"Chegámos ao momento-limite." PSD quer clarificação das verbas a transferir para as autarquias

Presidente dos Autarcas Sociais-Democratas diz acompanhar as preocupações manifestadas pelo Presidente da República sobre o processo de descentralização.
Publicado a
Atualizado a

O PSD quer que o governo esclareça "preto no branco" quais as verbas que pretende transferir para as autarquias no âmbito do processo de descentralização. "Chegámos ao momento-limite: o Orçamento do Estado para o próximo ano", diz ao DN Álvaro Amaro, presidente dos Autarcas Sociais-Democratas (ASD), considerando manifestamente insuficientes os dados até agora disponibilizados pelo governo.

Há pouco mais de um mês, o executivo entregou à Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) uma previsão dos valores a transferir nas áreas da educação, da saúde e do património. Para o PSD não chega, dado que o processo de transferência de competências se estende por mais de duas dezenas de áreas, muitas delas "quantificáveis". "É preciso que digam: nesta competência o Estado gasta"x" e passará "x" para cada autarquia", diz o também presidente da Câmara da Guarda, acrescentando que "o governo até agora apresentou estudos e cálculos, mas no Orçamento do Estado tem de dizer qual é o envelope financeiro de cada município".

Um dia depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter dado luz verde ao diploma que altera a Lei das Finanças Locais e à lei-quadro da descentralização, mas com muitos reparos, Álvaro Amaro diz acompanhar as preocupações manifestadas pelo Chefe do Estado. O dirigente social-democrata - que conduziu as negociações que terminaram com um acordo, em abril, entre o PSD e o governo em matéria de descentralização - diz ao DN que o "Presidente tem razão", mas que cabe agora ao executivo precisar quer as competências (o que será feito em diplomas setoriais) quer os valores financeiros a transferir.

Numa nota a acompanhar a promulgação dos dois textos, o Presidente da República salienta várias preocupações, face à "generalidade e abstração" dos diplomas. E aponta a "sustentabilidade financeira" da transferência de novas competências para as autarquias locais; o "risco de essa transferência poder ser lida como mero alijar de responsabilidades do Estado"; a "preocupação com o não agravamento das desigualdades entre autarquias"; a exequibilidade das medidas aprovadas e o seu possível impacto nas finanças públicas; e o não afastamento "excessivo e irreversível do Estado de áreas específicas em que seja essencial o seu papel".

Álvaro Amaro reclama para o PSD alguns passos dados no sentido das preocupações agora manifestadas por Marcelo Rebelo de Sousa. "Conseguimos impulsionar fatores de coesão territorial, a temporalização da transferência de competências, alguma quantificação dos envelopes financeiros. Se não tivéssemos feito o acordo não havia nada disto", defende o autarca, admitindo que o que está estabelecido na lei-quadro da descentralização "é poucochinho" - "toda a gente reconhece que é muito pouco na substância".

Porquê então o voto favorável dos sociais-democratas na Assembleia da República? "Porque poucochinho é melhor do que nada", contrapõe, defendendo que o verdadeiro processo de descentralização terá o pontapé de saída a partir de setembro, quando uma comissão independente (ainda por nomear) iniciar um estudo sobre este tema, que deverá ficar concluído até ao final da próxima sessão legislativa, em julho.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt