Às vezes, é preciso ter a coragem de ir embora

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Existem muitas relações afetivas que geram desconforto e insatisfação e que exigem, por isso mesmo, a ativação de todos os recursos disponíveis para tentar encontrar um caminho melhor. É importante não desistir face ao primeiro obstáculo, persistir e tentar encontrar soluções alternativas para os diversos problemas.

Mas também existem situações em que sentimos que já demos tudo e é como se as possíveis soluções estivessem esgotadas.

Valorizam-se coisas diferentes. Querem-se coisas diferentes. Investe-se de forma diferente.

Mas, ainda assim, insiste-se em permanecer, mesmo com dor. Teima-se em caber, mesmo não cabendo. Sente-se medo da mudança. Receio em abandonar a zona de conforto (embora seja de desconforto) e ir à procura do desconhecido. Teme-se a solidão e a sensação de abandono. Acredita-se que, um dia, as coisas poderão mudar. Não se sabe bem como, mas talvez mudem.

A verdade - dolorosa, é um facto - é que não existem mudanças mágicas, só porque sim, ou porque um dos parceiros as deseja muito. Para uma relação melhorar e ser sentida como mais gratificante é necessário que ambos o desejem, investindo esforço e dedicação nesse processo de mudança, que pode ser muito lento.

É preciso que ambos consigam remar na mesma direção, rumo a objetivos convergentes, apoiados em valores e crenças integrados. É preciso que ambos queiram, mesmo, chegar a bom porto, juntos.

E isso nem sempre acontece.

Por isso, às vezes, é preciso ter a coragem de nos centrarmos em nós, priorizarmos o nosso bem-estar e as nossas necessidades e seguir um rumo diferente.

Às vezes, é preciso ter a coragem de ir embora.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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