Quando falamos em vícios pensamos de imediato em substâncias (como o álcool ou as drogas) e, mais recentemente, na adição ao mundo online, com a perturbação de jogo pela internet já reconhecida enquanto tal desde 2013. Curiosamente, não pensamos no sexo como um vício ou dependência..O termo de origem grega ninfomaníaca retrata a esposa ou ninfa que manifesta um desejo sexual muito intenso. Já o termo utilizado para os homens, satiríase, é muito menos conhecido, talvez porque a estes, de alguma forma, o desejo sexual sempre foi reconhecido como expectável, por mais intenso (ou mesmo patológico) que possa ser..Importa distinguir conceitos, na medida em que uma vida sexual intensa e geradora de prazer não deve (nem pode) ser confundida com uma situação de hiperssexualidade ou adição sexual..Falamos em dependência sexual quando estamos perante um padrão de comportamentos sexuais de intensidade e/ou frequência crescentes, de caráter persistente, que podem mesmo interferir com a vida familiar, social e/ou profissional. Este padrão de comportamentos pode envolver, por exemplo, a procura compulsiva de múltiplos parceiros, autoerotismo compulsivo ou o uso compulsivo da internet com finalidade sexual..Nestas situações, o sexo surge como uma compulsão, fruto de um impulso incontrolável que contribui para o alívio de estados emocionais mais desagradáveis, como a tristeza, a ansiedade ou a raiva. E, ao contrário de quem vive uma vida sexual intensa, mas feliz, quem sente esta compulsão para agir em termos sexuais experiencia um profundo sofrimento. Porque é no sexo que procura alívio para as suas dificuldades, tentando preencher sentimentos de vazio e solidão. Após o ato sexual (que, muitas vezes, é realizado com sentimentos de vergonha e, até, em segredo), podem surgir reações mais depressivas..E este ciclo tende depois a repetir-se, com uma fase de aumento de tensão sentida como incontrolável que culmina no comportamento sexual, suscitando, então, algum alívio, a par de sentimentos de culpa e vergonha. Esta dependência surge associada a possíveis riscos, como infeções sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada e um progressivo isolamento social..De onde vem esta perturbação? Quais são as suas causas?.Não existe uma resposta única para estas perguntas, na medida em que a adição sexual pode relacionar-se com distúrbios hormonais, por um lado, mas também com a vivência de experiências sexuais adversas, como ter sido vítima de violência sexual. Não raras vezes, as vitimas de violência sexual evidenciam comportamentos sexuais desajustados e podem mesmo procurar o sexo como uma forma de obter afeto positivo. Não é sexo que procuram, mas sim carinho e atenção..Sentir desejo sexual e ter uma vida sexual ativa e prazerosa é algo muito importante e saudável que não deve ser confundido com uma situação compulsiva que suscita algum tipo de sofrimento psicológico. Nestas situações, quando a sexualidade é vivida com angústia e padecimento, é fundamental procurar ajuda especializada. Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal