Covid-19. Criminalidade cai a pique com estado de alerta
Desde a declaração do "Estado de Alerta", no passado dia 13 de março, que impôs as primeiras medidas restritivas no país para a contenção do Covid-19, as forças de segurança têm notado uma descida a pique da criminalidade e também da sinistralidade rodoviária - confirmaram ao DN fontes oficiais da PSP e da GNR. Apesar de ainda não terem os números comparativos todos analisados, todas as informações e relatórios destes dias que vêm dos agentes no terreno apontam para esse cenário.
"Desde a declaração da situação de alerta, há certamente muito menos pessoas na rua. Temos uma descida considerável nas ocorrências criminais e no registo de criminalidade, bem como a nível da sinistralidade rodoviária", sublinha o porta-voz oficial do comando-geral da GNR.
A PSP comparou os seus dados estatísticos e chegou também a essa conclusão. "Registamos que os cidadãos estão a observar as recomendações das autoridades de saúde, nomeadamente pela realização das deslocações estritamente necessárias. Na última semana, tanto em comparação com o período homólogo, como com a média do presente ano, registamos um decréscimo na criminalidade e, igualmente, menos trânsito. Desta redução de tráfego resulta também um decréscimo de acidentes, menos feridos graves e leves, sem variação no número de mortos (uma pessoa)", assinala o porta-voz oficial da direção nacional da PSP.
Recorde-se que, de acordo com o último Relatório Anual de Segurança Interna, relativo ao ano de 2018, entre os 10 tipos de crimes mais frequentes estão os furtos em automóveis, os carteiristas, os furtos em residência, a condução sob efeito de álcool com taxa superior a 1,2 g por litro de sangue e as agressões simples.
Entretanto, da parte das forças de segurança cresce a apreensão sobre a falta de material de proteção pessoal. O sindicato que representa os inspetores do SEF exigiu esta segunda-feira equipamentos de proteção individual para todos os elementos, considerando que a falta é generalizada e a situação deverá agravar-se com o fecho de fronteiras.
"Os inspetores desta polícia estão disponíveis para cumprir a sua missão. No entanto, os inspetores apenas o poderão fazer com condições de segurança. Não estarem equipados com dispositivos de proteção individual e não disponibilizar material de desinfeção, é colocar em perigo e em causa todo o dispositivo de controlo das fronteiras internas e externas", refere aquele sindicato em comunicado.
"Cada vez é maior a preocupação dos profissionais do SEF. O equipamento (máscaras, luvas, gel desinfetante) é distribuído em quantidades reduzidas e esgota-se muito rapidamente", disse ao DN o presidente do Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização, Acácio Pereira.
"Estamos no limite e há sítios onde não há", precisou Acácio Pereira, frisando que o controlo de fronteiras terrestres com Espanha, anunciado esta segunda-feira, vai exigir uma maior mobilização de inspetores que necessitam destes equipamentos.
O sindicato manifestou à direção nacional do SEF e ao Ministério da Administração Interna "estupefação e preocupação pelo facto de estes não terem ainda tomado qualquer medida para protegerem os profissionais que para si trabalham, ao não disponibilizar equipamento de proteção individual".
Um alerta semelhante veio da GNR: "não é de todo aceitável que, estando o país em estado de alerta no sentido de evitar a disseminação do COVID-19, os profissionais da GNR que estão na primeira linha da manutenção da paz pública, em circunstâncias tão sensíveis, não possuam os meios de proteção em número suficiente", sublinha César Nogueira, presidente da Associação de Profissionais da Guarda (APG).
Este dirigente associativo revelou ao DN que "em média, estão a ser distribuídos quatro a cinco kits (máscara, luvas e gel) para cada 20 profissionais, o que nos deixa a todos uma enorme apreensão". César Nogueira não entende também porque, de acordo com o plano de contingência da GNR que foi distribuído, existe "a indicação para não se usar a máscara, sendo as poucas existentes para entregar a cidadãos que apresentem suspeitas de serem portadores do Covid-19 e que de alguma forma estejam em contacto com os profissionais".
Isto não faz sentido, no seu entender: "primeiro porque não somos médicos e não somos nós quem vamos saber se um cidadão é ou não portador do vírus. Segundo, isso só ocorrerá nos casos em que as pessoas transmitam ao profissional da GNR que estão com sintomas, porque caso contrário não os conseguirão detectar - com todos os riscos que isto representa".
Os profissionais da GNR também se sentem "desrespeitados" com as medidas que promovem o acolhimento dos filhos dos trabalhadores dos serviços essenciais - incluindo os filhos dos policias - em escolas públicas. A APG rejeita "a forma impositiva como está a ser encarada esta norma".
Sublinha César Nogueira que "os filhos destes profissionais não podem de forma alguma serem tratados de forma diferenciada em relação a todos os demais só por serem filhos de quem são", acrescentando que esta norma deve ser facultativa. "O estado de alerta que vivemos não pode ser encarado como instrumento violador de direitos, liberdades e garantias, motivo pelo qual entendemos que cada profissional da GNR deverá ter o direito de avaliar se deve usar essa opção ou não, mediante o seu contexto familiar objetivo e historial clínico pessoal".