Estátua do padre António Vieira vandalizada em Lisboa
"Todos os atos de vandalismo contra o património coletivo da cidade são inadmissíveis", reagiu a câmara de Lisboa, que procedeu à limpeza da estátua, "a melhor resposta aos vândalos", considerou o autarca Fernando Medina.
Com a palavra "descoloniza" pintada a vermelho, a estátua do Padre António Vieira, que está instalada no Largo Trindade Coelho, em Lisboa, desde 2017, surgiu vandalizada esta quinta-feira à tarde.
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Isto acontece numa altura em que nos EUA e em alguns países europeus verifica-se uma onda protestos que tem levado ao derrube de estátuas de figuras associadas a colonizadores e esclavagistas, na sequência das manifestações contra a morte do afro-americano George Floyd durante uma violenta detenção policial em Minneapolis.
Filósofo jesuíta, escritor e orador, o Padre António Vieira (1608-1697) foi uma das maiores personalidades portuguesas do século XVII, destacando-se como missionário no Brasil, tendo sido um defensor dos direitos dos povos indígenas, lutando conta a sua exploração.
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"Todos os atos de vandalismo contra o património coletivo da cidade são inadmissíveis", reagiu a câmara de Lisboa, via Twitter, que procedeu à limpeza da estátua. "A melhor resposta aos vândalos é a limpeza", considerou o autarca Fernando Medina na rede social.
Foram mobilizadas equipas de investigação criminal da PSP para recolher meios de prova que possam levar à identificação dos autores do ato de vandalismo na estátua do Padre António Vieira, disse à Lusa fonte do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP (COMETLIS).
Os danos em monumentos configuram crime público e o processo será reencaminhado para o Ministério Público.
A estátua do Padre António Vieira foi instalada em junho de 2017, tendo sido o resultado de um protocolo entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Santa Casa da Misericórdia, no âmbito da requalificação do Largo Trindade Coelho.
A estátua foi erguida para homenagear "uma das maiores personalidades do pensamento" português, como disse o presidente da câmara, Fernando Medina, no dia da inauguração, a 22 de junho.
Já em 2017, a obra foi alvo de polémica quando foi anunciada uma manifestação contra a estátua do Padre António Vieira, que foi impedida por um grupo nacionalista, Portugueses Primeiro.
O grupo Descolonizando contou na altura ao DN que o objetivo da manifestação pacífica era homenagear as vítimas da escravatura, perante uma figura que consideravam um "esclavagista seletivo", mas foram impedidos por elementos do Portugueses Primeiro.
Agora, a obra volta a ser notícia. Nas redes sociais, começaram a circular esta quinta-feira as imagens que mostram as letras da palavra "descoloniza" pintadas a vermelho na base da estátua, os corações vermelhos inscritos no peito das crianças indígenas e a mesma cor no rosto do Padre António Vieira.
Esta situação acontece numa altura em que estátuas de figuras ligadas ao imperialismo, colonialismo ou associadas a esclavagistas têm sido derrubadas e vandalizadas. A morte do afro-americano George Floyd às mãos de um polícia branco em Minneapolis foi o rastilho para este movimento contra as estátuas de figuras do passado.
A estátua de Cristóvão Colombo, em Boston, por exemplo, foi decapitada, numa altura em que pedidos para remover esculturas em comemoração de colonizadores e esclavagistas varrem os Estados Unidos e outros países europeus durante a vaga de protestos anti-racismo.
Uma estátua de Colombo também foi vandalizada em Richmond, na Virgínia, esta semana, segundo relatos locais.
Já esta quinta-feira soube-se que autoridades municipais de Poole, no sul de Inglaterra, vão remover a estátua de Robert Baden-Powell, o fundador do movimento escotista que tem mais de 54 milhões de membros em todo o mundo. Tudo por causa das simpatias nazis do antigo herói de guerra britânico, que morreu em 1941 com 83 anos.
No passado domingo, manifestantes em Bristol retiraram uma estátua do negociante de escravos do século XVII Edward Colston e atiraram-na ao porto. A estátua foi recuperada esta quinta-feira e as autoridades locais indicaram que será colocada num museu.
Atualizado às 23:28