Longas filas de eleitores junto à Câmara de Lisboa para voto antecipado
A manhã foi serena e não fazia sequer adivinhar o que a tarde reservava na Praça do Município, no edifício da Câmara Municipal de Lisboa. Por volta do meio-dia, começaram a formar-se longas filas de eleitores que se inscreveram para o voto antecipado às eleições europeias.
Este é o primeiro ano em que qualquer português recenseado em território nacional poderia escolher votar antecipadamente sem apresentar qualquer justificação. Depois de uma inscrição online ou por correio entre os dias 12 e 16 de maio, ficava automaticamente validado para comparecer este domingo às urnas, entre as 8:00 e as 19:00, exatamente uma semana antes da abertura oficial das urnas.
Ao início da tarde, a fila já formava um labirinto na praça e mesmo os que já levavam um avanço e estavam dentro do edifício sopravam de impaciência. Segundo os número do Ministério da Administração Interna, inscreveram-se cerca de 20 mil eleitores em todo o país para votar neste dia e só em Lisboa são 8551. Mas neste distrito houve apenas dez mesas de voto disponíveis para todos eles e a espera chegou rondava os 40 minutos. Até na estrada o caos se fez sentir, com constrangimentos no trânsito para chegar ao centro de Lisboa. A secretária de Estado da Administração Interna, Isabel Oneto, admitiu este domingo, em declarações aos jornalistas, que o mesmo se passa em Coimbra e no Porto.
O porta-voz da Comissão Nacional de Eleições, em entrevista ao DN, explicou que a situação que se testemunha este domingo nestes locais de voto deve-se sobretudo ao facto de "quem se inscreveu para o fazer muito dificilmente se irá abster". "Por lei, é permitido entre 1000 a 1500 eleitores por cada mesa de voto, mas o que acontece num dia normal de eleições é que muitos destes não comparecem. Neste caso, a haver abstenção de qualquer destes milhares de eleitores é mínima", explica João Tiago Machado.
Mesmo o processo em si é demorado, o que o porta-voz admite também poder ser uma das razões dos atrasos. Cada boletim é entregue num envelope branco e depois depositado num outro azul, sendo por fim entregue um papel a cada um dos eleitores com uma vinheta de segurança comprovativa do voto antecipado. Estes votos, contudo, só serão contabilizados no dia 26.
Nas redes sociais, durante o dia, vários foram partilhando fotografias e vídeos da afluência aos locais de voto. Uns indignados pela organização que leva ao excesso do tempo de espera, outros a elogiar a medida que permite que não tenham de viajar quilómetros no próximo dia 26 de maio para votar. "Obrigada ao voto antecipado em mobilidade por me permitir votar sem a inconveniência de ter de fazer horas e horas de viagem no próximo fim de semana", escreviam uns. "Uma fila enorme na Praça do Município. Reunidos os requisitos para os eleitores não votarem", constataram outros.
Os tempos de espera podem ter desanimado alguns dos eleitores que acabaram por desistir de votar, admite o porta-voz da Comissão Nacional de Eleições. Os números da abstenção deste domingo só serão conhecidos nos próximos dias.
A decisão de alargar o voto antecipado é uma das novidades deste ato eleitoral, que a secretária de Estado da Administração Interna considera ser "um passo para diminuir a abstenção". Em 2014, as europeias registaram uma abstenção de 66%.
Nas últimas eleições autárquicas, em 2017, os pedidos de voto antecipado situaram-se nos 3329. Feitas as contas, desde então aumentou 488%, isto é, 16233 votos antecipados a mais do que neste ato eleitoral.
Foi em Lisboa, Porto e Coimbra que se registaram mais eleitores inscritos antes do dia 26. O primeiro com 8581, o segundo com 3014 e o terceiro com 1114 pedidos. Já na ilha do Corvo, nos Açores, apenas quatro eleitores se inscreveram para o voto antecipado.
Contudo, o alargamento do voto antecipado a todos os cidadãos sem necessidade de justificação não é a única novidade deste ano. Agora, sempre que se dirigir às urnas não precisa de levar mais do que o seu cartão de cidadão: o número de eleitor foi eliminado - e também a dor de cabeça para o decorar e lembrar todos os anos de eleições. Foi ainda criada uma matriz em Braille para uma maior autonomia dos eleitores invisuais. Além disso, os portugueses no estrangeiros ficam automaticamente inscritos para voto, o que aumentou o número de eleitores recenseados este ano, de 318.451 para 1.475.797.
Notícia corrigida às 15:19 de 22 de maio (ao contrário da informação inicialmente transmitida pela CNE, quem votou antecipadamente não pode voltar a exercer o seu voto no dia oficial das eleições)