Todo o sistema está perfeitamente concebido para produzir os resultados que produz. Donald M. Berwick, médico pediatra, professor na Harvard Medical School e líder de qualidade e segurança na saúde (n. 1946) Todos os anos, nos meses frios, somos confrontados com a vinda da gripe. Anualmente, 20 a 30% das crianças e cerca de 10% dos adultos são infetados, perfazendo mil milhões de casos no mundo, dos quais 3 a 5 milhões evoluem para doença grave, com até 650 000 óbitos por doença respiratória. A vacinação é a medida mais eficaz para prevenir a gripe e as suas complicações. Devido às mutações frequentes do vírus influenza, as vacinas são atualizadas anualmente. Importamos todas as vacinas administradas, cerca de 2,5 milhões, com taxas de cobertura vacinal acima da média europeia, mas todos os anos assistimos a uma disrupção significativa na vida das pessoas e no funcionamento da comunidade. Se não há inverno sem gripe e se o impacto é previsível e recorrente, torna‑se inevitável repensar a estratégia, introduzindo novas medidas. A primeira medida passa por duplicar ou triplicar a cobertura vacinal, aumentando o número de vacinados de 2,5 milhões para, pelo menos, 5 milhões, e comparticipar todas as vacinas disponíveis, garantindo maiores reservas nas farmácias. A vacina da gripe é eficaz a partir dos 6 meses de idade, a vacinação das crianças protege‑as diretamente e contribui para reduzir a circulação e a transmissão do vírus. Assim, a inclusão no Plano Nacional de Vacinação e o alargamento às idades escolares devem constituir uma prioridade. Nos adultos, impõe‑se a implementação da estratégia 95‑95‑95, que consiste em vacinar 95% das pessoas com 65 ou mais anos, 95% das pessoas com doenças crónicas e 95% dos médicos e outros profissionais de saúde. As vacinas mais potentes devem ser priorizadas nas pessoas com idade igual ou superior a 65 anos. Na presença de queixas respiratórias, deve garantir‑se a adesão total às medidas de etiqueta respiratória, incluindo o uso de máscara, e a higiene das mãos. Devemos ponderar a realização de fins de semana dedicados à imunização. A vacinação dos médicos e de outros profissionais de saúde deve ser incentivada, facilitada e monitorizada, uma vez que estes profissionais são simultaneamente vítimas da doença, potenciais vetores de transmissão e exemplos de comportamento. A atribuição de um dia adicional de férias aos profissionais vacinados poderá constituir um incentivo eficaz. Outras medidas igualmente relevantes incluem a utilização atempada de antivirais específicos, sobretudo nos não vacinados com fatores de risco e em todos os doentes internados, bem como o rastreio das águas residuais, de modo a antecipar a evolução epidemiológica. Em conclusão, se insistirmos no mesmo, dificilmente obteremos resultados diferentes. Doutorado em Saúde Pública e membro do Conselho Nacional de Saúde Pública