Ministra da Saúde preocupada com o aumento da letalidade em Portugal

"Não podemos baixar a guarda", apelou Marta Temido, que não escondeu a preocupação com o cada vez maior número de mortos nesta fase da pandemia de covid-19.
Publicado a
Atualizado a

A ministra da Saúde, Marta Temido, mostrou-se esta sexta-feira preocupada com o aumento da letalidade por covid-19, no dia em que Portugal voltou a atingir um novo máximo de casos diários de infeção (5550) e registou ainda 52 mortes nas últimas 24 horas.

"A letalidade da doença tem subido nos últimos dias e é bastante preocupante", disse a governante, que falava aos jornalistas no Porto onde se reuniu com a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-N) depois de ter passado a manhã em reuniões na região do Tâmega e Sousa.

Marta Temido, que esteve acompanhada nas reuniões pelo secretário de Estado da Mobilidade, Eduardo Pinheiro, que é também responsável pela coordenação regional Norte da resposta à pandemia, bem como por responsáveis da ARS-N, também admitiu preocupações com a realização dos inquéritos epidemiológicos. "Um dos aspetos que mais nos preocupa, quando o número de casos começa a subir, é a realização dos inquéritos epidemiológicos e a nossa capacidade de lhes dar resposta. Estivemos a analisar com a Unidade de Saúde Pública o atraso na realização dos inquéritos epidemiológicos e as formas que vamos ter de utilizar no terreno para responder a esses atrasos", disse Marta Temido.

A governante avançou que "neste momento a Unidade de Saúde Pública está a conseguir realizar cerca de 300 inquéritos por dia, mas há um conjunto de inquéritos epidemiológicos já com mais dias que estão acumulados e estivemos a avaliar como podemos fazer esse trabalho de recuperação nos próximos 15 dias a três semanas", referiu.

Numa conferência de imprensa muito centrada na situação do Hospital de Penafiel, pertencente ao Centro Hospitalar de Tâmega e Sousa (CHTS), o qual chegou a registar 10% dos internamentos nacionais de covid-19, a ministra da Saúde também aproveitou para passar mensagens relacionadas com as medidas de precaução e com a responsabilização individual de cada um. "Não podemos baixar a guarda. Se houver 10 milhões de infetados não há capacidade de resposta", frisou.

A ministra da Saúde, Marta Temido, admitiu esta sexta-feira que "o mercado não tem a disponibilidade de outros momentos" no que se refere ao recrutamento de profissionais para acudir à pandemia da covid-19, mas frisou que Portugal "não é exceção".

"Desde o início da pandemia temos um regime excecional de contratação que permite que sejam contratados todos os profissionais que existem no mercado. Neste momento a situação com que nos deparamos é que o mercado não tem a disponibilidade que teve em outros momentos e há muitos profissionais que ficaram doentes", disse Marta Temido.

A governante falava aos jornalistas na Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-N), no Porto, depois de visitar o Hospital de Penafiel, que pertence ao Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), o qual tem registado um aumento de internamentos nas últimas semanas e gerou um pedido de ajuda por parte do conselho de administração.

Questionada sobre este pedido, Marta Temido falou da realidade do país e, mais tarde, perante a insistência dos jornalistas sobre o recrutamento de profissionais, deu o exemplo francês, em que o Presidente Macron afirmou que o país tinha dificuldade no recrutamento de profissionais de saúde. "Ouvi há poucos dias o Presidente Macron a referir que não há profissionais de saúde livres no mercado para serem contratados. Estamos a falar de França. Neste momento a dificuldade de recrutamento de profissionais de saúde existe em toda a Europa. Portugal não é exceção", referiu Marta Temido.

Também a Ordem dos Enfermeiros (OE) se manifestou preocupada com o recrutamento de enfermeiros portugueses na Europa, revelando que nas últimas duas semanas se têm intensificado ofertas de países como Espanha, Reino Unido, Alemanha e Holanda. Segundo a OE, estes países estão a oferecer "contratos anuais, transporte e alojamento gratuitos", sublinhando que as propostas "são agora mais e com condições mais vantajosas por parte de hospitais, mas também de lares".

Sem comentar diretamente esta questão, Marta Temido referiu que a tutela tem trabalhado com a OE para identificar candidatos. "Temos trabalhado com a Ordem dos Enfermeiro no sentido de identificar potenciais candidatos e vamos continuar a fazer esse trabalho", concluiu.

Marta Temido admitiu entretanto que o Hospital de Penafiel, que chegou a registar 10% dos internamentos covid-19 a nível nacional, está no "centro do furacão", mas assegurou que foram assumidos compromissos para garantir meios imediatamente.

"O Hospital de Penafiel está numa área que sabemos que geograficamente está no centro do furacão neste momento. Nenhuma unidade do Serviço Nacional de Saúde [SNS] está livre de sofrer uma pressão. Esta manhã foram assumidos esses compromissos e não faltarão meios para resolver as necessidades assistenciais imediatamente", disse Marta Temido.

Marta Temido disse que o Hospital de Penafiel registou "algum alívio fruto de um conjunto de transferências que aconteceram nos últimos dias", dando como exemplos o Hospital Fernando Pessoa, uma unidade privada em Gondomar, entre outras do SNS.

A deslocação da ministra da Saúde no Norte incluía, em Lousada, uma reunião com direção executiva do Agrupamento de Centros de Saúde do Vale do Sousa Norte e com autoridade de saúde local, bem como visita ao Hospital Padre Américo, em Penafiel, onde se reuniu com o conselho de administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS).

Em causa está um centro hospitalar que dá apoio a uma região, Tâmega e Sousa, que tem sido alvo de preocupações devido ao aumento de casos de infeção pelo novo coronavírus. Só na terça-feira, este hospital registava 235 internados, dos quais 11 em cuidados intensivos.

Esta situação gerou um pedido de ajuda pelo presidente do conselho de administração do CHTS, Carlos Alberto Silva, à direção da Administração Regional de Saúde do Norte.

"Já tenho 30 internados na urgência outra vez e hoje é segunda-feira, dia particularmente difícil. Se tiverem médicos de clínica geral que possam vir fazer urgência era bom porque tivemos aqui alguns positivos que fragilizaram as escalas. Está complicado", referia o email de Carlos Alberto Silva, datado de segunda-feira, ao qual a Lusa teve acesso.

Questionada se já foi dada resposta a este pedido, Marta Temido admitiu que "neste momento o mercado não tem a disponibilidade" de profissionais que teve no passado, tendo reforçado a ideia de que estão a ser procuradas e acionadas "respostas de proximidade".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt