Estudo aponta falhas da DGS em dados usados em análises científicas e Graça Freitas responde
Um estudo que é assinado por 12 investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, e que foi publicado numa revista científica internacional, refere que as bases de dados do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE) que têm sido fornecidas à comunidade científica, durante os últimos meses, relativos aos casos de covid-19 em Portugal, têm uma qualidade baixa, erros, inconsistências e muita informação em falta, informa a TSF.
A rádio do grupo a que pertence o DN teve acesso ao artigo publicado no Journal of Epidemiology and Community Health, que diz claramente que os dados disponibilizados pela Direção-Geral da Saúde (DGS) aos investigadores das academias apenas podem ter usos muito limitados e pouco úteis para ajudar a travar a pandemia.
O mesmo artigo, ainda de acordo com a TSF, refere que os problemas anteriores têm mesmo levado outros estudos, feitos com base nesses dados, a apresentar conclusões que podem não estar corretas, nomeadamente no maior ou menor risco de determinados doentes, com doenças crónicas já existentes, terem mais complicações se contraírem o novo coronavírus.
O artigo cita o exemplo de uma doente com 134 anos e três homens classificados como 'grávidos', bem como 19 doentes que supostamente teriam tido a doença antes do primeiro caso que se sabe que foi diagnosticado em Portugal. Mas há mais: 90% dos casos da base de dados fornecida pela DGS não apresenta a data do teste positivo e uma grande parte não diz se o infetado teve ou não necessidade de ir para os cuidados intensivos.
Cristina Costa Santos, uma das 12 investigadoras do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) e do Departamento Medicina da Comunidade da Universidade do Porto, referiu à TSF que a preocupação é tanto maior porque, diz, existiram pelo menos três artigos científicos publicados com os dados fornecidos pela DGS que ficam "enviesados pela fraca qualidade de dados".
Durante a conferência de imprensa da DGS desta segunda-feira, Graça Freitas, diretora geral da DGS, esclareceu que os dados do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE) são de vigilância epidemiológica e não científica, com informação que permite acompanhar a epidemia e tomar medidas.
"Os dados do que estamos a falar não são dados de investigação científica, são dados de vigilância epidemiológica e são obtidos através daquilo que os médicos e os laboratórios preenchem e há parâmetros que vêm muito bem preenchidos e há outros, como em todo o mundo, que vêm menos preenchidos", explicou Graça Freitas.
Sublinhou ainda que é preciso perceber que numa altura em que há "milhares de casos novos por dia, a grande prioridade de facto é detetar doentes, tratar doentes, isolar contactos e assumir a epidemia".
"Há um número enorme de casos e de contactos que entram todos os dias que não são perfeitos, no entanto, quero aqui dizer que nós mantemos com a academia uma excelente relação", realçou Graça Freitas.
Segundo a diretora-geral, os dados são disponibilizados aos académicos, que têm "um papel muito importante na apreciação da qualidade desses dados".
"Aliás, faz parte da sua função ver as bases de dados, se estão corretamente preenchidas (...) e a própria universidade, a própria academia pode introduzir correções a essa informação e esclarecimentos e melhorar a qualidade dos seus estudos", sustentou.
A função principal da vigilância epidemiológica é que haja uma "vigilância rápida" que permita às autoridades de saúde acompanharem a epidemia para tomar medidas e por isso se chama "vigilância para ação".
Por isso, referiu Graça Freitas, "a rede da academia tem sido um parceiro inestimável sobretudo a melhorar estas bases de dados".