Polícias ameaçam com nova manifestação para 21 de janeiro
"Exigimos respeito", pedem os profissionais da PSP e da GNR que esta quinta-feira saíram às ruas de Lisboa para reivindicarem não só melhores salários, mas tambémmais e melhor equipamento de proteção pessoal.
De costas voltadas para a Assembleia da República (AR), cantaram o hino nacional e houve quem não conseguisse conter a emoção numa manifestação que foi dominada pelo Movimento Zero, uma estrutura inorgânica que reúne polícias anónimos, criada em maio passado e que reúne mais de 50 mil seguidores no Facebook.
Iniciada no Marquês de Pombal, a manifestação, organizada pela Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) e a Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR), rumou até à AR, onde era visível um forte dispositivo de segurança.
A organização já fez saber que caso as reivindicações não forem satisfeitas, os profissionais da PSP e da GNR já agendaram para 21 de janeiro uma nova manifestação.
Em frente ao parlamento, foram muitos os que fizeram o gesto que simboliza o Movimento Zero e gritaram "zero". Muitos agentes emocionam-se quando entoaram o hino sob o olhar dos elementos do Corpo de Intervenção da PSP que se encontravam na escadaria de acesso à AR. Fizeram um minuto de silêncio em homenagem ao militar da GNR que morreu na semana passada num atropelamento.
No interior da Assembleia da República, André Ventura, do Chega, surpreendeu ao entrar no hemiciclo sem fato e gravata e a envergar uma t-shirt do Movimento Zero. "O tempo dos sindicatos tradicionais passou, o tempo da espontaneidade chegou", afirmou Ventura numa declaração aos jornalistas. O deputado associa-se ao protesto dos polícias "sem problemas", vincou.
Mais tarde, André Ventura saiu da AR e foi ter com os manifestantes, que o aplaudiram. Aos jornalistas afirmou que se associa ao Movimento Zero e desvalorizou o facto de esta estrutura, criada nas redes sociais, representar um movimento inorgânico, que não tem um rosto. "Para nós o que é importante é o facto de milhares de policias estarem a manifestar-se por se sentirem maltratados enquanto o Governo olha para o lado. A polícia é um pilar fundamental do estado de direito", referiu o deputado, que nega estar a tentar ter aproveitamento político com este protesto.
André Ventura foi o único político que subiu à carrinha da organização da manifestação, de onde falou para os profissionais da PSP e da GNR. "Polícias unidos jamais serão vencidos", disse o deputado do Chega que foi aplaudido pelos manifestantes.
São do Movimento Zero a grande parte das t-shirts que polícias e civis, muitos dos quais familiares de agentes, fizeram questão de usar neste protesto. No Marquês de Pombal, uma carrinha da ASPP estava a vender t-shirts do sindicato e a fila era grande. São, no entanto, os apoiantes do Movimento Zero, uma estrutura que reúne cerca de 53 mil seguidores no Facebook, que domina a manifestação, que se fez ruidosa pelas ruas de Lisboa.
Os manifestantes que encabeçaram o cortejo, onde se encontravam vários sindicalistas das estruturas que marcaram a manifestação, seguravam uma tarja gigante, onde se lê "exigimos respeito". Também se via uma faixa verde, amarela e vermelha com a inscrição Movimento Zero, estrutura criada em maio deste ano por elementos da PSP e da GNR que, segundo a sua página no Facebook, luta pela "valorização, dignidade e respeito" das forças de segurança.
Nas varandas e janelas dos prédios, ouviram-se aplausos aos polícias à medida que a marcha avançava na direção à Assembleia da República.
Chegados ao Largo do Rato, em frente à sede do PS, os manifestantes entoaram o hino nacional e ouviu-se, repetidamente,"zero".
À medida que a marcha aproximava-se do parlamento, elementos do Corpo de Intervenção da PSP posicionaram-se nas escadarias que dão acesso à Assembleia da República.
Entretanto, na rua de São Bento, junto à Casa-Museu Amália Rodrigues, elementos da organização da manifestação aceleraram o passo para se posicionarem perto do gradeamento, junto à escadaria da Assembleia da República. Ação pretendeu colocar os dirigentes à frente do parlamento para limitar o acesso às escadarias,
Alguns elementos do Movimento Zero algemaram-se uns aos outros ao chegarem à AR. Não foram registados incidentes durante o protesto. Perto das 18:00, os profissionais das forças de segurança começaram a desmobilizar, mas o Movimento Zero apelou no Facebook uma concentração no Terreiro do Paço, onde será feito um minuto de silêncio "em forma de homenagem aos 'secos e molhados'", referindo-se ao protesto que ocorreu há 30 anos. Na altura, a manifestação foi reprimida com bastonadas, cães e canhões de água.
A PSP de Lisboa mobilizou todo o efetivo das unidades especiais de intervenção para a manifestação dos profissionais da PSP e da GNR e deu ordem para, ao mínimo sinal de desordem, cercarem e afastarem os responsáveis. Isto porque o nível de risco desta manifestação agravou-se com a adesão do Movimento Zero, uma estrutura de polícias anónimos, que tem atraído apoiantes ligados à extrema-direita entre os mais de 53 mil seguidores no Facebook.
Apesar de o ministro da Administração Interna (MAI) ter reunido na quinta-feira passada com os sindicatos mais representativos da PSP e na segunda-feira com a APG/GNR, as estruturas decidiram manter o protesto, por ainda não estar definido um calendário para a resolução rápida dos problemas, apenas uma agenda de reuniões negociais.
Entre as reivindicações que motivaram o protesto, e além dos aumentos salariais, está também a atualização dos suplementos remuneratórios, que "há mais de dez anos que não são revistos", o pagamento de um subsídio de risco e mais e melhor equipamento de proteção pessoal. Os polícias exigem também uma fiscalização das condições de higiene, saúde e segurança no trabalho e que seja cumprido o estatuto na parte referente à pré-aposentação aos 55 anos.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, questionado esta quinta-feira sobre a manifestação de profissionais da PSP e da GNR, defendeu que esse é "um direito legítimo dos portugueses", que "deve ser encarado com serenidade".
Questionado se considera legítimas as reivindicações dos polícias, o chefe de Estado respondeu: "Eu já tive ocasião no meu discurso de posse deste Governo que é um ponto para que tem de se olhar nesta legislatura, o estatuto das Forças Armadas e o estatuto das forças de segurança. Já disse isso".
Já na quarta-feira, o Presidente da República já tinha lembrado o discurso que fez na posse do atual Governo, há cerca de um mês, no qual pediu "atenção redobrada" ao estatuto das Forças Armadas e das forças de segurança.
O chefe de Estado reiterou que "é um direito legítimo dos portugueses o direito de manifestação", acrescentando: "Portanto, deve ser encarado com serenidade. A democracia faz-se disso. Há em todo o país neste momento várias lutas sociais, coisas que correm bem, coisas que correm menos bem. E a democracia é isso".