A "classe médica em xeque". O caso do bebé Rodrigo na imprensa espanhola
Jornais El País, El Mundo e ABC dão hoje destaque à notícia do menino que nasceu com graves malformações.
"Um bebé sem rosto põe em cheque a classe médica portuguesa". Assim titula o El País a notícia em que, esta quarta-feira, dá conta do caso do bebé Rodrigo, que nasceu há duas semanas, sem olhos, sem nariz e sem parte do crânio, malformações que não foram detetadas nas ecografias realizadas durante a gravidez numa clínica privada, em Setúbal.
Um caso que vem pôr em xeque "não só o obstetra que seguiu a gravidez", mas "também a Ordem dos Médicos, que desde 2013 acumula outras seis reclamações apresentadas por diferentes famílias contra o mesmo profissional, que até à data não foram analisadas". "A Ordem, que em nenhum momento alertou nem os hospitais públicos, nem privados, não deu explicações do porquê de não ter investigado o médico", prossegue o diário espanhol, que cita depois o bastonário da Ordem, Miguel Guimarães, afirmando que será aberta uma investigação "de forma imediata".
O El País acrescenta que, desde que foi tornado público o caso do bebé Rodrigo, não param de surgir novos casos de gravidezes problemáticas envolvendo o mesmo médico.
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Também o El Mundo publica hoje uma notícia sobre o mesmo caso em que, além da história de Rodrigo, centra atenções na ausência de regras sobre quem pode realizar as ecografias obstétricas, escrevendo que vários colégios da especialidade "levam anos a estudar como resolver o assunto", mas que obstetras e radiologistas não chegaram até hoje a um consenso.
"Espera-se agora que o escândalo do bebé Rodrigo sirva para resolver a questão, mas de momento não há requisitos que possam garantir a competência dos obstetras na realização de ecografias, nem forma de fiscalizar a sua execução nas clínicas portuguesas", escreve o El Mundo.
A Ordem dos Médicos anunciou terça-feira que vai criar uma competência específica na área da ecografia de acompanhamento da gravidez, apesar de considerar que as normas existentes em Portugal "asseguram a qualidade" desses atos médicos. Um anúncio feito depois de uma reunião entre o bastonário Miguel Guimarães e os colégios de especialidade de obstetrícia e de radiologia
No ABC, é sublinhado o "currículo de horrores" do médico visado, Artur Carvalho (que foi entretanto suspenso), e é destacado o caso de Luana, a menina que nasceu em 2011 com graves malformações, depois de uma gravidez que foi acompanhada pelo mesmo médico.
O ABC acrescenta que a Ordem dos Médicos está a ser "muito questionada" sobre a falta de resposta às queixas apresentadas anteriormente, e cita o presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal , Luís Mendes Graça, que em declarações à agência EFE sublinhou que mal formações tão graves são tão óbvias que tem de ser "obrigatoriamente" identificadas numa ecografia.