Marcelo Rebelo de Sousa: "Arranjem a vossa vida e vão votar"

Urnas abriram às 8 da manhã. 10,7 milhões de portugueses elegem os 21 representantes para o Parlamento Europeu.

"Os portugueses que arranjem a sua vida", "os portugueses que ponham a mão na consciência" e que votem. Marcelo Rebelo de Sousa, que votou na freguesia de Veade, em Celorico de Bastos, terra da sua avó Joaquina, não entende que não haja interesse em exercer o direito de voto quando há 17 listas por onde escolher.

"Acho que os cidadãos têm que perceber que se se abstiverem não têm grande autoridade para criticar os políticos." Marcelo mostrou-se desiludido com os primeiros números da participação eleitoral neste domingo em que os portugueses escolhem os seus 21 representantes no Parlamento Europeu: ao meio-dia tinham votado apenas 11,56 por cento dos eleitores.

Os números desagradam o Presidente que os considerou muito parecidos com os registados há cinco anos e que revelam que, pelo menos até esta hora, o forte apelo que sábado fez à participação eleitoral não estava a resultar. "É uma péssima situação para a democracia e para o pluralismo."

O Presidente dirigiu-se várias vezes aos portugueses, dizendo-lhes que "arranjem a sua vida", que vão para o campo ou para a praia, mas que encontrem tempo para votar. Na altura em que falou, às 13 horas, frisou, ainda tinham seis horas para se organizarem.

"Seria péssima notícia que só 20 ou 25 por cento dos portugueses fossem votar", afirmou o chefe de Estado. Em 2014, a abstenção ficou-se em 66,1% e Marcelo teme, pois, que possa chegar aos astronómicos 75%.

Escolha, sublinha o Presidente, é coisa que não falta - "quase dúzia e meia". "Não ir [votar] não pode ter como alibí que não tinha escolhas."

E para aqueles que entendem que o voto é mais importante nas legislativas - que se realizam em outubro - fez questão de dizer que "um voto nunca fica guardado para outra votação. E se amanhã ficar tarde, se ficar mais complicado, se não puder ir?"

Todos os líderes já votaram

Antes do meio-dia, todos os líderes dos partidos com assento parlamentar tinham votado: Rui Rio foi o último a fazê-lo, enquanto Assunção Cristas foi a mais madrugadora. O denominador comum a todas as intervenções, de António Costa a André Freire, foi a preocupação com a abstenção e o apelo a que os portugueses entendam que as instituições europeias podem parecer distantes, mas tomam decisões que interferem no quotidiano dos portugueses.

Durante a tarde, antes de rumarem aos respetivos quartéis-generais, tanto António Costa (PS), Rui Rio (PSD), Jerónimo de Sousa (PCP) e Catarina Martins (BE) e Assunção Cristas (CDS) vão ficar em casa, com as famílias. Costa e Rio contaram que vão aproveitar para pôr algum trabalho em dia.

Os cabeças-de-lista dos principais partidos - além de Marinho e Pinto que foi eleito em 2014 pelo MPT e agora concorre pelo PDR - também já exerceram o seu direito de voto.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ainda não votou porque se desloca do Porto a Celorico de Basto, distrito de Braga, onde está recenseado.

Uma das novidades destas eleições, foi a possibilidade dos invisuais votarem sozinhos - passou a haver um boletim em braille, que funciona com uma matriz. A secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, que é cega, foi o rosto desta novidade ou votar autonomamente em Vila Franca de Xira.

"O voto é absolutamente igual aos outros. Não se pode distinguir depois na urna qual é o nosso voto. É um grande passo em nome da autodeterminação das pessoas com deficiência e do seu exercício político", disse a governante.

A manhã foi igualmente marcada por um boicote em Montalegre, onde a população de Morgade fechou a cadeado a secção de voto em protesto contra a futura exploração de uma mina de lítio a céu aberto. Mesmo depois da mesa de voto ser aberta, os eleitores mantiveram-se arredados.

Marinho e Pinto diz que a liberdade e a paz estão em causa

Marinho e Pinto, que nas eleições de 2014 foi a grande surpresa das europeias ao eleger dois deputados pelo MPT, já votou em Coimbra. Mas desta vez é cabeça-de-lista pelo PDR, partido que entretanto criou.

"A Europa está ameaçada. É a democracia, a paz e o pluralismo que estão ameaçados", disse Marinho e Pinto, sublinhando que na Europa há pulsões belicistas: "Acho que mais do que a reforma, que o projeto europeu é a democracia, o pluralismo, a liberdade e a paz que está em causa."

Rui Rio: "Há 17 partidos e até o voto em branco e o nulo"

Rui Rio foi o último líder dos partidos com assento parlamentar a votar. A abstenção foi o tema principal das suas palavras: "Se tiver os mesmos níveis da última vez [66,1%] é uma derrota para todos, mas também não é uma vitória para quem não votou.

O líder social-democrata lembrou aos eleitores que têm 19 opções: "Há 17 partidos mais a possibilidade do voto em branco e o voto nulo, por isso, não se justifica não virem."

Rui Rio não está com paninhos quentes e afirma que a mensagem europeia, mais uma vez, não passou. "Como se faz? Não temos, e os outros protagonistas também não, a fórmula mágica." E mais"Temos de ser mais criativos."

Sobre as expectativas quanrto aos resultados eleitorais, Rio disse que "seja o resultdo que for está tudo bem, foi o povo que quis".

André Silva: "UE toma decisões definidoras da nossa vida"

André Silva, o único deputado do PAN, votou numa escola secundária nos Olivais, em Lisboa, e apelou aos portugueses para que "cumpram o seu dever cívico" e não deixem que "os outros possam escolher por si" nas eleições europeias.

Em declarações à agência Lusa, depois de exercer o direito de voto, o líder do Pessoas-Animais-Natureza (PAN) disse esperar que a abstenção seja "o mais reduzida possível", pelo menos "mais reduzida do que há cinco anos".

André Silva salientou que "todas as forças políticas", assim como o PAN, apelaram ao longo das últimas semanas aos portugueses para que "cumpram o seu dever cívico e que acima de tudo não deixem que os outros possam escolher por si numas eleições que são tão importantes". "Cada vez mais as instituições europeias tomam medidas importantes, estruturantes, definidoras da nossa vida para os próximos anos", sublinhou.

Jerónimo fala do ato de liberdade que é votar

Jerónimo de Sousa já é um habitué no Centro Desportivo de Pirescoxe - é lá que vai beber café, é lá que vai jogar ás cartas e é lá que vota desde 1975. Este domingo foi lá que, mais uma vez, depositou o seu voto. E foi desta aldeia de Santa Iria da Azóia que lançou o apelo para que "os portugueses vão exercer o ato de liberdade que é votar".

Para o líder do Partido Comunista, o importante é que os portugueses façam a sua escolha participando para "defender os interesses de Portugal na União europeia e Portugal ter voz no Parlamento Europeu." Aos jovens, apelou a que "tomem nas suas mãos o destino para onde querem ir."

Nuno Melo lembra os fundos que vêm da UE

"Em 2019 é o projeto europeu que está em causa." Nuno Melo, cabeça-de-lista do CDS começou assim o seu apelo à participação dos portugueses nas eleições deste domingo que elegem 21 deputados portugueses ao Parlamento Europeu. Para logo lembrar que, para países como Portugal, em causa estão também a atribuição de fundos para infraestruturas como escolas, estradas, hospitais.

O democrata-cristão percebe a tentação que os portugueses possam sentir num dia tão soalheiro e deu-lhes uma sugestão: "Votem antes de irem à praia, ou depois de virem da praia." Porque entende que era importante que os portugueses dessem um sinal à Europa, descendo a taxa de abstenção - no sufrágio de 2014 cifrou-se nos 66,1%.

Rangel: "Não deixem a vossa decisão para outros"

Paulo Rangel votou no Porto e fez o tradicional apelo ao voto: "O meu apelo é para que os portugueses vão votar e não deixem a sua decisão para outros."

O cabeça-de-lista do PSD, que ficará o resto do dia no Porto, já que é lá que o líder Rui Rio instalou o quartel-general dos sociais-democratas, recordou que este sufrágio "é muito relevante para a vida dos europeus" já que a União Europeia toma decisões que influenciam o seu quotidiano. Mas também reconheceu que há uma grande distância entre os cidadãos e as instituições, desde logo uma distância física, que pode justificar o desinteresse nestas eleições.

Quanto aos valores esperados para a abstenção (que pode chegar aos 70%), Rangel lembrou que há mais 1,3 milhões de emigrantes a votarem, em resultado das alterações ao recenseamento, e que isso pode "falsear esses resultados."

Pedro Marques: "Exerçam o direito de voto, que custou tanto a conquistar"

Na outra margem do Tejo, quase à mesma hora de António Costa, o cabeça-de-lista dos socialistas votava em Alcochete. Mostrando-se particularmente preocupado com a abstenção que se possa registar nestas eleições europeias.

"A abstenção é o nosso maior adversário. Peço aos portugueses que exerçam o seu direito de voto, um direito que custou tanto a conquistar, pela Europa e pela democracia", afirmou o antigo ministro.

Pedro Marques não deixou também de fazer um apelo aos jovens, que nasceram já no grande espaço europeu. "é muito importante que os jovens sintam a Europa e venham votar."

Costa: "Temos o dever, o direito e a ambição de votar na construção da Europa"

Mal terminou de votar - o que fez pela primeira vez em Benfica, porque mudou de residência - António Costa disse que partilha das palavras do Presidente da República no forte apelo que fez ao voto. E lembrou aos portugueses que "este é exatamente o momento em que somos todos iguais no exercício do poder". "Somos todos iguais e essa é a grande qualidade da democracia."

O primeiro-ministro fez ainda questão de sublinhar: "Temos o dever, o direito e a ambição de votar na construção da Europa." E recordou que as grandes decisões da nossa vida são tomadas na Europa, não por órgãos nomeados, mas eleitos. Razão que o levou a, mais uma vez, apelar ao exercício do voto.

"E não devemos desaproveitar essa oportunidade. Portugal é, há muitos anos, membro da União Europeia, temos todos o dever, o direito e a ambição de participar na construção da Europa e de dizer também, na Europa, o que é que nós queremos para o futuro da união em que participamos", destacou Costa.

Durante o dia, o chefe do Governo vai estar em casa, até porque disse, tem várias tarefas domésticas atrasadas por causa destas duas semanas em campanha.

João Ferreira lembra que urnas estão abertas até às 19 horas

João Ferreira, cabeça-de-lista da CDU às eleições europeias deste domingo também já votou. À semelhança dos outros políticos que já depositaram o seu voto na urna, fez um apelo à participação dos eleitores.

Dizendo que se está a atravessar "momentos muito importantes", frisou ser fundamental ir votar. "Está um dia muito bonito, que convida a sair de casa. Infelizmente há muita gente que está a trabalhar, mas as urnas estão abertas até às 19 horas", sublinhou.

Pela parte da CDU, disse, tudo fizeram para que a campanha fosse informativa e explicativa.

Catarina Martins: "Deixar as decisões a uma pequena minoria é um erro"

Catarina Martins chegou às 10 em ponto à Escola Secundária Almeida Garrett, em Vila Nova de Gaia, e não teve que esperar para exercer o seu direito de voto. Por isso, fez um forte apelo aos eleitores para que vão votar este domingo "e exerçam o poder de fazer ouvir a sua voz".

"Nos próximos tempos vão ser tomadas decisões muito importantes da nossa vida coletiva. Deixar essas decisões a uma pequena minoria é um erro", apelou a a líder do Bloco de Esquerda.

E mais: "O apelo que faço é o apelo que faz toda a gente que leva a democracia a sério: que os portugueses venham votar."

Marisa Matias: "É importante que as pessoas queiram decidir"

Marisa Matias votou em Coimbra pouco depois das 09.30. A cabeça-de-lista do Bloco de Esquerda - a única mulher em 17 listas - falou da importância dos portugueses irem votar e de "tomarem o futuro nas suas mãos".

Sobre as mudanças introduzidas no sistema eleitoral - que acabou com o cartão de eleitor e permite votar apenas com o cartão do cidadão - Marisa disse que as mesas de voto estão bem organizadas e que "facilmente as pessoas encontram o seu lugar". Logo, estas alterações, que em alguns casos poderão ditar a mudança do habitual local de voto, não devem ser um convite à abstenção.

"É importante é que as pessoas queiram decidir", disse Marisa Matias, que passará o dia em casa e depois virá para Lisboa, para acompanhar a noite eleitoral na sede do Bloco de Esquerda.

Montalegre. Mesa de voto fechada com cadeados contra o lítio

A mesa de voto da Junta de Freguesia de Morgade, em Montalegre, estava a manhã deste domingo fechada, com os portões encerrados a cadeado.

De acordo com o presidente da Junta local, José Nogueira, "tudo indica" que o protesto estará relacionado com o descontentamento da população contra uma mina de lítio a céu aberto anunciada para esta localidade, numa altura em que já foi assinado o contrato de exploração entre o Estado português e a empresa Lusorecursos.

A Associação Montalegre Com Vida, que está a ser criada para lutar contra a exploração de lítio na freguesia de Morgade, como forma de protesto, fez nos últimos dias um apelo à abstenção nas eleições europeias.

Cristas foi a primeira líder a votar

Assunção Cristas foi, pouco depois das 9 da manhã, a primeira líder partidária a exercer o seu direito de voto, em Lisboa. A presidente do CDS apelou aos portugueses para que exerçam o dever cívico e não fiquem em casa. "Não está a chover, está um bonito dia de sol para as pessoas virem votar", disse a líder do CDS.

"Há muitos assuntos que são decididos em Bruxelas e têm impacto nas nossas vidas quotidianas", disse Cristas, sublinhando que Portugal também tem uma voz na Europa.

As assembleias de voto para eleger os deputados ao Parlamento Europeu abriram este domingo s 08:00, em Portugal continental e na Madeira, e funcionam sem interrupção até às 19:00. Nos Açores, a votação também se realiza entre as 08:00 e as 19:00 locais (09:00 e 20:00 de Lisboa, devido à diferença horária de 60 minutos).

Em Portugal, estão recenseados cerca de 10,7 milhões de eleitores para a votação deste domingo, mais de um milhão do que na anterior eleição para o Parlamento Europeu, em maio de 2014.

400 milhões votam na União Europeia

Cerca de 400 milhões de eleitores dos 28 países da União Europeia elegem os 751 lugares do Parlamento Europeu, Portugal elege 21 deputados.

Em Portugal concorrem 17 forças políticas, mais uma do que em 2014.

O Presidente da República também ontem fez um apelo à participação dos portugueses nas eleições europeias, numa altura em que se teme que a abstenção possa ultrapassar os 70 por cento - há cinco anos foi de 66,1%.

Marcelo Rebelo de Sousa disse que ficar em casa é um erro e que os eleitores não devem ceder à tentação de não ir votar e se guardarem só paras as legislativas de outubro.

"Na Europa se tomam decisões que marcam o nosso presente e o nosso futuro - nas finanças, na economia, no emprego, na formação, nas escolas, no ambiente, nas estradas, no digital, na inovação", disse Marcelo

Venezuela: Poucos portugueses a votar por causa das distâncias

Os consulados-gerais de Portugal, em Caracas e Valência, na Venezuela, registaram, durante o dia de sábado pouca afluência às urnas para as eleições europeias, situação atribuída a falta de informação e às grandes distâncias a percorrer.

Elementos da secção regional do Conselho da Comunidades Portuguesas disseram à agência Lusa tratar-se de uma situação originada pela falta de informação, por desmotivação dos eleitores e, em particular, pelas grandes distâncias que alguns eleitores teriam de fazer para votar.

"As eleições estão a decorrer principalmente nos consulados-gerais e em alguns consulados honorários, no entanto há pessoas que, apesar de viverem noutros Estados, [segundo os] cadernos eleitorais, têm de votar em Caracas", disse a conselheira Maria de Lourdes Almeida.

Esta conselheira prevê que a abstenção seja maior do que nas eleições anteriores, porque, "num país onde falta a gasolina, as estradas estão em más condições, onde não há peças para [reparar] os veículos, ninguém viajará centenas de quilómetros para votar".

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