Sisley, Clarins e Lauder. O peso dos apelidos nos negócios de família
Christine d"Ornano, Prisca Courtin-Clarins e Jane Lauder estão à frente dos maiores impérios da cosmética mundial
Christine d"Ornano tem 42 anos. Quando olha para o seu passado profissional descreve-o como uma "aventura familiar em que todos, pais e filhos, participaram". Os perfumes Eau de Campagne e Eau du Soir trazem-lhe à memória a infância: o pai trazia no bolso um lenço embebido naquela fragância; quando a mãe a beijava ao cair da noite, deixava-lhe no quarto este aroma.
D"Ornano é hoje uma das herdeiras do império de cosméticos francês Sisley. A mais nova de cinco irmãos e filha de Isabelle e Hubert d"Ornano, criadores da marca agora comercializada em todo o mundo, podia apenas viver dos lucros do negócio, mas optou, também ela, por contribuir para o mesmo.
"Um sucesso familiar não se resume à questão do dinheiro, isso seria um presente envenenado. O facto de ter sido e continuar a ser uma grande aventura é fundamental", justifica a própria, que quer transmitir o que recebeu dos pais às três filhas, na esperança de assegurar a continuidade da Sisley no seio familiar. "Elas sentem-se fascinadas por este universo", garante, acreditando que uma das três (Christine d"Ornano é mãe de duas gémeas, de 12 anos, e de uma terceira menina, de 9) "tomará as rédeas" da empresa de cosméticos que emprega mais de quatro mil pessoas e fatura 500 milhões de euros por ano.

Christine D'Ornano é a mais nova dos cinco filhos de Isabelle e Hubert D'Ornano, criadores da empresa de cosméticos Sisley
© DR
A sua história é semelhante às das norte-americanas Prisca Courtin-Clarins e Jane Lauder, também elas orgulhosas de carregarem o peso dos respetivos apelidos. A primeira tem 29 anos. Das quatro netas de Jacques Courtin-Clarins, fundador da marca Clarins, é a única morena. E também a única a não virar as costas à parte empresarial do império construído pela família: é ela a responsável pela linha My Blend e pela cadeia de spa do grupo. "A minha maior tristeza é que, quando tiver filhos [Prisca Courtin-Clarins casa-se em 2017], eles não vão conhecer pessoalmente o meu avô. Mas vou mostrar-lhes filmes dele, explicar--lhes quais foram as suas primeiras criações, falar-lhes dos óleos e de como ele me ensinou", confessa em entrevista à revista francesa Elle.
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Trabalhar na Clarins estava-lhe destinado, ou não tivesse o avô, Jacques Courtin-Clarins, envolvido os descendentes em todos os processos de criação. "Ele perguntava-nos [a Prisca, à irmã e às primas] tudo, como se fôssemos adultas. Perguntava-nos o que achávamos das texturas, dos cheiros, dos nomes... Eu sempre soube que ia trabalhar na Clarins. Em outro lugar era impensável", explicou à mesma publicação. Hoje, este negócio familiar fatura anualmente cerca de 1,5 milhões de euros.
O avô para Prisca e a avó para Jane Lauder. A neta de Estée Lauder, que deu o seu nome à marca de cosméticos criada para dar às mulheres uma oportunidade para se sentirem bonitas, é responsável pela Clinique, do mesmo grupo. É através desta que mantém vivo o sonho da fundadora. "Ela conseguiu ter uma carreira e ser ao mesmo tempo mulher e mãe e isso inspirou-me muito. A história da minha avó [filha de imi-grantes judaico-húngaros] mostra que, quando temos os nossos objetivos, podemos torná-los realidade."
Trazer o passado para o presente

Prisca Courtin-Clarins é a única neta de Jacques Courtin-Clarins a trabalhar na parte empresarial da Clarins
© DR
Sisley, Clarins e Lauder. Estas três mulheres carregam o peso dos apelidos e os negócios das famílias. Assimilaram os seus passados, mas sempre a olhar para o futuro. Viver num mundo cada vez mais global não as assusta e as armas que se poderiam virar contra si são, afinal, suas aliadas. "Eu sou uma nativa digital. Compreender as redes sociais ajuda-me a chegar aos consumidores jovens", revela Prisca Courtin--Clarins, cuja juventude a leva a ter "muitos debates" no seio da empresa, para onde leva o seu "ponto de vista de mulher jovem sobre a imagem de determinados produtos".
Também Jane Lauder, de 42 anos, considera fundamental o papel das redes sociais para a sua empresa - cujos lucros rondam os mil milhões de euros e para a qual trabalham cerca de dez mil pessoas. E, se os negócios são primordiais, cuidar de si também. Tal como a avó. "[Ser mulher] é um trabalho a tempo inteiro. Ir à manicure, à pedicure, ao cabeleireiro... Requer tempo e dinheiro e, por vezes, é complicado ter uma agenda que nos permita esses momentos. Mas as mulheres estão feitas para acumular tarefas", avança.
O apelido D"Ornano faz-se notar em quatro frentes: além da Sisley, a família é fundadora da Lancôme, Jean d"Albret e Orlane. Christine juntou-se ao negócio depois de se ter licenciado em Literatura na Universidade de Princeton e trabalhado nas lojas Saks da 5.ª Avenida nos EUA. Hoje, gere-o a partir de Londres. O peso do nome que carrega também tem cheiro: o da mãe. "O meu perfume? Eau du Soir. Nunca usei outro."