Vários jornais noticiam que empresas e investidores americanos com ligações próximas a Donald Trump negoceiam a aquisição de ativos e a exploração de recursos naturais na Rússia e na Ucrânia. Após um acordo leonino entre os EUA e a Ucrânia (em abril de 2025), para a exploração conjunta das riquezas minerais da Ucrânia, na cimeira EUA-Rússia (em agosto de 2025 no Alasca), Trump terá discutido acordos energéticos com Putin, quiçá a base para o ponto 14 do recente “plano de paz” de 28 pontos. Entretanto, o negociador-chefe russo, Kirill Dmitriev, declarou “acreditar que os EUA e a Rússia podem cooperar em praticamente tudo no Ártico”. A execução de acordos para exploração energética e de minérios críticos avança de forma acelerada, com a família Trump, seus sócios e financiadores a funcionarem como pontas de lança. O Wall Street Journal (WSJ), citando um responsável europeu da segurança e uma pessoa familiarizada com as negociações, relata que empresários ligados ao Kremlin – Timchenko, Kovalchuk e os Rotenberg – ofereceram a empresários americanos concessões de gás no Mar de Okhotsk, bem como noutros quatro locais. O WSJ menciona também oportunidades de mineração de terras raras perto das enormes minas de níquel de Norilsk e em seis outros locais inexplorados na Sibéria. A Elliott Investment Management, gerida por Paul Singer, doador da campanha de Trump, considera adquirir uma participação num gasoduto que transporta gás natural russo para a Europa. Ainda segundo o WSJ, Gentry Beach – amigo de Donald Trump Jr. e doador da campanha de Trump – tem mantido conversações com a Novatek para a tomada de uma participação de 9,9% no projeto russo “Arctic LNG”. Outro doador de Trump, Stephen Lynch, terá pago este ano 600.000 dólares ao lobista Ches McDowell, um associado de Trump Jr., por serviços visando a obtenção de uma autorização do Tesouro dos EUA para comprar o oleoduto Nord Stream 2 (controlado pela Gazprom), à venda num processo de falência na Suíça. O vice-presidente sénior da Exxon Mobil, Neil Chapman, reuniu-se com o CEO da Rosneft (outro gigante energético controlado pelo Kremlin), Igor Sechin, no Qatar, para discutir o possível regresso da Exxon a um grande projeto de exploração de gás na ilha Sacalina. Além disso, a Exxon, o bilionário Todd Boehly e investidores dos EAU propuseram adquirir ativos internacionais pertencentes à Lukoil. Esta promiscuidade entre geopolítica e negócios para a família, os sócios ou financiadores de Trump é já uma marca de água da administração norte-americana mais corrupta de que há memória. A funcionalização do poder presidencial para obter negócios para a família, sócios e financiadores – já vista na proteção às criptomoedas, na monetização do acesso ao presidente, nas indulgências para indultos presidenciais, na desregulação de AI – precisa de ter linhas vermelhas. Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira