"Arriscam porque querem pôr fotos espetaculares das ondas nas redes sociais"
O capitão do Porto da Nazaré manifestou a sua incredulidade em relação ao comportamento de risco adotado por quatro pessoas, esta terça-feira, que foram colhidas por uma onda na escadaria do Forte de S. Miguel, depois de desrespeitarem a sinalização de perigo na zona. Os dois homens e duas mulheres, com cerca de 30 anos, de nacionalidades portuguesa, alemã e brasileira, "não morreram por sorte", disse ao DN Paulo Gomes Agostinho, que culpa as redes sociais pela "ânsia" de tirar a foto perfeita, o que só leva a pôr em risco a própria vida.
As quatro vítimas "sofreram escoriações e uma delas uma fratura na cabeça quando foram colhidas por uma onda e projetadas contra as pedras", explicou o Capitão-tenente. "Mas foram logo ajudadas por outros populares e depois transportadas ao Hospital de Alcobaça para receberem tratamento", acrescentou.
Além dos ferimentos sofridos, as quatro vítimas foram identificadas pela Polícia Marítima e, de acordo com o responsável, "incorrem numa contraordenação que pode chegar aos 300 euros".
Paulo Gomes Agostinho lembrou que "as condições de grande ondulação vão manter-se durante os próximos dias" e apelou para que "as pessoas que visitam o local evitem colocar-se próximo dos limites das arribas" e na escadaria do Forte.
O DN falou com o Capitão-tenente para tentar perceber como é que estes acidentes continuam a repetir-se - e cada vez com mais frequência - e se nesta época do ano não seria aconselhável as pessoas não passearem junto ao mar.
Por causa das condições oceanográficas. Há mais energia de rebentação, o mar tem muito mais força - o que está normalmente associado a fenómenos meteorológicos que fazem com que o mar no hemisfério norte seja mais perigoso no inverno do que no verão.
Os cuidados que se devem ter nas praias são transversais a qualquer uma, seja em Portugal como no estrangeiro. O conselho que damos é que quando há uma zona de forte rebentação no areal as pessoas devem evitar permanecer de costas viradas para o mar e passear nos locais onde a areia já está molhada porque isso significa que o mar já aí chega. A ondulação predominante na costa portuguesa é de noroeste e as praias da costa oeste portuguesa - de Caminha até ao Cabo de São Vicente [Sagres] - são mais perigosas do que as praias do Algarve, que só são perigosas se se estiver a fazer sentir o fenómeno do levante.
Estes acidentes continuam a acontecer devido à falta de formação das pessoas. Em relação ao acidente de ontem [terça-feira, 12] tenho até dificuldade em comentar... Estarem numa escada numa zona de forte rebentação junto ao Forte de São Miguel onde estavam a ocorrer ondas de 10 e 15 metros - há vídeos no YouTube que o mostram - como é possível que as pessoas não só desrespeitem a sinalização mas que ponham em causa a sua integridade física? Não morreram por sorte. Se o mar tivesse tivesse entrado pelas escadas e não por cima [como aconteceu], tinha-os levado e não havia salvamento possível porque aquela zona é rochosa. Há uma semana houve um acidente do género - um jovem de 23 anos em São Pedro de Moel foi colhido quando estava em cima de uma pedra a pescar.
Deviam, mas muitas vezes acham que sabem tudo e querem estar nos melhores sítios e isso leva-os a adotar comportamentos de risco.
As redes sociais têm culpa - a ânsia de tirar aquelas fotografias espetaculares para depois publicar nas redes sociais leva as pessoas a adotar comportamentos de risco. Desde que existem redes sociais as pessoas expõe-se mais ao risco, Quando aqui na zona da Nazaré ocorrem fenómenos de tempestades e apesar das autoridades marítimas cortarem o acesso aos molhes, as pessoas arriscam porque querem tirar fotografias. Nestas alturas as televisões disponibilizam sites onde as pessoas podem enviar os vídeos ou as fotografias e isso é um convite ao acidente. A tentação é tirar uma foto ou fazer um vídeo de uma onda a galgar uma estrada ou um passadiço.
Vários. Pessoas que são arrastadas pelas ondas porque vão molhar os pés quando a rebentação está muito forte. Normalmente são turistas. Já fizemos uma campanha junto dos operadores turísticos para sensibilizar as pessoas, mas a tentação continua a ser enorme e acontecem situações como as de ontem.
Sim, estamos em articulação com a câmara [da Nazaré] e temos um dispositivo reforçado na praia mas direcionado aos surfistas, não é concretamente para as pessoas que estão nas arribas. Nesta zona temos 85 quilómetros de margem junto à costa, não podemos ter um polícia a cada cem metros, nem sequer a cada quilómetro.
Apostar na prevenção, na sensibilização nas escolas - algo que nós como Autoridade Marítima já fazemos muito, ir às escolas e falar com as crianças que frequentem níveis abaixo do 9º ano e pedir-lhes até que sensibilizem os pais para estas situações de risco. Não há outro caminho que não o da prevenção e da divulgação das medidas de segurança a adotar.