Ursula também é MAGA? 

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Sob a consigna “Make America Great Again” (MAGA), a administração de Donald Trump está a utilizar todos os meios que tem à sua disposição para manter o domínio hegemónico dos EUA à escala global. A política comercial, incluindo a ameaça de aplicação de taxas alfandegárias, é um desses meios e a agressividade com que tem sido utilizada é reveladora da natureza da política de Trump e do desespero para alcançar os seus objectivos.  

A atitude de submissão e subserviência da União Europeia aos Estados Unidos da América não é um elemento novo nem surpreende ninguém. Mas as consequências dessa atitude no actual contexto tornam-se ainda mais negativas para os povos europeus, incluindo para o povo português. 

O acordo EUA/UE, acabado de assinar por Donald Trump e Ursula von der Leyen, comprova isso mesmo. E o que resulta daquele acordo é esmagadoramente evidente. 

Taxas alfandegárias de 15% (no mínimo) sobre os produtos europeus. 0% de taxas sobre os produtos americanos importados para a UE. Compromisso de investimento europeu nos EUA no valor de 500 mil milhões de euros. Compra de 750 milhões de euros de gás aos EUA a preços que, já hoje, são ruinosos para as economias dos países da UE. Compras avultadas de armamento aos EUA pela UE. 

Vários responsáveis de governos de países da UE, incluindo a Alemanha e Itália, quiseram celebrar a assinatura do acordo. O melhor que dele conseguiram dizer foi que garante a estabilidade das relações comerciais. 

Outros, como o insuspeito governo francês, estão mais desconfiados da bondade do acordo Trump/Von der Leyen e assinalam vários elementos de preocupação, apontando a necessidade de conhecer em detalhe aquilo que foi assinado. 

O governo português, como já é habitual, insere-se no primeiro grupo, o dos governos que celebram, seja por seguidismo, seja por subserviência, seja por ambas as motivações. Mesmo perante o risco e a incerteza do que acontecerá com os produtos portugueses que têm no mercado norte-americano um importante destino de exportação, como vinhos, cortiça, medicamentos, combustíveis, papel e alguma maquinaria. 

Em vez de tecer loas ao acordo que Ursula von der Leyen celebrou, de espinha dobrada, com Donald Trump, mais valia que o governo português tivesse reconhecido a necessidade de recuperar a competência nacional em matéria de política comercial. 

A entrega à União Europeia da competência pela política comercial retira ao nosso país a capacidade de utilização desse instrumento de defesa da economia nacional e das condições para o nosso desenvolvimento. 

Portugal precisa de recuperar a capacidade de decidir a sua política comercial. Precisa de uma política que tenha como referências o desenvolvimento, a soberania e a independência nacionais, num quadro de cooperação com outros países. Precisa de uma política de defesa dos sectores produtivos nacionais e diversifique as relações comerciais, que substitua importações por produção nacional, que valorize o mercado interno, que recupere o controlo público de sectores estratégicos. 

Eurodeputado

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