O grupo de "turistas" que fazia assaltos sofisticados foi apanhado
Um grupo de seis brasileiros com visto de turista instalou-se em Portugal, em maio, e iniciou uma verdadeira ofensiva de clonagem de cartões bancários, através do recurso a dispositivos que colocavam em caixas ATM. "Formavam um tipo de organização visto pela primeira vez", alerta a Polícia Judiciária do Porto, que desmantelou o gangue. A inovação deste gangue consistia em que tudo era produzido pelos seus elementos, desde o fabrico dos dispositivos que liam e filmavam nas ATM até ao software para transpor os dados para novos cartões que fabricavam. Foram detidos quinta-feira em Vila Nova de Gaia, um dia antes de terem viagem marcada para abandonarem o país.
O número de lesados por este esquema criminoso ainda está por apurar, mas o coordenador de investigação criminal, Arnaldo Silva, disse que será elevado. "É difícil dizer, nesta altura, o número de pessoas que foram vítimas. Mas vão ser muitas, largas dezenas de pessoas", apontou o coordenador da PJ do Porto, resumindo da mesma forma os montantes envolvidos: "Terá ainda de ser apurado, com análises bancárias. Mas é um valor elevado, de dezenas de milhares de euros. Só em dinheiro, na posse do grupo, encontramos quase 30 mil euros."
A secção da Diretoria do Norte que investiga a moeda falsa e os crimes com cartões bancários foi surpreendida pela elevada organização dos grupo. Os seis brasileiros, que viviam todos na mesma casa em Gaia, desde maio, dedicavam-se "a fabricar e a instalar aparelhos próprios para a manipulação das caixas ATM com o objetivo de efetuar a leitura da banda magnética dos cartões de crédito/débito ali utilizados, bem como efetuavam, através de registo vídeo, a gravação dos códigos dos referidos cartões". Para conseguir a leitura dos cartões colocavam uma calha falsa, com o dispositivo de leitura, nas caixas ATM, onde também instalavam outro dispositivo para a filmagem em vídeo da pessoa a marcar o código PIN. "Levavam tudo já pronto e num minuto ou minuto e meio colocavam os dispositivos. Passava despercebido", disse ao DN um dos investigadores deste caso.
Os dispositivos ficavam nas caixas ATM "durante duas a três horas". Eram retirados depois e o grupo tinha software para recolher os dados dos cartões. Depois cruzavam com os pins que tinham obtido por vídeo, com as micro-câmaras e faziam um novo cartão. "Havia levantamentos de dinheiro e compras com os cartões", explicou o coordenador Arnaldo Silva. Nas ATM era muito fácil o utente não se aperceber das calhas falsas. "Pintavam tudo com a mesma cor. Olhando para a caixa era difícil ver que havia ali algo errado."
A surpresa é que o grupo não dependia de mais ninguém. Tudo era fabricado na casa onde viviam. "Até os dispositivos eram construídos por eles. Cada um tinha a sua tarefa, uns fabricavam, outros instalavam e outros faziam a clonagem. É a primeira vez que vemos um grupo destes, em que controlavam tudo desde o início do processo até ao fim", comentou Arnaldo Silva. Nos objetos apreendidos pela PJ constam os dispositivos, os produtos químicos, as tintas para pintar as calhas, o hardware, como as micro-câmaras,o software para criar as bandas magnéticas, computadores, cartões clonados e por clonar, e quase 30 mil euros em dinheiro.
O grupo atuou no Porto, Maia, Gaia e Matosinhos. Tinham entre 25 e 43 anos e estavam em Portugal com o visto de turistas. Preparavam-se mesmo para sair do país. "Estes grupos recolhem os dados dos cartões e depois deslocam-se para outros países. Atuaram aqui cerca de mês e meio e já tinham viagem marcada", revelou um investigador.
Estão indiciados pela presumível autoria dos crimes de associação criminosa, contrafação de títulos equiparados a moeda, burla informática e falsidade informática. Foram hoje presentes a um juiz no Tribunal de Matosinhos. Ficaram todos em prisão preventiva.