Guterres em Lisboa: "É indispensável evitar escalada de tensão" no Golfo Pérsico
Secretário-Geral da ONU falou da tensão entre EUA e Irão, à margem do encerramento da conferência sobre juventude em Lisboa, onde apelou para que os jovens sejam chamados a participar nas decisões.
"Não sei o que é mais difícil, se é ser primeiro-ministro de Portugal se secretário-geral das Nações Unidas". Vinte e um anos depois de ter sido o anfitrião da primeira Conferência Mundial de Ministros Responsáveis pela Juventude, enquanto primeiro-ministro português, António Guterres está este domingo em Lisboa para encerrar a segunda edição deste encontro, agora como responsável máximo da ONU. E foi a lembrar a evolução do mundo nestas duas décadas que Guterres exortou os jovens a liderar os grandes combates deste tempo, a "continuar a traçar metas ambiciosas" e a "testar limites". Uma ambição que é tanto mais necessária quando "hoje vivemos uma hora que tem de ser de mudança".
E, para que essa mudança aconteça, defende o secretário-geral da ONU, "não é suficiente ouvir os jovens", é preciso que eles se sentem à mesa onde são tomadas as decisões, fazendo parte delas.
"Das ações pelo clima à poluição do plástico, da revolução da energia limpa à igualdade de género, a geração mais jovem está a enfrentar os desafios. E a minha geração está a começar a entender que os jovens podem e devem liderar. A tarefa para os que estão no poder não é resolver os problemas dos jovens, mas construir um enquadramento para que eles possam contribuir para resolver os seus problemas", defendeu o secretário-geral das Nações Unidas.
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O desafio à "mais numerosa geração da História"
"Nestes 21 anos percorremos todos um longo caminho", começou por dizer António Guterres, lembrando que em 1998 a "Internet dava os primeiros passos", ainda não era evidente a "ameaça existencial das alterações climáticas".
Vinte e um ano depois há "mais 2000 milhões de pessoas no mundo" e a "mais numerosa geração jovem da História", que enfrenta desafios novos, e um em especial - "Sem ação na situação de emergência climática esta geração pode enfrentar consequências devastadoras". Sobre o qual, volta a insistir o secretário-geral ad ONU, não está a ser feito o suficiente: "A minha geração falhou na resposta às alterações climáticas".
Guterres acredita que a nova geração está a preparar-se para os desafios que vai enfrentar e destacou a "liderança inspiradora que os jovens têm demonstrado nas mais diversas áreas". "Estou convosco neste caminho", acrescentou no discurso de encerramento, acrescentando que, a propósito dos 75 anos sobre a fundação da ONU que se vão assinalar em 2020, quer ouvir os jovens "sobre o que deve ser feito nos próximos anos".
Tensão Estados Unidos/Irão. "É indispensável evitar qualquer escalada"
À margem da conferência, António Guterres referiu-se à situação na região do Golfo Pérsico para defender que é preciso "evitar qualquer escalada" de tensão, face ao agravamento das relações entre os Estados Unidos e o Irão nos últimos dias.
"Neste momento vivemos no Golfo uma situação de grande tensão, como é sabido. Disse há dois dias que é preciso que todos tenham nervos de aço. É absolutamente indispensável evitar qualquer escalada", sublinhou o secretário-geral da ONU, citado pela agência Lusa, acrescentando que "o mundo de hoje não pode suportar uma confrontação no Golfo, que teria consequências imprevisíveis".
O clima de tensão entre o Irão e os Estados Unidos dura há bastante tempo, mas a crispação tem aumentado desde que Donald Trump retirou os Estados Unidos, há um ano, do acordo nuclear internacional assinado em 2015 entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança - Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China (mais a Alemanha) - e o Irão, restaurando sanções devastadoras para a economia iraniana.
No sábado, Donald Trump, admitiu que o uso da força contra o Irão "está sempre em cima da mesa". Esta declaração surgiu depois de, na quinta-feira, ter havido a confirmação de que o Irão tinha abatido um drone americano -- que, segundo Teerão, violou o espaço aéreo nacional, mas, de acordo com Washington, estava em espaço aéreo internacional.
Donald Trump anunciou, como retaliação, um ataque contra três locais no Irão, o qual foi abortado, à última hora, segundo Trump para evitar um elevado número de mortos.
Na sexta-feira, os Estados Unidos pediram a realização de uma reunião à porta fechada do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para falar sobre os últimos desenvolvimentos relacionados com o Irão, o que deverá acontecer na segunda-feira.