem respondia a SMS. Estava a ser consequente, como escrevia na sua carta de demissão na ortografia antiga: "Em consequência, e tendo em atenção a importância decisiva do Ministério das Finanças, ficar no Governo seria um acto de dissimulação. Não é politicamente sustentável, nem é pessoalmente exigível." Para Portas, o responsável era Passos: "O Primeiro-Ministro entendeu seguir o caminho da mera continuidade no Ministério das Finanças. Respeito mas discordo."
A discordância de orientações durou quatro dias. Passos reagiu ainda na terça-feira a recusar a queda do Governo e a demissão de Portas: "Não me demito, não abandono o meu país" - e obrigando o líder do CDS a conversar. Portas revogou o irrevogável e ficou vice-primeiro-ministro.