Uma Guiné-Bissau em transe e uma CEDEAO em fim de ciclo!

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As declarações de Ramos-Horta na semana passada à Lusa, a propósito do golpe na Guiné-Bissau (GB), provocaram sobressalto na “junta militar” que agora governa o país, porque sabem que o Prémio Nobel da Paz 1996, quando em janeiro de 2013, se apresentou em Bissau, enquanto Enviado Especial das Nações Unidas (ONU), na sequência do golpe de abril de 2012, foi associado a um desejo da população, cansada de golpes, o de que se iniciaria nesse início de 2013 um “governo de transição da comunidade internacional, liderado pelo alto representante da ONU”, que na altura confrontaria o Almirante António Indjai. Assim não foi, mas o ex-Presidente timorense mantém a aura de estadista confiável junto do povo. É isto que incomoda o Presidente Interino!

Ramos-Horta, na sua análise aos últimos 50 anos da GB, também deixa implícito que a mágoa dos bissau-guineenses é ainda não terem conseguido provar do que são capazes. Este caldo, alimenta nas populações o óbvio, que a “comunidade internacional”, sempre referida em tom de salvação, sabe do que se passa, porque nesta África não há segredos, são todos primos ou cunhados! Acrescentar ainda que também acreditam na alquimia dos portugueses, já que sabem quem é quem, desde o “Portugal, por ti, Eu juro”!

Ainda relativamente ao golpe de 26 de novembro, notar que a postura da CEDEAO, quanto à tentativa de golpe no Benim, de 7 de dezembro, esteve nos antípodas da postura duas semanas antes, aquando do golpe na GB. Aliás, no Benim saldou-se em intentona, porque o telefone vermelho da CEDEAO funcionou e a Nigéria accionou a Força Aérea. Porquê?

Porque é preciso garantir que Mali, Níger, Burquina e Afrika Corps, os ex-Wagner, não tenham acesso ao mar. Depois a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental, precisa de dar provas de força e de união, para a inevitável reforma que 2026 trará. O Senegal, uma das “paredes do Atlântico” para o Mali, ex-CEDEAO, deu sinal importante do seu posicionamento, no Dubai Airshow de novembro, ao fechar negócio com a americana Boeing. A proximidade Benim/Nigéria, deu vantagem importante aos últimos, já que a reforma também terá que contar com barganha entre senegaleses e nigerianos, num reflexo antagónico entre francofonia e anglofonia. A este propósito, relembrar que o golpe de abril de 2012, foi largamente cozinhado pela Nigéria, incomodada com a presença de tropas angolanas em Bissau, no técnico-militar da reconstrução de quartéis, adaptação de cozinhas e até menus. A reforma, a partir de baixo, feita pela lusofonia!

Só desta forma, a França poderá regressar à África Ocidental e ao Sahel!

Politólogo/arabistawww.maghreb-machrek.pt. Escreve de acordo com a antiga ortografia

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