Sem neve, filas e animais sem condições. Queixas contra a Capital do Natal

Organização refuta acusações, fala em "falsas expectativas" criadas por sites espanhóis e diz que animais estão devidamente licenciados
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A Capital do Natal abriu portas no passeio marítimo de Algés, em Oeiras, na sexta-feira, mas já chovem críticas, reclamações junto a associações de consumidores e até já há uma petição para que o parque de diversão seja fechado.

Vários visitantes afirmam sentir-se enganados e vítimas de publicidade enganosa, como se comprova ao olhar para as diversas caixas de comentários da página da Capital do Natal no Facebook. "É uma fraude. Publicidade enganosa, sem neve, longas filas, casas de banho mal preparadas, comida ruim e apenas três atrações. É uma farsa. Tem de ser denunciado", escreve uma utilizadora espanhola, num comentário com muitas semelhanças com a de outras pessoas, nomeadamente espanholas.

A organização diz que se criaram expectativas falsas, sim, mas que foram criadas por sites espanhóis e não pela promotora. "Ficámos muito surpreendidos com essas afirmações, mas fomos imediatamente constatá-las e analisá-las. Houve um conjunto de sites e de blogues espanhóis que, sem terem qualquer autorização nossa e ou sem terem tido contacto com a organização, apanharam notícias de alguns sites portugueses e fizeram a traduções e assumiram que as nossas pistas de snow tubing iam ser pistas de esqui com neve real, algo que nunca esteve previsto. Isso criou uma falsa expectativa, nomeadamente nos visitantes espanhóis, que são 99 por cento dos que se manifestam nas nossas redes sociais. Essas pessoas têm muita razão, porque vieram com uma expectativa que não se coaduna com a realidade, só que essa expectativa não foi criada por nós", começou por explicar um dos responsáveis pela organização da Capital do Natal, Rui Madureira.

Noutros comentários surge uma fotografia de uma rena deitada num tapete, com os utilizadores a criticarem as más condições dadas pelos promotores aos animais, uma acusação refutada pela organização.

"As renas, tal como todo o parque, estão licenciadas pelas autoridades competentes, no caso das renas por uma entidade veterinária da Câmara Municipal de Oeiras. As renas pertencem à Burros do Magoito, que é uma entidade idónea e fidedigna, que trata os seus animais de forma espetacular. No entanto, não podemos obrigar o animal a estar de pé o dia todo. Acho estranho alguém dizer que faltam condições só por o animal estar deitado. Não sei se era suposto tê-lo deitado num sofá... O animal cumpre todas as exigências", frisou o responsável.

Filas, condições e preços alvos de críticas

Outra utilizadora espanhola narra a sua experiência, criticando a presença de lama no recinto, a "fila de dois quilómetros", o facto de se apelidar de "maior da Europa" à roda gigante, as más condições da pista de gelo e a "má organização", avisando os seguidores que há "milhares de atividades em Huelva e Sevilha maravilhosas e bem mais preparadas do que esta bazófia de parque de Natal".

Rui Madureira justifica a lama com a intempérie que caiu sobre a zona de Lisboa e da linha de Cascais no fim de semana e que num espaço outdoor leva tempo a que a água seja drenada. "Hoje [segunda-feira] o tapete está completamente seco e não fizemos nada para tal. Simplesmente a água secou", disse o responsável, que admite que estão a ser melhoradas algumas condições da Capital do Natal, que se está a realizar pela primeira vez.

Sobre as filas, o membro da organização diz que são normais num parque temático que acolhe diariamente milhares de pessoas: "É válido para a Isla Mágica em Sevilha, para a Disneyland em Paris ou em qualquer outro."

Entretanto, as queixas já chegaram à União de Consumidores da Estremadura (UCE), que, segundo o Hoy, já recebeu mais de uma centena de reclamações de publicidade enganosa, "pois a realidade nada tem a ver com o que se anunciava". O Instituto de Assuntos do Consumidor da Estremadura (INCOEX) já entrou em contacto com o Ministério da Saúde, Assuntos do Consumidor e Bem-Estar para "proceder de forma coordenada com as autoridades nacionais e com a autoridade portuguesa". Rui Madureira, da Capital do Natal, diz que a organização está satisfeita por já ter entrado em contacto com essas associações e a fim de se "apurar a verdade".

As queixas também já chegaram ao Diario de Huelva , que dá conta de que a Federação de Consumidores em Ação (FACUA) estuda agir após estudar a questão com cuidado.

Muitos dos afetados já se organizaram num grupo do Facebook e numa conta de Instagram para publicarem fotografias do parque, além de terem criado uma petição online à qual já aderiram mais de duas mil pessoas com o objetivo de que a Capital do Natal seja encerrada.

O evento está a decorrer até 12 de janeiro. O parque está aberto todos os dias, de segunda a quinta-feira das 12.00 às 23.00, à sexta e sábado das 10.00 à 0.00 e aos domingos das 10.00 às 23.00. Os bilhetes custam 25 euros para crianças dos três aos 12 anos e para seniores e 30 euros para adultos, o que tem sido também alvo de críticas. Rui Madureira diz que as pessoas "estão habituadas entrar em parques temáticos por preços mais baixos mas depois a pagar todas as atrações", mas que a Capital do Natal "tem um passaporte único que é válido para todas as atrações dentro do parque, sem limite de utilização".

Organização emite comunicado

Entretanto, a Capital do Natal enviou um comunicado oficial à nossa redação. Leia-o na íntegra:

"Na sequência das notícias veiculadas a propósito das queixas de visitantes que acusam a "Capital do Natal" de fraude e publicidade enganosa, a Christmas Fun Park, entidade responsável pela organização do evento, esclarece:

- Após o fim de semana, e na sequência dos comentários que recebemos nas redes sociais, analisamos a informação e tomámos conhecimento que algumas entidades em Espanha, como blogues e agências de viagem, veicularam informação incorreta sobre o evento, como por mero exemplo a existência de pistas de ski com neve, sem terem confirmado ou validado essa informação connosco. Esta situação, completamente alheia à nossa organização, já está a ser analisada pelos nossos representantes jurídicos para a necessária avaliação de responsabilidades.

- Esta ação acabou por criar falsas expectativas a alguns visitantes e afetou negativamente a sua experiência no parque, o que deu origem a um conjunto de queixas e comentários negativos nas redes sociais.

- Queremos enfatizar, contudo, que recebemos também muitos comentários positivos e que esta situação não afetou, até ao momento, a venda de bilhetes. Inclusivamente, no domingo dia 1.12, registámos uma afluência 30% superior ao dia anterior.

- Trata-se do primeiro ano que estamos a realizar este evento, pelo que acreditamos que, até ao último dia, continuaremos a melhorar ainda mais a experiência dos nossos visitantes. Logo no sábado, dia em que se verificou uma grande afluência de pessoas e com condições atmosféricas muito adversas, mesmo para um evento ao ar livre, identificámos um conjunto de situações, relacionadas com a entrada das pessoas nos equipamentos, com a organização das filas de espera e do staff, que foram corrigidas no dia seguinte.

Num parque temático que acolhe diariamente milhares de visitantes por dia, consideramos normal a existência de tempos de espera. Vamos, obviamente, continuar a procurar otimizar a forma como o público acede aos equipamentos, numa lógica de melhoria contínua, de forma a haver uma maior fluidez e a acelerar o processo de entrada nas atrações e a experiência dos visitantes.

- Em relação ao preço dos bilhetes, considerando o posicionamento deste evento, de Parque Temático de Natal com um espetáculo imersivo, optámos por disponibilizar às pessoas um passaporte que inclui a entrada em todas as atrações e conteúdos, sem qualquer limite de utilizações, durante mais de 11 horas diárias em média, ao contrário de outros eventos de Natal. De sublinhar ainda a qualidade dos conteúdos produzidos, únicos e nunca antes realizados em Portugal, como o espetáculo de luzes do lago central, o Palácio dos Guardiões da Neve (com a recreação do círculo polar ártico), a Montanha do Vento Corajoso (com 12 pistas de snowtubbing).

- Refutamos ainda as acusações de más condições para os animais no recinto, já que as renas - tal como todo o Parque - estão devidamente licenciadas pelas autoridades competentes. As renas pertencem, de resto, à entidade "Burros do Magoito", uma entidade idónea e fidedigna, conhecida pelo tratamento exemplar que dá aos seus animais.

- Por fim, a Capital do Natal esclarece que está a responder individualmente a todas as queixas e comentários negativos, e a avaliar as formas possíveis de resolver as situações reportadas."

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