24 horas de espera e três viagens ao centro de saúde para uma consulta de urgência

Depois de 24 horas à espera que me atendessem o telefone num centro de saúde de Vila Franca de Xira, de me deslocar três vezes ao mesmo, sempre depois de indicações de enfermeiros ou médicos, terminou a consulta de urgência.

A conselho de uma enfermeira da linha SNS 24 às 08.00 desta quarta-feira estava à porta da Unidade de Saúde Familiar Terras de Cira, em Vila Franca de Xira. Eu e mais duas pessoas. Vínhamos todas com a mesma indicação: a de nos deslocarmos ao centro de saúde fisicamente a partir das 08.00 para uma consulta do serviço de urgência, já com a triagem feita. Fomos recebidas por um segurança que guardava a unidade, com a urgência ainda encerrada (só abriria às 09.00) e que nos avisou de que esta não era a forma de conseguirmos um lugar nas consultas de urgência.

Qualquer uma das três voltou para trás apenas com mais um papel na mão, com dois números de telemóvel que estariam na posse dos médicos de urgência no centro de saúde, explica-nos o segurança. Era para ali que tínhamos de ligar para ter uma consulta de urgência. Os contactos eram os mesmos para os quais estava a telefonar desde o dia anterior, sem sucesso. Um dizia-se desligado; outro interrompido sistematicamente.

Os contactos eram os mesmos para os quais estava a ligar desde o dia anterior, sem sucesso. Um dizia-se desligado; outro interrompido sistematicamente.

"Vai ter de insistir muito. É preciso um bocado de sorte porque é a única forma de ser atendido na urgência", alertou o mesmo segurança que ouvia o telefone fixo a tocar no balcão de atendimento do centro de saúde, sem poder deixar o seu posto de vigilância. "Quando estou aqui não posso estar a atender o telefone, por muito que toque. Não há outra solução."

A sorte jogou a meu favor às 09.20. Uma das médicas de serviço atendeu-me, passadas 24 horas sobre a primeira vez que comecei a ligar para o centro de saúde. Suspeitou de uma infeção renal ou urinária reincidente e pediu-me para voltar ao centro de saúde nessa mesma manhã para recolher a prescrição de uma ecografia, que não podia seguir com as receitas e as análises.

Às 12.00 a folha ainda não podia ser recolhida, porque a médica continuava a dar consultas telefónicas. Pediram-me para regressar da parte da tarde e pela terceira vez.

Às 12.00 a folha ainda não podia ser recolhida, porque a médica continuava a dar consultas telefónicas. Pediram-me para regressar da parte da tarde e pela terceira vez.

Depois de 24 horas à espera que me atendessem o telefone no centro de saúde, de me deslocar três vezes ao mesmo, sempre depois de indicações de enfermeiros ou médicos, terminou a consulta de urgência.

O que se passou comigo, passou-se com muitas outras pessoas. Os cuidados de saúde primários são, em teoria, o pilar do Serviço Nacional de Saúde. E conseguem evitar muitas urgências hospitalares desnecessárias, deixando estas para os doentes que precisam de exames urgentes e com dor mais aguda. No início desta semana, a diretora da urgência do Hospital de São João, Cristina Marujo, dizia, em declarações ao DN, num artigo sobre a preparação das urgências hospitalares para o inverno, que a sobrelotação do serviço levava ao atraso no atendimento dos doentes mais graves.

"É difícil chegar ao número de doentes que nos procuram todos os dias, porque vêm ao hospital os graves e os ligeiros. E, enquanto estamos a ver alguns doentes menos graves, chegamos mais tarde aos críticos, penalizando, não intencionalmente, aqueles que mais precisam de nós. Não é por mal, mas também não queremos deixar mal os menos graves. Tentamos sempre resolver", confessava Cristina Marujo.

A solução passaria pelos cuidados de saúde primários, que não estão, em todos os casos, prontos para cumprir essa missão em pleno. Quis, desde o início, evitar a ida ao hospital, atualmente com um surto de covid no serviço de medicina interna, mas quase não o consegui.

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