Adiado julgamento de professora acusada de revelar exame de Português
"Ó malta: falei com uma amiga minha cuja explicadora é presidente do sindicato de professores, uma comuna, e diz que ela precisa mesmo, mesmo, mesmo e só de estudar Alberto Caeiro e contos e poesia do século XX". Foi com esta mensagem de áudio divulgada pelo WhatsApp, na qual se aconselhava também a treinar uma composição sobre a importância da memória, que começou o escândalo da alegada fuga de informação no Exame de Português do secundário, em junho de 2017. O início do julgamento estava marcado para esta sexta-feira, no Campus da Justiça de Lisboa, mas foi adiado para setembro, confirmou o DN junto de diferentes fontes.
A acusada não é "presidente do sindicato de professores", como dizia a aluna em causa, e sim Edviges Antunes Ferreira, docente que à época era presidente da Associação de Professores de Português (APP).
Por outro lado, a maioria das informações sobre a prova reveladas pela estudante bateram certo e foi com base nessa coincidência que, na altura, o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), responsável pela elaboração dos testes escritos, apresentou uma queixa no Ministério Público.
O exame em causa, um dos mais concorridos da época de avaliações externas, foi realizado por 74 mil alunos.
O DN contactou a docente, que confirmou o adiamento da sessão desta sexta-feira mas não quis fazer mais declarações, remetendo esclarecimentos adicionais para o seu advogado. O DN contactou o gabinete do representante legal indicado por Edviges Ferreira mas não foi possível falar com o mesmo.
O IAVE também informou que não se irá pronunciar sobre este tema até ao final do processo.
Edviges Antunes Ferreira tem evitado falar sobre este tema ainda que, através das redes sociais, nomeadamente da sua página do Facebook, tenha mantido a sua inocência e denunciado a injustiça de que considera estar a ser alvo: " É muito mau quando se sente que se foi vítima de uma tremenda injustiça! É o país que temos!", desabafou na resposta a um comentário na sua página, publicada em março deste ano.
A docente foi demitida do Ministério da Educação nesse mesmo mês, na sequência do processo que lhe foi movido pela Inspeção-Geral da Educação e da Ciência. "Todas as infrações constantes dos artigos da acusação foram consideradas provadas, concluindo-se que a docente terá agido, de forma consciente e intencional, desrespeitando gravemente os seus deveres funcionais e o interesse público", justificou na altura o gabinete do ministro Tiago Brandão Rodrigues.
Corretora de exames, autora de livros de preparação para as provas escritas e revisora de edições recentes de diversos clássicos da literatura, de Almeida Garret a Eça de Queirós, Edviges Ferreira era uma das mais reputadas docentes da disciplina no país até este caso começar.