Uma Europa melhor sem Ângela Merkel

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Enquanto Hitler tentava dominar pela força, Merkel procurou supremacia com o dinheiro. Os meios eram diferentes, mas os fins mostravam-se iguais - as tentações hegemónicas da Alemanha, a quem chamam a locomotiva da Europa.

Na hora de nos deixar, Merkel não me deixa saudades. A mim e a todos que ainda acreditam na pureza do ideal europeu, muito desvirtuado pela política expansionista da chanceler alemã.

As ingerências de Merkel nos outros países europeus, nomeadamente nos do Sul e nos Orçamentos destes, foram totalmente inadmissíveis. Foi uma falsa amiga de Portugal, em nítido contraste com o auxílio desinteressado de Willy Brandt e Helmut Schmidt, nos primórdios da nossa democracia.

O negócio dos juros deve ter enriquecido ainda mais a Alemanha, rendendo bastante, tal como as suas exportações de Mercedes, Audis e do consagrado Volkswagen, que produzem 4O mil por ano!

Merkel pensou muito na Alemanha, de mais até, e pouco na Europa. Saudade, sim, deixou-me o grego Alex Tsypras, ao opôr-se com coragem aos desígnios expansionistas da chanceler, quando a grande maioria dos outros países estavam de cócoras.

Portugal foi também excepção, pois a política de António Costa situou-se nos antípodas da austeridade alemã. O nosso país, depois de Passos Coelho, disse não aos alemães e com firmeza.

Merkel seria ainda responsável, não só pelo recrudescimento da extrema-direita, como também pelo Brexit, ao gerar sentimentos anti-europeus nos ingleses. A chanceler alemã deixa, em minha opinião, a Europa de rastos, apesar de todos os esforços na nova presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, um nome a reter.

Sem Merkel, a Europa poderá ser mais unida, democrata e solidária, cumprindo o ideal do seu fundador, Jean Monet. O Velho Continente, que poderá beneficiar da mudança de liderança nos EUA, deverá ser sempre a alternativa à hegemonia das superpotências. A Alemanha terá também de respeitar o direito irrecusável dos outros povos à sua soberania. É o que se espera do sucessor de Merkel, seja quem for.

Se me permitem a imagem, a locomotiva da Europa deve parar em todas as estações, mas sem interesses ocultos ou mesmo confessos. Todos os europeus ganharão com isso, a começar pelos portugueses, cujo desempenho actual da presidência da União Europeia só nos honra.

Escreve pela norma anterior ao Acordo Ortográfico

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