É a economia, Bolsonaro!

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A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) projetou um impacto do chamado “tarifaço” do governo de Donald Trump à economia do Brasil de até 0,4% do PIB.

Como o “tarifaço” americano, que impunha inicialmente um aumento das tarifas de importação de 10% para 50% para todos os setores económicos, foi mitigado pelo anúncio de uma larga lista de 649 exceções após a primeira ronda de negociações entre Washington e Brasília, a mesma FIESP corrigiu a conta para 0,2%. Ainda assim, aproximadamente 4,4 mil milhões de dólares. Em 2026, quando as novas tarifas estiverem em vigor todo o ano, o PIB, com as exceções, deve sofrer uma redução de 0,38%; sem elas, a entidade previa um encolhimento de 0,6%.

Um golpe pesado no bolso do povo, de qualquer das formas, uma vez que, em 2023, o PIB brasileiro crescera 3,2% e, em 2024, quase 3,4%. Para 2025, tanto o Ministério das Finanças, quanto o Banco Central e o FMI alteraram para um crescimento mais curto, talvez em torno de 2,3%, por culpa do infame “tarifaço”.

Outra equação, desta vez feita pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (AMCHAM), estimou que as tais exceções representam à volta de 40% do total das exportações brasileiras para os EUA. Traduzindo por números, são só 18 dos 42 mil milhões de dólares exportados. “Trata-se, no geral, de uma medida”, disse a AMCHAM em nota, “que fragiliza as relações económicas e comerciais entre os dois países, afetando negativamente a competitividade das suas empresas, o emprego dos seus trabalhadores e o poder de compra dos seus consumidores”.

São muitos milhões de prejuízo por culpa de Trump. Mas não só do ex-apresentador de The Apprentice: se o Republicano decidiu taxar mais o Brasil do que outros parceiros mundo afora, fê-lo após lobby nesse sentido do deputado brasileiro Eduardo Bolsonaro, terceiro filho de Jair Bolsonaro, a morar nos EUA desde março com o objetivo de ganhar influência sobre a ala (mais) radical do governo local.

Tanto que o Republicano amarrou a consumação do “tarifaço” a uma amnistia ao ex-presidente brasileiro e demais envolvidos na preparação de um golpe de estado contra o governo de Lula da Silva e Geraldo Alckmin e até a execução por envenenamento do presidente e do vice eleitos. Alexandre de Moraes, o juiz desse processo, cuja execução sumária também estava prevista, já sofreu sanções pessoais do governo Trump no meio do pacote do “tarifaço”.

Ou seja, se o PIB vai crescer menos, como prevê a FIESP ou o FMI, e se as empresas, os empregos e os consumidores vão sofrer, como relatou a AMCHAM, a responsabilidade passa por Eduardo Bolsonaro - uma conclusão corroborada por sondagens recentes.

Na pandemia, Eduardo, como o pai e demais expoentes do bolsonarismo, foi um dos principais críticos da política defendida pela oposição à época, e pela classe médica em geral, de que a prioridade era ficar em casa para salvar as vidas dos brasileiros - só depois se devia pensar na economia. Agora, não se importou de sacrificar a economia dos brasileiros todos para salvar a vida política do pai.

Jornalista, correspondente em São Paulo

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