Juiz Neto de Moura processa quem o criticou
"Misógino", "ameaça à segurança pública", "animal irracional". Estes são alguns adjetivos que humoristas, políticos, jornalistas e opinadores utilizaram para descrever o juiz desembargador Neto de Moura, autor de pelo menos dois acórdãos em que desvalorizou casos de violência doméstica e que agora quer processar os que o criticaram na comunicação social e nas redes sociais. A machete do Expresso deste sábado adianta que o juiz da relação do Porto já tem uma equipa de advogados a fazer um levantamento dos nomes das figuras públicas que o atacaram para depois avançar com queixas e pedidos de indemnização por "ofensas à honra pessoal e profissional".
"Estamos a analisar posts nas redes sociais, artigos de opinião em jornais, nas rádios e nas televisões. O objetivo é processar todos os que extravasaram os limites da liberdade de expressão", adiantou ao Expresso Ricardo Serrano Vieira, advogado do juiz. Segundo a defesa de Neto de Moura, o juiz "quer muito falar" mas remeteu-se ao silêncio porque sabe que o Conselho Superior de Magistratura (CSM), que regula e fiscaliza os juízes, veem com maus olhos declarações públicas.
O CSM já aplicou uma sanção ao juiz a propósito da fundamentação de um conhecido acórdão de 2017, em que Neto de Moura censurou uma vítima de violência doméstica por ter sido infiel, recorrendo a citações da Bíblia e do Código Penal de 1886. O magistrado manteve penas suspensas a dois homens - ex-marido e ex-amante da vítima, que a agrediram com uma moca de pregos -, argumentando que "o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem". "Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte", escreveu Neto de Moura na sentença, onde sublinhou ainda que "na Bíblia podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte".
Argumentos que valeram a Neto de Moura críticas de vários setores da sociedade. Agora, a equipa de advogados está a recolher algumas dessas posições públicas, como o post no Twitter em que a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua disse que o juiz era "uma ameaça à segurança das mulheres" ou o programa "Gente que Não Sabe Estar", da TVI, no qual Ricardo Araújo Pereira ironizou que a advertência que o CSM aplicou a Neto Moura devia ser "enfiada no rabo" do juiz.
"Esqueceram-se que estão a falar de uma pessoa que tem um passado profissional irrepreensível. Aceitamos que discordem dos acórdãos, mas estas pessoas ultrapassaram o que é aceitável no Estado de direito", reforça Ricardo Serrano Vieira.
Esta semana foi conhecido outro acórdão polémico do juiz, no qual o magistrado retirou a pulseira eletrónica a um agressor que furou o tímpano da ex-mulher por considerar que a decisão não foi fundamentada pela primeira instância.