Mais de 320 pessoas retiradas. O pior já passou, mas ainda há muitas horas de trabalho pela frente

Mais de 1700 ocorrências só neste sábado, devido à depressão Fabien que fustigou sobretudo o centro do País, com a subida do Mondego a provocar inundações e a obrigar a retirar pessoas das casas. "Há uma relativa acalmia, a situação está mais estabilizada, mas esta operação está longe de se encontrar terminada", disse, já aos primeiros minutos de domingo, a secretária de Estado da Proteção Civil

Sem descanso. Depois da Elsa, a depressão Fabien chegou neste sábado a Portugal e também fez estragos. Os efeitos do mau tempo dos últimos dias ainda não estão todos contabilizados, mas sabe-se que obrigaram a deslocar mais de 320 pessoas das suas casas e que 144 ficaram mesmo desalojados.

Ao final de sábado, o pior parece já ter passado e o cenário começa a atenuar. Isto mesmo referiu a secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, que na noite de sábado se deslocou a Coimbra para se inteirar in loco da situação vivida durante a tarde nos concelhos mais atingidos pelos efeitos da depressão Fabien, tendo estado reunida durante horas com os presidentes das câmaras de Soure, Montemor-o-Velho e Coimbra.

A situação está estabilizada, referiu a governante, embora os alertas se mantenham ainda, com cinco distritos sob aviso vermelho até ao meio-dia deste domingo, altura em que a "Fabien" deve começar a deixar o território português.

Às 00.00 deste domingo, a situação em Montemor-o-Velho era aquela a que ainda merecia mais atenção. No entanto a secretária de Estado enalteceu a estratégia adotada pelas autarquias em articulação com a proteção civil, referindo que tinha sido posta em prática uma verdade operação de proteção civil, com todos os patamares, desde o local ao nacional, o que permitiu reagir da forma positiva, como aconteceu.

Patrícia Gaspar sublinhou que a melhor opção foi a de evacuar a população, caso contrário o impacto da subida das águas no Mondego poderia ter sido muito pior. A governante sublinhou ainda não haver qualquer indicação de quando é que estas pessoas poderão voltar às suas casas, embora algumas já o tenham feito. Tal só dever acontecer quando for totalmente seguro, referiu aos jornalistas aos primeiros minutos deste domingo.

Mais de 300 pessoas deslocadas durante este sábado

Até agora, o balanço indica que mais de 320 pessoas tiveram de sair das suas casas nos concelhos de Soure, Coimbra e Montemor-o-Velho e 14 no distrito de Setúbal. A boa notícia é que até agora não há registo de feridos, apenas de estragos materiais.

As autoridades optaram por assumir bem cedo uma estratégia preventiva, daí que tenham andado de porta em porta a informar a população destes três concelhos para se manterem alertas e a, ao mesmo tempo, a evacuar e a deslocar quem estava junto às margem esquerda do rio Mondego, assim que se soube que um dique tinha colapsado e que estava a provocar a subida das águas do Mondego.

"Está instalada uma cultura preventiva, que é isso que queríamos e as pessoas têm colaborado com todos os agentes de Proteção Civil", observou o CODIS, Carlos Luís Tavares. Já sobre o colapso do dique do leito principal do Mondego, Carlos Luís Tavares disse que ocorreu "numa extensão de 100 metros" na margem direita, na zona de Formoselha: "o canal [de rega] desapareceu e a margem também colapsou. Temos a margem do rio e o canal de rega [adjacente a esta] e tudo isto se fragmentou", revelou. No entanto, Carlos Luís Tavares antecipou que a rotura possa não dar grande preocupação, dado que, à partida "as águas vão espraiar para os campos agrícolas" da margem direita.

Já o presidente da autarquia de Montemor-o-Velho, Emílio Torrão, que esteve no local do colapso, indicou que a rotura "é total" e "assinalável". "A água entra diretamente do leito central para os campos, são muitos milhões de litros que estão a entrar", observou o autarca, frisando que a situação de cheia, com caudais que ultrapassaram ao logo do dia o nível de segurança de 2.000 m3/s e se mantêm neste valor "não implica que não venha a haver roturas na margem esquerda.

A expectativa das autoridades na margem direita é que a água atravesse os campos em direção a Montemor-o-Velho e fique retida nestes e num outro dique - que "é peça-chave" no sistema de defesa - junto à povoação de Casal Novo do Rio e da nova ponte sobre o leito abandonado do Mondego (que substituiu a que colapsou em 2001), perto do Centro Náutico local. Daí as águas do Mondego poderão chegar, através do tal leito periférico, a uma estação de bombagem perto da localidade de Ereira, onde regressarão ao canal principal, mesmo se Emílio Torrão antecipa "preocupação" com a povoação de Casal Novo do Rio.

Mais de 1700 ocorrências

No terreno, estiveram todo o dia cerca de 400 operacionais, inclusive militares da Marinha, fuzileiros com embarcações e drones, para apoiar as operações realizadas junto das populações. À noite, Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) tinha registado 1727 ocorrências relacionadas com o mau tempo.

Na altura, o balanço indicava que 144 pessoas tinham sido desalojadas e que 320 tinham sido deslocadas por precaução, a maioria devido à subida das águas do rio Mondego. Este número integrava o total de 9500 ocorrências que se registaram desde quarta-feira, e como consequência das depressões Elsa e Fabien. A maioria respeitava à queda de árvores.

Em declarações aos jornalistas ao início da noite, na ANEPC, em Carnaxide, o adjunto de operações Miguel Cruz dava conta de que a situação mais complicada foi a que se viveu até àquele momento no distrito de Coimbra. Nesta altura ainda estavam a ser evacuadas mais populações, mantendo-se os rios Mondego e Tejo (na zona de Constância) em alerta vermelho.

Por seu lado, "o rio Douro está já numa fase de estabilização, tendo reduzido o seu nível vermelho para laranja, mantendo-se ainda os rios Mondego e Tejo vão manter-se em alerta vermelho e com um nível elevado de caudais, que já estão a ser".

Comboios entre Lisboa e Porto suspensos

Durante este sábado foram ainda suspensas a circulação ferroviária em várias zonas do país. Logo pela manhã, fonte oficial da CP informava não haver condições, devido à inundação de algumas linhas, para manter a circulação entre Lisboa-Porto pelos comboios de alta velocidade, Alfa e Intercidades. Suspensão que se mantinha ainda ao final da noite de sábado.

Em relação à Linha da Beira Baixa, o troço Guarda-Covilhã ainda não tinha sido reaberto até à noite de ontem. A CP optou por cancelar o serviço de longo curso entre as duas grandes cidades do país, mas manteve o serviço regional, sendo que os comboios regionais entre Entroncamento e Coimbra terminavam a sua marcha em Pombal.

Só a circulação na linha da Beira Alta entre Gouveia e Fornos de Algodres tinha sido restabelecida, após terem sido concluídos os trabalhos de reparação da via.

Alertas até ao meio-dia de domingo

Durante a noite, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) vai manter o alerta vermelho para alguns distritos das regiões norte e centro, devido ao estado do mar e aos ventos fortes, que poderão atingir os 140 Km/Hora. Porto, Viana do Castelo, Aveiro, Coimbra e Braga vão manter-se com alerta vermelho até amanhã.

Pelo menos, até cerca das 12:00 de domingo, altura em que o IPMA prevê que a depressão Fabien comece a deixar o território português.

A secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, tem estado em Coimbra em reunião com as autoridades locais para definirem as medidas a tomar em relação aos efeitos provocados pela depressão Fabien.

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