Harvey Weinstein pagou um milhão de dólares para silenciar modelo italiana

Ambra Battilana Gutierrez disse que assinou um acordo de confidencialidade antes de saber que produtor tinha um padrão de abusos
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O produtor Harvey Weinstein pagou um milhão de dólares (852 mil euros) para silenciar uma modelo italiana, que o acusou em 2015 de a apalpar, depois de os procuradores terem decidido não o acusar, informou hoje a revista New Yorker.

Nos anos 1990, acrescentou a publicação, tinha sido o irmão de Weinstein a pagar a outras acusadoras, da sua conta pessoal.

Ambra Battilana Gutierrez disse à The New Yorker que assinou um acordo de confidencialidade antes de saber que esta importante figura de Hollywood tinha um padrão de assediar e abusar sexualmente de mulheres. Mas sentiu-se pressionada para assinar o documento.

"Nem sequer percebia o que estava a fazer com aqueles papéis todos. Eu estava realmente desorientada. O meu inglês era muito mau. Todas as palavras nesse acordo eram muito difíceis de compreender. Ainda hoje penso que não compreendi tudo", disse à New Yorker.

Lembrou que, no outro lado da mesa, o advogado de Weinstein tremia visivelmente quando ela pegou na caneta.

"Vi-o a tremer e compreendi a dimensão da situação. Mas então pensei que precisava de apoiar a minha mãe e o meu irmão e como a minha vida tinha sido destruída, e assinei", disse.

Os advogados de Weinstein - Blair Berk e Ben Brafman -- afirmaram à revista, em comunicado, que, como há investigações em curso, seria inapropriado responder a todos os detalhes do artigo.

"Basta dizer que o senhor Weinstein contesta fortemente qualquer sugestão de que a sua conduta em alguma altura tenha sido contrária à lei", segundo a declaração publicada na revista. "Tenham a certeza de que iremos responder em qualquer fórum legal apropriado, quando for necessário, e esperamos completamente que Weinstein vai triunfar contra qualquer acusação de mau comportamento legal", acentuaram.

Gutierrez tinha dito à polícia que o produtor cinematográfico tinha-lhe tocado nas coxas e agarrado as mamas, perguntando "são verdadeiras?", durante um encontro no seu escritório em Manhattan, em 27 de março de 20155.

Os investigadores ouviram uma chamada telefónica entre os dois e levaram a modelo a gravar um encontro pessoal, durante o qual Weinstein alternou entre tentar persuadi-la a ir para o seu quarto de hotel e desculpar-se pelo seu comportamento no escritório.

Não foram feitas acusações, porque o procurador distrital concluiu que não tinham suporte.

Gutierrez disse à revista que esta decisão chocou-a.

"Tínhamos tanta prova de tanta coisa. Todos me diziam: 'Parabéns. Parámos um monstro'", declarou.

Depois da recente vaga de alegações contra Weinstein ter colocado esta decisão sob escrutínio, o principal adjunto do procurador Cyrus Vance do distrito de Manhattan afirmou que a polícia tinha arranjado o encontro de 2015 sem o conhecimento dos procuradores e que tinha havido outras 'questões de prova'.

Mas o Departamento da Polícia nova-iorquina assegurou que tinha usado técnicas de investigação para apresentar aos procuradores uma gravação que corroborava a queixa de Gutierrez, outras declarações e mais informação.

Weinstein também pediu ao irmão e parceiro de negócios para resolver queixas feitas por duas mulheres, após o que este lhes enviou a 250 mil libras esterlinas (282 mil euros), informou a revista.

Bob Weinstein disse à New Yorker que não fazia a menor ideia sobre a razão do pagamento.

O New York Times divulgou uma série de alegações de assédio sexual contra Harvey Weinstein, conduzindo ao seu despedimento da companhia que ele cofundou e à sua expulsão da organização que promove os Prémios da Academia. Desde então, mais de 100 mulheres vieram a público contar episódios similares de assédio ou ataque sexual.

Por norma, a agência AP não identifica pessoas que se queixam de ser vítimas de ataque sexual, a não ser que falem publicamente, como foi o caso de Gutierrez.

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