Distrito do Porto: Proteção Civil pede recolher obrigatório e Área Metropolitana quer estado de emergência

Maioria dos autarcas do distrito concordaram que são necessárias "medidas mais graves, mas medidas que façam o equilíbrio entre a saúde pública e a economia". Presidente da AM Porto quer estado de emergência
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O presidente da Comissão Distrital da Proteção Civil do Porto apresentou esta quarta-feira uma proposta ao Governo para que, em função do aumento crescente do número de casos de covid-19 na região, decrete o recolher obrigatório no distrito.

Em declarações à agência Lusa, Marco Martins, que é também presidente da Câmara de Gondomar, disse ter falado com a maioria dos autarcas do distrito e que todos concordaram que são necessárias "medidas mais graves, mas medidas que façam o equilíbrio entre a saúde pública e a economia".

"Não podemos voltar, naturalmente, a confinar, temos de ter equilíbrio", defendeu.

As informações disponibilizadas pelas autoridades de saúde referem que "a maioria dos contágios ocorrem em festas familiares ou convívios sociais", lembrou.

Assim, considerou Marco Martins, "a maneira mais sensata e prudente será o recolher obrigatório à noite, à semelhança do que se está já a fazer em muitos locais na Europa nas últimas duas semanas".

"O que achamos, em contacto com os autarcas de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira, é que as medidas não têm lógica serem só aplicadas a um, dois ou três concelhos, porque o que acontece é que as pessoas saem desses concelhos e vão jantar ao restaurante ou vão divertir-se nos estabelecimentos do concelho ao lado", sublinhou.

Defende, por isso, que "é necessário aplicar as medidas a uma área mais vasta, a um distrito ou a uma região".

"Temos de travar esta situação", frisou.

Especialistas alertaram esta quarta-feira que a região Norte poderá atingir 7.000 novos casos de infeção pelo SARS-CoV-2 na próxima semana.

Ouvidos pela Lusa, afirmaram existirem "vários concelhos" num "patamar semelhante" aos três do Tâmega e Sousa onde foram impostas medidas mais restritas.

Milton Severo, responsável pelas projeções do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), afirmou eesta quarta-feir que, a manterem-se as previsões, a região Norte pode "chegar aos 7.000 novos casos" de infeção por SARS-CoV-2 e atingir um índice de transmissibilidade (o designado RT) de 1,6.

Óscar Felgueiras, matemático especializado em epidemiologia da Universidade do Porto, afirmou que na região Norte existem "vários concelhos" que estão "num patamar semelhante" aos concelhos de Felgueiras, Paços de Ferreira e Lousada, onde foram implementadas medidas mais restritivas para conter a pandemia.

"Há vários concelhos que estão com incidências muito elevadas e seria perfeitamente natural que houvesse extensão de medidas tendo em conta a evolução da situação", salientou o matemático, dando como exemplo os concelhos de Vizela, de Penafiel, de Paredes e do Porto.

A Câmara Municipal de Matosinhos anunciou na terça-feira o encerramento dos centros comerciais às 21:00 e pede ao Governo que "adote medidas" para os concelhos da Área Metropolitana do Porto "mais afetados" pelo aumento de novos casos de covid-19.

Em comunicado, a presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, destaca que as medidas mitigadoras da pandemia da covid-19 "só fazem sentido ao nível supramunicipal" e que as autarquias "não têm competências em áreas fundamentais" para fazer face ao aumento de novos casos de infeção por SARS-CoV-2, dando como exemplo o ensino e a limitação de deslocações.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e mais de 43,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 2.371 pessoas dos 124.432 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

O presidente da Área Metropolitana do Porto (AMP) disse esta quarta-feira querer que o Governo decrete o Estado de Emergência, generalizando as medidas de combate à covid-19 "a todo o país" de forma "coerente e homogénea".

"Neste momento é difícil defender outra coisa que não seja o Estado de Emergência. Tem de existir cobertura jurídica e legal para tomar medidas imprescindíveis. Isto não se resolve com medidas milagrosas. As medidas em concelhos em concreto não são viáveis. Temos interdependências regionais e pendularidades diárias", disse Eduardo Vítor Rodrigues, líder da AMP.

Eduardo Vítor Rodrigues, que é também presidente da câmara de Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, recordou que "as medidas que se tomam hoje não têm um efeito imediato", daí a "urgência" de "avançar rapidamente".

"Os números a que estamos a chegar não são nenhuma surpresa. Estava bem claro que tínhamos uma evolução muito preocupante. Olhar para os números de forma territorializada tem levado a que andemos sempre atrás do prejuízo. Isto é suficientemente grave para que, mesmo em zonas onde não há nenhum fenómeno conhecido, as populações sejam envolvidas", defendeu.

Admitido que, neste momento, o Norte do país apresenta números de infeção pelo novo coronavírus "muito preocupantes", Eduardo Vítor Rodrigues criticou as "mudanças de medidas em função de momentos conjunturais", pedindo "um esforço nacional".

"Até para se perceber que chegamos a um momento de uma gravidade que não pode ser atenuada com medidas concelhias ou metropolitanas", frisou.

Eduardo Vítor Rodrigues defendeu mudanças na comunicação sobre a covid-19, lembrando que "as pessoas estão exaustas de ter informação que às vezes é contraditória".

O autarca considera que a tutela devia considerar fazer "um alívio na intensidade nas conferencias de imprensa da Direção-Geral da Saúde".

"É preciso ter comunicação mais direcionada, informação mais precisa e discurso mais homogéneo. Andamos a pedir às pessoas que no Dia dos Fiéis não vão aos cemitérios e depois temos 30 mil pessoas a ver corridas de Fórmula 1. Ontem tivemos o retorno do público aos estádios de futebol [referindo-se ao FC Porto-Olympiacos para a Liga dos Campeões que decorreu no Estado do Dragão]. Se calhar é justo, mas se calhar já podia ter acontecido antes e vem na pior altura pelo significado que representa", considerou.

Exigir que as empresas reforcem os desfasamentos de entrada e saída, repesar os horários do comércio de rua e dos centros comerciais, e fechar universidades e secundárias durante "pelo menos 15 dias", de forma "a retirar jovens dos transportes públicos e da via pública", são algumas das medidas que o autarca de Gaia diz serem "urgentes".

À Lusa, Eduardo Vítor Rodrigues acrescentou a ideia de pedir aos clubes desportivos que suspendam durante 15 dias as atividades de formação", porque "não vale a pena fechar escolas e introduzir o ensino à distância se depois pais, miúdos e técnicos andam de trás para a frente", disse.

"Todas as medidas que proponho têm uma prévia auscultação com as entidades que gerem o processo no terreno", sublinhou.

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