Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, diz que “a direita portuguesa acha que uma rusga ocasional [a do Martim Moniz], desproporcional e sem resultados relevantes é a chave para a segurança dos portugueses”; Luís Montenegro, primeiro-ministro, em entrevista ao DN, diz “nunca” ter feito qualquer “associação entre imigração e insegurança” e que a “nossa visão [a do PSD e CDS] não é uma visão securitária”. É antes, diz, uma “visão” de “responsabilidade, de humildade e de respeito pelos direitos das pessoas”..No entanto, e tal como os partidos da esquerda, também o primeiro-ministro diz não ter gostado de ver as imagens [a fotografia de pessoas de mãos encostadas à parede] da ação da PSP no Martim Moniz. Pedro Nuno Santos já tinha ido mais longe nas criticas ao dizer estar também “revoltado” com “a Direção Nacional da PSP”..“Sinto-me triste, envergonhado enquanto político e revoltado com o Governo do nosso país, mas também com a direção nacional da PSP”, disse na altura o secretário-geral socialista..“Sou muito honesto, também não gostei de ver. No sentido visual, não gostei de ver. É uma situação anómala, que não é o dia a dia”, admitiu Luís Montenegro, em entrevista do DN..O que acrescentou com a “mesma honestidade”? “Lembro-me de ter visto muitas mais imagens daquelas [referência aos governos de António Costa]. Até noutro tipo de operação policial, de rusgas, nomeadamente com fenómenos ligados à noite, discotecas que foram alvo de rusgas em que as pessoas, normalmente miúdos e miúdas jovens saíram de tiveram de fazer o mesmo que estas pessoas” no Martim Moniz - encostarem as mãos à parede por ordem da polícia..Pedro Nuno Santos, sem fazer referência direta às palavras de Luís Montenegro e contrariando a “dimensão subjetiva” de um “sentimento de insegurança” que o primeiro-ministro diz serem “perceções que todos temos”, sustenta que “se Portugal é um dos países mais seguros do mundo, é porque os diferentes governos do Partido Socialista o permitiram”..E acrescenta até que “o PS sempre foi mais eficaz a garantir a segurança dos portugueses” do que a direita..Uma eficácia que diz ser uma “herança” entregue pelo PS ao Governo da AD - que considera, como Luís Montenegro já o disse, Portugal um “país seguro” -, mas que terá um responsável claro se o cenário mudar..“Tendo este governo recebido uma herança reconhecidamente positiva nesta área, como já referido por diversas vezes pelo Primeiro-Ministro, se a insegurança se agravar nos próximos anos, tal será da responsabilidade do Primeiro-Ministro e do seu governo”, avisa o secretário-geral socialista..O que tinha dito Luís Montenegro? “Não há nenhuma sociedade que tenha a garantia de manter de forma indefinida no tempo os seus índices de segurança ou insegurança”..Para justificar o conceito, o primeiro-ministro dá o exemplo da Suécia e da Bélgica que “há 10, 15 anos, tinham bons índices de segurança e hoje são países com graves problemas de segurança”..Para o caso português, e referindo ter já “alguns indícios de focos de criminalidade violenta” para além das “perceções”, Luís Montenegro diz ser necessário que se tenha “a humildade cívica de entender que se nada fizermos, as coisas podem mudar, podem descambar”..Pedro Nuno Santos, nesse sentido, aponta para já três caminhos: primeiro, que “a segurança é mantida de forma mais eficaz através de estratégias assentes no policiamento de proximidade, regular e permanente”; segundo, através da “instalação das câmaras de vídeo vigilância, já aprovadas, para as zonas de maior risco”; e terceiro, por via de investimento no espaço público”..E dá até o exemplo, para capital, da necessidade da “existência de iluminação pública (a primeira é da responsabilidade do governo e as últimas são da responsabilidade da Câmara Municipal de Lisboa)”..Ainda sem “dados finais”, o primeiro-ministro revelou saber, pelos “indícios” já recolhidos, que “a criminalidade grave e violenta tenha tido algum agravamento, que não siga uma tendência que procuramos sempre salvaguardar, que é a de decrescer” - apesar dos dados disponíveis indicarem uma tendência de diminuição na última década, já se registam subidas desde 2019..Fabian Figueiredo, líder parlamentar do BE, tem uma frase para classificar a confissão de Montenegro - “não gostei de ver” - sobre a operação policial no Martim Moniz: “É a segunda vez, em poucos dias, que ouvimos palavras profundamente cínicas” do primeiro-ministro..Na cerimónia de posse, dia 27, dos novos responsáveis do Sistema de Informações da República Portuguesa e o Sistema de Segurança Interna [já depois da entrevista que o primeiro-ministro deu ao DN], Montenegro disse estar “atónito e perplexo com as reações e críticas”. E “agora não gosta da ação policial que promoveu?”, questiona o bloquista..“Devo confessar”, disse nesse dia o primeiro-ministro, “que me encontro atónito, muito perplexo com as reações que têm aparecido na discussão pública a propósito do esforço do Estado em garantir a tranquilidade das pessoas, em garantir uma prevenção de condutas criminais, em garantir uma plena integração dos nossos imigrantes”..Para o líder parlamentar do BE o que está em causa na ação do Governo “não é o combate à criminalidade”, mas sim “uma disputa eleitoral com o Chega”. O que também considera “evidente” é a “instrumentalização” e “condicionamento” das polícias por parte do Governo em operações de “legalidade duvidosa” e de resultados “pífios”..Rui Rocha, na análise que faz da entrevista de Montenegro ao DN, diz ter ficado confirmado que “a aprovação do Orçamento do Estado esgotou totalmente a iniciativa política do Governo”..O presidente da IL anota não haver “uma palavra sobre mudanças estruturais de que o país precisa, sobre a reforma do Estado ou sobre áreas críticas como a Educação, a Saúde ou a Habitação, domínios em que o Governo está a falhar gravemente e que estão agora completamente afastados das intervenções do Primeiro-ministro” para concluir que “acabou definitivamente o estado de graça inicial de que beneficiam os governos”..O que fica? “Um estado geral de apatia social-democrata” que se “instalou”.