Lança-granadas furtados só podiam ser usados como "arma de arremesso"
O anterior chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA) afirmou esta quarta-feira que os lança-granadas foguete furtados em Tancos só podiam ser usados "como arma de arremesso", pois não podiam ser disparados nem atingir as distâncias "para que foram concebidos".
O general Pina Monteiro, que cessou funções há praticamente um ano, falava perante a Comissão Parlamentar de Inquérito às consequências e responsabilidades políticas do furto do material militar ocorrido em Tancos.
Numa audição marcada pelas respostas evasivas de Pina Monteiro sobre um assunto da esfera do Exército e de que soube pela televisão, o general rejeitou a acusação que na altura lhe foi feita de apresentar os lança-granadas foguete TOW como obsoletos e para relativizar a gravidade do ocorrido.
Estarem a "fazer-se cenários mirabolantes sobre os perigos dos lança-granadas foguete" furtados foi a razão que o levou a dizer que os TOW furtados "não estavam preparados para o que foram concebidos" - porque "não era possível" dispará-los a 400 ou 600 metros. Podiam ser usados "como arma de arremesso" e mesmo assim "não disparariam".
Uma questão várias vezes repetida pelos diferentes grupos parlamentares visava saber a opinião de Pina Monteiro sobre a decisão do então chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), Rovisco Duarte, de exonerar os cinco comandantes das unidades responsáveis pela segurança dos paióis.
Considerando que é Rovisco Duarte "que tem de explicar" a sua decisão, Pina Monteiro caracterizou-a "como singular, solitária e controversa", até porque "abriu brechas na coesão do Exército".
"Mas acredito" que foi tomada por Rovisco Duarte, acrescentou, no pressuposto de que "estava fazer o melhor" e por razões ligadas à "transparência e rigor" - pelo que "não me atrevo a fazer nenhum juízo de valor" sobre ela nem sobre as demissões dos tenentes-generais Faria Menezes e Antunes Calçada.
Pina Monteiro, que não soube dessa decisão previamente e aconselharia Rovisco Duarte a esperar algum tempo se tivesse sido consultado (por ser algo que iria afetar a coesão do Exército), disse que também "não soube nada" previamente sobre a recuperação das armas.
Ao saber pelo comunicado da PJ Militar, "fiquei satisfeito, Mais tarde já não fiquei tão satisfeito", quando se percebeu que tinha sido uma entrega forjada, acrescentou Pina Monteiro.
O anterior CEMGFA - a quem caberia informar a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna, Helena Fazenda, por ser quem legalmente faz a ligação (ou articulação) com o titular daquele cargo - assegurou várias vezes não ter tido conhecimento de quaisquer pressões do poder político no sentido de ele ou o CEME tomarem determinadas decisões (como demitir os referidos comandantes das unidades ou desvalorizar a gravidade do material roubado).
Face às informações dadas por Pina Monteiro, de que os chefes do Exército "não pediram" à tutela medidas específicas para o reforço da segurança dos paióis de Tancos, Ascenso Simões (PS) anunciou que os socialistas retiravam o pedido de audição do ex-ministro social-democrata José Pedro Aguiar-Branco "porque todas as questões" relacionadas com aquela unidade militar "ficaram a nível militar".