Há dois hospitais para isolamento voluntário de portugueses de Wuhan
O Ministério da Saúde vai disponibilizar instalações onde os portugueses provenientes de Wuhan, na China, possam ficar em isolamento voluntário, anunciou a Direção-Geral da Saúde (DGS), numa conferência de imprensa para fazer um balanço do surto do novo coronavírus que foi detetado na China e que já causou 213 mortes, após a declaração de emergência global pela OMS. " O nível de prontidão na resposta aumentou", garantiu Graça Freitas.
A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, admitiu que o grupo de portugueses que vai regressar da China é especial, por estar no "epicentro de uma nova doença". "Estiveram ou vão estar mais de 30 dias no epicentro de uma doença nova, estão numa cidade onde começou uma epidemia. Vão ter tratamento especial", assegurou. O avião que vai repatriar 350 cidadãos europeus, entre os quais os 17 portugueses, da cidade chinesa de Wuhan, deve sair sábado da China.
"Estamos a coletar informação sobre estas pessoas que estão na China, que nos permitam perceber melhor: fazem parte dos mesmos grupos, pertencem a famílias, a pessoas que partilharam casas, estiveram expostas ao mesmo tipo de risco? Vamos saber quando as nossas equipas entrarem em contacto com estas pessoas no voo de regresso ou já à chegada a Portugal", afirmou.
O Ministério da Saúde disponibiliza instalações tranquilas e dignas para que possam estar em "isolamento profilático", desde que aceitem estas condições.
O Hospital Pulido Valente, em Lisboa, e o Hospital Militar, no Porto, serão as unidades com instalações para estes portugueses que regressam da zona de Wuhan. Contudo, a DGS ainda está a receber opiniões de peritos para decidir se irá aplicar análises a todos os portugueses que vão regressar da China num voo especial.
"Pode ser [quarentena voluntária] em domicílio ou em instalações que o Ministério da Saúde providenciará. Mas não temos a certeza absoluta se vai ser a modalidade para cidadãos especiais, que estiveram mais de 30 dias confinados numa cidade onde a epidemia apareceu", referiu.
Diz Graça Freitas que tudo deve ser "equacionado com muita sensibilidade" e "vendo características destes cidadãos e o percurso deles na China. Estamos a estudar hora a hora, é uma epidemia online. A partir de altura que o voo levantar da Europa para a Ásia serão umas horas. Temos muito tempo porque são muitas horas até chegar a Lisboa. Mas sabemos quais são as medidas de contenção essenciais que devemos ter".
Em relação ao rastreio de passageiros de aviões para avaliar eventuais doentes com o coronavírus, a diretora disse que tem de ser feito na China e não em Portugal. "O rastreio deve ser feito à saída e está a ser feito. A China tem feito tudo, mas tudo, para conter este vírus", apontou, acrescentando que em Portugal isto é muito mais difícil de fazer por não se saber se os passageiros vieram ou não da China, já que muitos dos casos fazem escalas e têm voos de ligação.
Graça Freitas explicou que a declaração de emergência mundial pela OMS significa que "o nível de prontidão aumentou". Há a "necessidade de reforçar a capacidade de resposta dos serviços e da sociedade", apontou a diretora-geral de saúde, considerando que isso está a ser feito em Portugal.
Apesar do "número crescente de países em que a doença tem sido detetada", há fatores positivos a reter, diz Graça Freitas. Por um lado, estes focos secundários, fora do epicentro chinês, não têm originado surtos. "Todos os países que receberam casos importados têm conseguido conter a propagação", apontou.
Por outro, a China anunciou que já há doentes com o coronavírus que foram tratados e tiveram alta. Além disso, disse Graça Freitas, a "taxa de mortalidade tem sido constante",
Os casos suspeitos de coronavírus detetados em Portugal devem ser colocados numa área de isolamento e os profissionais que os detetem devem usar equipamentos de proteção individual.
A DGS emitiu um documento com orientações para profissionais do sistema de saúde em Portugal para a prevenção e controlo da infeção pelo novo coronavírus detetado na China e que infetou já cerca de 10 mil pessoas.
Perante um caso suspeito, o potencial doente deve ser colocado numa área de isolamento (um quarto, uma sala ou um gabinete), que permita distanciamento social em relação aos restantes utentes ou doentes.
A DGS apela a que as unidades de saúde afixem, em locais visíveis, cartazes que alertem os utentes para a necessidade de informar o segurança ou administrativo no caso de terem viajado nos últimos 14 dias de Wuhan, da província de Hubei ou de áreas afetadas pelo novo coronavírus e terem sintomas de infeção respiratória.
Os profissionais de saúde devem aplicar aos casos suspeitos as medidas de controlo de infeção a partir logo do momento da admissão do caso na unidade de saúde.
Na orientação emitida, a DGS indica que os profissionais da triagem ou na inscrição dos utentes devem ser orientados e treinados para a deteção precoce de um possível caso suspeito.
Os casos suspeitos devem ficar internados, em hospitais de referência, num quarto individual de isolamento com pressão negativa e casa de banho privativa.
Se o caso suspeito estiver num hospital de segunda linha, sem área de isolamento com pressão negativa, o potencial doente deve ser colocado num quarto individual com sistema de ventilação.
As unidades de saúde devem colocar profissionais dedicados exclusivamente à prestação de cuidados do caso, restringir visitas e manter o registo de todas as pessoas que entrem na área onde o potencial doente está isolado.
Perante um caso suspeito, a DGS define que as unidades de saúde devem promover o uso de equipamento de proteção individual.
O profissional de triagem deve dar uma máscara cirúrgica ao doente suspeito, acompanhá-lo para um sítio afastado dos outros utentes, se possível para a área de isolamento definida no plano de contingência da instituição, evitando a passagem por sítios com aglomeração de pessoas.
Os profissionais de saúde devem ainda usar equipamento de proteção individual, como bata, máscara, luvas e proteção ocular.
Perante um caso suspeito, os profissionais devem contactar a linha de apoio médico da DGS. Se a suspeita for validada, o caso para a ser "suspeito em investigação" e o doente tem de permanecer na sala de isolamento definida e sem contacto com outras pessoas que não sejam profissionais habilitados.
Caberá ao INEM transportar depois o caso para um hospital de referência.
A Organização Mundial de Saúde declarou na quinta-feira emergência de saúde pública internacional o surto do novo coronavírus na China.