'Vive la République!'

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Realizaram-se no domingo passado (mais) umas eleições decisivas para os democratas europeus. Mais uma vez, a democracia venceu, mas o perigo da extrema-direita não desapareceu.

Macron sobreviveu, mas apenas isso, sobreviveu. Do presidente visionário, do europeísta com rasgos de brilhantismo, que íamos vendo (ou criando?) na Europa, já não há um vislumbre em França.

O seu campo político apenas sobreviveu devido ao republicanismo dos franceses, e à coragem dos partidos mais à esquerda, que não hesitaram em pôr o interesse da democracia à frente dos seus interesses de curto prazo, propondo alianças na segunda volta com o partido de Macron. Com as desistências cruzadas de uns e de outros, a extrema-direita foi relegada para o terceiro lugar na Assembleia Nacional, mesmo tendo crescido substancialmente.

O macronismo parece agora estar a desaparecer, à medida que o centro-esquerda dos socialistas franceses recupera do beijo de morte de Macron a Hollande - que, por ironia, até recuperou o seu assento parlamentar nesta eleição.

Macron “nasceu” ao centro, a partir da fraqueza da esquerda e direita tradicionais, construindo uma coligação com o povo farto do sistema político instalado - povo de que se veio gradualmente a afastar, até porque muita da sua ação política foi de proteção das elites francesas.

Macron definhou porque não conseguiu reerguer a França, nem a Europa, recolocando-a no centro dos destinos da política mundial (a reunião em Moscovo com Putin dias antes da invasão da Ucrânia perdurará na nossa memória coletiva como um erro crasso).

Mas os franceses, nestas eleições, disseram não à extrema-direita. Que não, não passarão! Uma sociedade civil que se envolve na política disse não ao ódio ao que é diferente, sim à diversidade.

Le Pen e o seu herdeiro Bardella viram frustrado o seu desejo de ascender já ao poder. Mas continuarão à espreita, e lutarão pela Presidência da República já nas próximas eleições.

Por isso, aos democratas exige-se a capacidade de construir uma solução de Governo que represente a França republicana e europeísta, sem ambiguidades face aos grandes desafios da História, desde logo a ameaça russa nas nossas fronteiras.

Precisamos de uma França com capacidade de liderança, e não um país bloqueado. Que os progressistas liderem uma coligação alargada em direção a uma França que rejeita os extremismos antidemocráticos e o ódio. Desde logo, que os socialistas franceses, agora revigorados, possam dar sequência ao projeto de mudança das recentes Eleições Europeias.

Começa a jogar-se já agora (outra vez) o futuro da França e muito do futuro da Europa. Domingo foi um dia bom!

8 valores:
Lucília Gago

A entrevista da procuradora-geral da República à RTP foi uma oportunidade perdida. Não admitiu falhas significativas do Ministério Público (MP) e as que admitiu foram imputadas a tudo menos ao MP. Um discurso vazio (o silêncio ensurdecedor sobre as fugas ao segredo de justiça!), que só consolida o seu desligamento da realidade. Não foi um bom serviço à Justiça e à democracia.

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