Fátima vai ter procissão das velas. Mas sem peregrinos

O santuário de Fátima decidiu realizar a procissão das velas, a 12 de maio, num recinto vazio. Alguns espaços já reabriram esta semana, mas encerram durante os dias de celebração
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Com um recinto vazio - em que estarão apenas jornalistas - o Santuário de Fátima vai realizar a tradicional procissão de velas, na noite de 12 de maio, assim como as celebrações do dia 13.

É a primeira vez na sua história que acontece uma situação como esta, devido à pandemia provocada pela covid-19. A procissão de velas, na noite de 12 de maio (tal como a procissão do adeus, a 13) é um momento sempre marcante nas celebrações de maio, habitualmente com milhares de peregrinos a assistir. "Pela primeira vez o Santuário de Fátima vai celebrar os dias 12 e 13 de maio sem peregrinos nos seus espaços, na sequência das decisões sanitárias impostas pelas autoridades por causa da pandemia provocada pela Covid-19", refere o reitor do Santuário, padre Carlos Cabecinhas.

"Este é um momento doloroso: o Santuário existe para acolher os peregrinos e não o podermos fazer é motivo de grande tristeza; mas esta decisão é igualmente um ato de responsabilidade para com os peregrinos, defendendo a sua saúde e o seu bem-estar", refere.

As celebrações vão decorrer no Recinto - que estará encerrado devido às regras sanitárias definidas pelas autoridades, em articulação com a Conferência Episcopal Portuguesa.

A procissão de velas deverá realizar-se depois do rosário, às 21.30, seguindo-se a celebração no altar do recinto de oração. Para o dia 13 está previsto apenas o rosário, às 9 horas, e a celebração da missa, uma hora depois.

Para suprir a impossibilidade de deslocação dos peregrinos à Cova da Iria, o reitor do Santuário desafia-os a fazerem um caminho espiritual a partir de uma proposta concreta de oração para cada dia, que pode ser encontrada no site do Santuário em www.fatima.pt e nas redes sociais do santuário, desde a tarde de segunda-feira passada e, diariamente, até dia 13 de maio.

"Não podemos contar com a vossa presença física, mas gostaríamos de poder contar convosco. Porque não se peregrina só com os pés, mas também com o coração, propomos-vos que façais connosco uma peregrinação pelo coração: uma peregrinação por etapas, do dia 4 ao dia 13; uma peregrinação em que o caminho não é físico, mas interior", afirma o padre Carlos Cabecinhas, desafiando os peregrinos a acenderem, todos os dias, nas janelas de suas casas, uma vela, um dos atos mais icónicos de Fátima.

"Que, em cada dia, cada um faça um momento de reflexão e oração, de acordo com as propostas que disponibilizaremos; e que, em cada noite, acenda à janela uma vela, até à procissão de velas do dia 12. Faremos, assim, uma bela procissão de velas, difundida por todos os lugares onde viveis e vos encontrais".

Ao DN, o reitor do Santuário justificou a importância de manter a procissão de velas precisamente para " lembrar também os que habitualmente peregrinam e desta vez não o podem fazer".

"A luz tem uma importância muito grande para os cristãos. A Vigília Pascal, na qual celebramos 'a luz de Cristo' que 'dissipa as trevas de todo o mundo', convida a 'celebrar o esplendor admirável desta luz [...] na noite ditosa, em que o céu se une à terra, em que o homem se encontra com Deus!' Foi esta luz de Deus que a Senhora mais brilhante que o Sol, que se fez presença aos três pastorinhos por seis vezes, a partir de maio de 1917, meteu no coração dos três videntes, nomeadamente do Francisco, especialmente tocado por essa Luz", justifica o padre Carlos Cabecinhas.

"A luz está por isso intimamente associada à mensagem de Fátima e sendo esta peregrinação um momento para assinalarmos as aparições, não faria sentido não ter esta procissão", adianta, concluindo que as "procissões em Fátima, a par da oração do terço, são marcas do imaginário deste lugar e simbolizam uma caminhada comum, um sinal da condição peregrina da Igreja enquanto povo de Deus."

O reitor invoca as palavras do Papa Francisco, a propósito de Fátima, no Centenário, quando afirmou que "Fátima é sobretudo este manto de Luz que nos cobre quando nos refugiamos sob a proteção da Virgem Mãe para Lhe pedir: mostrai-nos Jesus". E por isso acredita que "Fátima também se diz nesta procissão, que ritualiza esta experiência de luz. Não a poderíamos suprimir. Mesmo sem peregrinos. A procissão das velas também os representa e, por isso mantê-la, é manter uma vez mais os peregrinos presentes".

As celebrações com a presença física de peregrinos na Cova da Iria, e em todas as igrejas portuguesas, só serão retomadas no próximo dia 30 de maio. Até lá, o Santuário irá retomar a sua atividade, progressivamente: na segunda-feira, dia 4, reabriu os locais de culto, para visita e oração, mas sem celebrações comunitárias e sem a presença física de peregrinos. Também o edifício da Reitoria retomou a sua atividade com os horários habituais, tal como as unidades comerciais que recomeçaram a funcionar. Já os museus abrem ao público a partir do próximo dia 19 de maio.

Para tornar os espaços acessíveis à visita dos peregrinos, O Santuário de Fátima adotou um conjunto de medidas de prevenção e de mitigação do risco de contágio, quer para os colaboradores quer para os peregrinos, que incluem o uso de máscara em espaços fechados, a lavagem frequente das mãos, a manutenção dos distanciamento físico e a monitorização dos acessos aos espaços fechados do Santuário como as Basílicas, Capelas e espaços comerciais. Mas entre a tarde do dia 12, de tarde e o fim da manhã do dia 13, não será permitido o acesso de qualquer peregrino ao recinto.

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