Venture Capital: o maior sinal de atraso da Europa em IA

Publicado a: 

As empresas de venture capital, ou capital de risco (VC), têm sido determinantes ao longo das últimas décadas. Apesar de apenas uma pequena minoria das startups conseguir dar o salto para os 10M USD de capital fechado que definem os unicórnios, alguns dos maiores gigantes tecnológicos mundiais: Google, Apple , Amazon ou Facebook por exemplo foram startups.

Por isso, a importância das startups e dos fluxos de VC, o alimento do seu crescimento, é cada vez mais importante no avanço da economia mundial - sobretudo à medida que a intensidade de investimento das empresas em tecnologia é cada vez maior. O que se está a passar hoje? A Pitchbook apresentou recentemente resultados que merecem reflexão.

O contexto das startups e do seu financiamento na Europa

Em 2024 há uma inesperada regressão do investimento de empresas de VC para 20,5bi€, com o valor médio dos negócios a crescer, mas o número de operações a baixar de 11.408 para 9.600. Um sintoma da crescente preferência dos investidores por empresas num estágio mais avançado, já com uma ou duas rondas de capital fechadas, em vez de seed capital ou primeira ronda nas clássicas startups. É interessante notar o crescimento de venture debt, VD ou dívida de risco, bem acima do clássico VC, de 27,3% para 17,2bi€: um sinal claro dos fundos para a redução do risco em detrimento do potencial de retorno a prazo.

Em termos de fontes de investimento, verifica-se um aumento do peso de grandes fundos o que leva a dimensão média na Europa a crescer para 71,3M€, um máximo histórico. Reino Unido, França, a região DACH (Alemanha, Áustria e Suíça) e Espanha lideram em volume de captação de fundos. Por outro lado, 2024 testemunha um aumento das operações de saída via IPO ou desinvestimento puro, o que acaba por ser um sinal positivo para o mercado por materializar a missão dos fundos em saídas com os níveis de retorno previstos na entrada.

O boom da Inteligência Artificial e o impacto em venture capital

Não surpreende que seis dos 10 maiores negócios de VC na Europa em 2024 fossem de empresas de IA - “não se via nada como a ascensão de IA desde a explosão da internet, com toda a indústria de tecnologia hiperfocada numa única categoria” de acordo com o PitchBook. Assiste-se, de facto, a um esforço europeu de investimento VC em IA que atinge 14,6bi€ M€ em 2024, com 25% para empresas de IA, respetivamente no Reino Unido, em França e na Alemanha.

E o que se passa nos EUA?

Segundo a Crunchbase, os negócios VC de IA representaram 37% dos 120bi€ investidos em 2024, com quatro dos 10 maiores negócios envolvendo empresas de IA. O atraso da Europa é evidente: uma economia praticamente da mesma dimensão investe dez vezes menos em IA através de VC face aos EUA.

A exposição que a IA ganhou nos últimos dois anos é avassaladora. Somos diariamente bombardeados por conferências, webtalks ou entrevistas em jornais, revistas e social media. Mas além do hype, a evolução de IA com novas fronteiras, modelos e soluções é um facto incontornável que coloca às empresas e ao público em geral a oportunidade de saltos de conhecimento e produtividade para além da imaginação.

É este território fecundo e enorme que, apesar do espaço já conquistado pelos gigantes NVIDIA, OpenAI ou Palantir, vão continuar a estimular o mundo de VC mais do que qualquer outro. E a Europa tem muito trabalho pela frente para recuperar o seu atraso.

Empresário, gestor e consultor

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt